Essência
O envelhecer pode nos trazer a sabedoria necessária para tomar decisões com maior equilíbrio e discernimento.
Uma mensagem chega pelo WhatsApp. No grupo dos antigos colegas de escola, alguém replica uma postagem rasa sobre política, expressando uma opinião de que não compartilho. Não penso duas vezes: aciono a opção “sair do grupo” e continuo meu dia, sem um segundo de raiva ou rancor.
Em outros tempos, eu investiria numa inflamada discussão. Hoje, escolho a alternativa menos barulhenta. Não tenho a pretensão de mudar a opinião do meu colega, nem energia para acompanhar os eventuais desdobramentos de sua mensagem.
O episódio denota a minha idade. Fiz 48. Não que eu esteja ranzinza ou desanimada. Estou é mais prática. Finalmente sei escolher as batalhas que valem a pena. Outro colega me chama diretamente e pede que eu reconsidere minha saída do grupo. Ouve meus argumentos e não insiste. Ele também está à beira dos 50. Trocamos ideias sobre política, confrontamos respeitosamente nossos pontos de vista, sem esboçar uma ruga de contrariedade. Amadurecemos. E amadurecer, no bom sentido da palavra, é saber escolher. Uma espécie de aprimoramento da capacidade de discernir as coisas e, por que não, de certa flexibilidade para mudar de opinião. Acontece que já vivi o suficiente para reconhecer quando é o caso.
O sol se põe, enquanto em cima da mesa resta uma luminosa lista de tarefas não cumpridas. O sono embaça a vista e amolece a urgência das coisas. As questões que me ocuparam a cabeça ao longo do dia estão menores agora. Amanhã penso nisso. O sono é uma boa metáfora dessa habilidade de desconstruir dramas no dia a dia. Inebriados por ele, somos capazes de apontar o que é de fato importante. O agora é a única urgência. Também aprendo com ele a suavidade das transições. Não preciso abandonar o que fui para ter orgulho do que vou me tornar.
A idade me ensina a colocar os problemas para dormir. Quantas vezes me debati em insistentes tentativas de mudar o outro? Agora, na quietude do corpo que adormece, a consciência finalmente desperta. Importante é transformar a mim mesma. Envelhecer é o melhor que já me aconteceu.
CRIS GUERRA acaba de lançar Procurava o Amor em Jardins de Cactos. Escritora, apaixonada por moda, acha que até as palavras servem para vestir.
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