Tudo ao mesmo tempo agora
Aprender a ouvir e a trocar experiências é essencial para nos transformarmos e ao mundo ao redor; não há tempo a perder, precisamos de todos no convés
Aprender a ouvir e a trocar experiências é essencial para nos transformarmos e ao mundo ao redor
Seus olhos se aproximam lentamente, suas mãos seguram firmes meus braços. Retribuo o toque respeitoso. Sinto o calor de seu nariz, que se aproxima do meu. Cerramos os olhos e nossas sobrancelhas se encontram. Compartilhamos uma respiração. Mais outra. Em silêncio apresentamos nossas ancestralidades.
O hongi é a saudação mais profunda que já experimentei. Uma das tantas tradições maori que me tocam a alma. Quando meus olhos se abrem estão cheios d’água. E só consigo dizer à matriarca que acolhe: “Obrigado, Whaia”. Ela me responde com um sorriso repleto de carinho e me chama de Ruka. Ao meu olhar de incompreensão ela repete. Acabo de ganhar um nome: Ruka é aquele que ajuda as pessoas a mergulhar no desconhecido.
A despedida encerra o encontro do primeiro grupo da Edmund Hillary Fellowship, uma iniciativa que vai trazer 400 empreendedores sociais para a Nova Zelândia, nos próximos quatro anos. A ideia é prototipar soluções para os problemas planetários a partir dessa pequena ilha.
Os nossos desafios
Poucas semanas antes participei do Fórum Mundial de Empreendedores Sociais (SEWF), em Christchurch, com gente de 28 países para pensar soluções sistêmicas para os desafios atuais. Ali conheci Reggie Ludtke, um americano que desenvolve um modelo para garantir cidadania para rios e outros corpos naturais. Uma iniciativa que permite às empresas retribuir o valor que recebem da natureza. O Rio Whanganui, na Nova Zelândia, já tem cidadania e o Rio Colorado, nos EUA, está na Justiça para conquistar seus direitos de se regenerar e florescer.
Cada um desses encontros cura não apenas o planeta mas cada um de nós. Reggie, por exemplo, me ensinou uma prática que fez minha meditação dar um salto. Depois que me concentro, durante a prática, deixo a atenção passar para observar os pensamentos que seguem por minha mente. A intenção de não me prender a eles está lá, os observo sem focar em um deles, mas sim no espaço vazio entre um e outro. A questão é que, invariavelmente, me traio e acabo me prendendo. Reggie me ensinou, então, a tomar pensamentos como crianças que se aproximam, a abraçá-los com amor até que naturalmente decidam ir. A beleza da prática é a familiaridade, porque sei como abraçar uma criança, sem qualquer processo mental. O paralelo que combina uma prática de compaixão à meditação turbinou minhas manhãs.
Os desafios de nosso tempo não são lineares, estão entremeados ao longo de um sistema complexo, e temos de endereçá-los todos ao mesmo tempo, agora. Não há tempo a perder, precisamos de todos no convés, o desafio é aprendermos a ouvir uns aos outros e coordenar toda essa colaboração.
Lucas Tauil de Freitas é parte da rede Enspiral, onde aprende a ouvir e a tecer ações de colaboração.
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