Uma vida amorosa saudável, equilibrada e com momentos de partilha que estimulam o bem-estar pode beneficiar a saúde bem mais do que costumamos imaginar. Esses são os resultado de décadas de pesquisa da neurocientista social Stephanie Cacioppo. Professora no Departamento de Psicologia da Universidade de Chicago, a pesquisadora define o amor como “uma necessidade biológica”. E ele é realmente capaz de fazer profundas e importantes mudanças na nossa vida.
“Minha pesquisa sobre o cérebro humano me convenceu que uma vida amorosa saudável é tão essencial a uma pessoa quanto uma alimentação nutritiva, exercícios ou água limpa”, explica a autora no livro Programados para Amar*, publicado no Brasil pela Rocco. Segundo seus estudos, a evolução humana possibilitou com que os cérebros humanos pudessem construir e se beneficiar de relacionamentos afetivos duradouros.
Ela, que se se considera uma romântica incurável, mescla suas descobertas científicas com a relação amorosa nutrida pelo também neurocientista John Cacioppo. “Minha pesquisa comprovou que não apenas somos programados para amar, mas que sem o amor não conseguimos alcançar todo o potencial que temos como seres humano“, destaca na obra.
Como nosso corpo reage ao amor?
O corpo é formado por um complexo conjunto de órgãos, células, hormônios e uma infinidades de outros elementos. Quando estamos apaixonados ou o sentimento de amor aflora sobre algo ou alguém, toda essa estrutura se movimenta e altera a forma como sentimos e vivenciamos as experiências afetivas. “Para a gente entender essa relação, precisamos pensar na dinâmica da paixão”, explica o psiquiatra Alexandre Valverde.
Para o especialista, é a tensão entre a aproximação e afastamento do parceiro que vai determinar a forma como o corpo reage a esses estímulos. “Isso é importante porque determina como os hormônios são liberados”, afirma. Por isso, é comum que, ao ter contato com a pessoa amada, exista um frio na barriga ou sensações de alegria e satisfação.
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Conheça os hormônios mais comuns ligados ao amor
- Serotonina: neurotransmissor que desempenha um papel vital na regulação do humor, sono e apetite. Ele influencia uma variedade de funções corporais e emocionais, incluindo o equilíbrio emocional, a sensação de bem-estar e a resposta ao estresse.
- Dopamina: frequentemente chamado de “hormônio do prazer”, ela está envolvida na regulação do sistema de recompensa do cérebro, influenciando a motivação, aprendizado e comportamentos de busca de recompensas.
- Feniletilamina (PEA): composto químico que pode induzir sentimentos de euforia, energia e excitação. É associada a momentos de paixão e atração romântica, contribuindo para a intensificação das emoções em certas situações.
- Ocitocina: chamada de “hormônio do amor”, devido ao seu papel na promoção de vínculos sociais e afetivos, é liberada durante atividades como o parto e a amamentação, facilitando o parto e estimulando a liberação do leite materno.
Quando um relacionamento amoroso já está em uma maior fase de amadurecimento, é comum que essas alterações hormonais não sejam tão bruscas. “Ficamos menos reféns dessa relação entre aproximação e afastamento. Há uma liberação de serotonina e dopamina mais constante“, destaca Alexandre Valverde. O psiquiatra explica ainda que há uma série de comportamentos associados à liberação dos hormônios, como relaxamento muscular, dilatação da pupila, aumento da frequência cardíaca e maior excitação sexual.
O amor é capaz de “machucar”
Nem só bons momentos e emoções prazerosas o amor pode proporcionar. O término de um relacionamento, por exemplo, traz sofrimento e um período longo de recuperação. “A dor social que se segue a uma separação complicada é capaz de ativar algumas das mesmas regiões cerebrais, como o córtex cingulado anterior, que respondem à dor física”, explica Stephanie Cacioppo. Períodos longos de solidão podem ter efeitos no cérebro, como a redução da massa cinzenta e branca.
No entanto, para a pesquisadora, há mudanças profundas e fantásticas no cérebro quando vivenciamos o amor. Segundo Cacioppo, a paixão desencadeia o chamado cérebro emocional, que compreende partes primitivas do sistema límbico e ativa o sistema de “recompensa”. Além disso, há uma impacto também em partes mais sofisticadas do cérebro como áreas fusiformes e o giro angular. Este último é recente na evolução humana e está relacionado com a intuição, criatividade, memória autobiográfica e linguagem complexa.
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O coração também “pensa”
Já é tempo de superar a dualidade entre cérebro, coração e as teorias de que o primeiro estaria associado à razão e o último à emoção. Isso porque o coração possui um sistema nervoso intrínseco que é capaz de enviar estímulos a outras partes do corpo. “O corpo e a mente estão interconectados de maneiras complexas, e essa separação entre eles é cada vez mais aceita como imprecisa”, explica o médico cardiologista Dr. Heron Rached.
Além disso, ele destaca que em momentos de estresse, ansiedade ou euforia, o cérebro e o coração trocam informações entre si por meio do chamado sistema nervoso autônomo. “Em situações de estresse, o coração pode acelerar seus batimentos (taquicardia) devido à ativação do sistema nervoso simpático. Em estados mais relaxados, como durante momentos de felicidade, o sistema parassimpático pode predominar para auxiliar a desacelerar os batimentos cardíacos”, completa.
Para Heron Rached, o coração não é um “pensador” em sentido tradicional, mas sua comunicação com o cérebro é capaz de desempenhar um papel de regulação das emoções. “A compreensão de que o coração possui seu próprio sistema nervoso e pode influenciar o sistema nervoso central abre portas para novas abordagens na gestão do estresse, das emoções e até mesmo da saúde mental.”
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