O que aprender com a filosofia do tai chi chuan
A arte marcial chinesa, reconhecida como uma meditação em movimento, ensina equilíbrio e adaptabilidade
A arte marcial chinesa, reconhecida como uma meditação em movimento, ensina equilíbrio e adaptabilidade
Por anos observei com muita curiosidade pessoas ao ar livre se movimentando lentamente em harmonia até me tornar uma delas. Não sou de indicar nada sem ter experimentado, e posso dizer, com sinceridade, que inúmeras vezes o tai chi chuan salvou o meu dia.
Na correria e batalha constante com a mente, a arte marcial é uma pausa ao caos para colocar o praticante em uma posição de percepção e bem estar. Para quem não está interessado em se exercitar, a filosofia tem aplicabilidades fascinantes que podem beneficiar qualquer um.
Diferente da meditação ou da yoga, o tai chi chuan tem uma conotação marcial – o que pressupõe uma estratégia. Normalmente, quando somos atacados, por instinto revidamos impulsivamente com agressividade. Como você reage aos problemas? Geralmente eles vem em yang e, ao reagirmos com força, estamos respondendo da mesma maneira (yang).
A filosofia chinesa acredita que você tem que ter um tempo para refletir, o que significa ter uma atitude ying – de ceder e se pergunta como se adaptar a situação. Ying-Yang O tai chi chuan confia no seguinte: o cosmos, o universo, a seguem a dança do ying-yang. Essa pulsação entre eles é eterna no campo físico, energético e espiritual.
Equilíbrio
Como a filosofia chinesa entende tudo como energia, é possível compreender que o cosmos e o corpo de cada um é um pequeno tai chi chuan, pois a arte marcial propõe unir os dois. As posições de expansão (yang) e recolhimento (ying) ajudam a criar um ponto interno fiel intensamente e flexível externamente, transformando as situações e o mundo a volta a seu favor.
Tudo isso cria uma base energética, uma pulsação equilibrada entre as duas forças. Pelo mesmo motivo, o universo é um grande tai chi chuan, assim como o corpo de cada um, por fazer parte dessa dança entre os dois.
De forma similar, a arte chinesa tem a regra do 70%, que deve ser aplicada na execução das formas. Expande-se o corpo como uma bola, de forma flexível, em até 70%, recolhendo no mesmo limite.
Para quem conhece a simbologia ying-yang, sabe que os dois vão sempre se alternando, mas nunca se pode ser ying sem um pouco de yang e vice-versa. O que podemos tirar da regra para a vida é não ter um desgaste de energia ou esforço superior a isso.
Quantas vezes você deu 120% de si mesmo em uma atividade e terminou exausto física, emocional e energeticamente?
Surfe psicológico
O conceito de expandir e recolher nas posturas é um ensinamento para conseguir experienciar essa pulsação de “abrir e fechar” da vida, ser capaz de criar uma estratégia energética para saber lidar com as situações. O entendimento que a pulsação do expandir e o recolher acontece fora e dentro do corpo faz com que as pessoas possam, então, surfar na realidade, vivencia-la com menos resistência e mais adaptabilidade.
Estevam Ribeiro, professor dos estilos tradicionais de Chen e Yang, entende o tai chi chuan como um surf psicológico. “Você vive a vida aproveitando as ondas”, diz. Não quer dizer que é para aceitar o que não está de acordo, e sim não ser massacrado. Assim é possível liberar as amarras.
A divisão entre a pessoa e o que está a volta é uma ilusão da mente. Fazemos parte de um todo. Nesses termos, para a medicina chinesa, saúde é o fluir energético e a doença seu bloqueio. A própria física quântica também já mostrou que tudo é energia.
O segredo é a adequação a situação, não lutar contra ela para poder vivenciar plenamente e fazer aquilo que é possível dentro da realidade. É como o surfista que ajusta de acordo com a onda, ele segue seu ritmo, sem forçar. Da mesma forma, o yoga impulsiona sair do estado da negação para elevar-se a um entendimento e percepção pura.
Liberdade
A ansiedade gera uma série de desconforto, físicos e psicológicos. Antes da pandemia, o maior inimigo era o estresse do dia-a-dia, agora é a repressão da liberdade de ir e vir.
O tai chi chuan, a arte do ying e yang, é um ótimo instrumento para lidar com as suas limitações. A pior estratégia é querer ignorar o limite, todos temos de uma maneira ou de outra, mesmo que a noção de liberdade de muitas pessoas é não ter um.
No entendimento da filosofia da China, a liberdade é a compreensão plena deles, até onde se pode ir. Portanto, essa é a liberdade de cada um. Os chineses creem que ao dormir, o mundo se desfaz. Pela manhã, ao despertar, a pessoa tem que reconstruir o mundo, a mente vai através da memória, do diálogo interno para fazer isso.
Todos os dias ganhamos uma nova esperança, uma nova chance de recomeçar e fazer melhor com o que temos internamente. Porque é a sua liberdade de escolha. Que atitude você terá amanhã ao abrir os olhos?