Recupere sua força
Levar alguns tombos faz parte da vida. Mas é quando dividimos as dificuldades desse período que é possível nos reerguer com mais avidez e coragem.
Tarde de sábado. Você está esparramado no sofá, ainda de pijama, com um balde de pipoca e assistindo ao mesmo filme pela enésima vez, apesar do dia ensolarado e do convite para encontrar os amigos. É que a vida lá fora parece seguir um ritmo dissonante do seu. Além disso, você está machucado, frustrado, sem coragem e se sentindo um fracasso. Os motivos que o levaram para esse lugar podem ser variados: o fim de um relacionamento (longo, intenso ou que deveria ser “para sempre”); uma demissão ou aquela promoção que não aconteceu; a aposta no próprio negócio que ruiu e onde você havia apostado todas as fichas; ou a sua decisão errada que afetou uma porção de gente.
Quedas e tombos
Levar um tremendo tombo, cair com a cara no chão e não saber como se reerguer acontece com todo mundo, mesmo! Mas como encontrar forças para se levantar? Pois é, esse é o problema. Não sabemos ou tentamos nos levantar de maneira tão brusca que a próxima queda pode vir logo em seguida. Entender como é possível seguir em frente depois de um tombo da vida foi o mote do último livro da pesquisadora americana Brené Brown – e que chegou há pouco mais de um mês por aqui.
Em Mais Forte do que Nunca (Sextante), Brené vai até o chão e conversa de igual para igual. “Estou aprendendo que o processo de lidar com a dor e superá-la tem tanto a nos oferecer quanto o de agir com coragem. É na hora de recuperar a estabilidade emocional em meio às dificuldades que nossa coragem é testada e nossos valores são forjados. Dar a volta por cima depois de uma queda é a maneira de cultivar uma vida plena, além de ser o processo que mais ensina sobre nós mesmos”, escreve nas primeiras páginas e já adiantando muito do que o livro traz. Ela mesma, inclusive, conta algumas de suas quedas, o que sentiu em cada uma delas e como conseguiu sair da situação colecionando bons aprendizados – e essa abertura para expor seus fracassos, por si só, já é linda.
Vamos falar sobre isso?
Brené Brown dedicou mais de dez anos de sua carreira para pesquisar, pela Universidade de Houston (EUA), a vulnerabilidade ou por que fugimos de emoções como medo, mágoa, decepção. Ela se tornou mundialmente conhecida depois que falou sobre isso no TEDxHouston, conferência que tem como objetivo disseminar boas ideias, em 2010. A palestra já foi assistida por mais de 25 milhões de pessoas e está entre os maiores sucessos do TED. Seu último livro, Mais Forte do que Nunca, é um desdobramento dessa ampla pesquisa sobre a vulnerabilidade.
Nele, ela esmiúça nossos tombos e, já nas primeiras linhas, revela algo que faz muito sentido: não sabemos como lidar com nossos fracassos porque não falamos sobre isso. Por exemplo, quando lemos ou tomamos conhecimento de histórias de superação, em geral, ficamos com a impressão de que todo mundo cai, mas sempre se levanta num passe de mágica. É a história de alguém que emagreceu muitos quilos, com imagens do “antes” (uma foto no seu pior ângulo) e “depois” (feliz e bem-vestido). Mas ninguém sabe como foram os dias em que aquela pessoa quis colocar tudo a perder; como se sentiu solitária em meio ao desânimo ou onde buscou energia para seguir em frente com as mudanças na alimentação, seu esteio emocional, e no estilo de vida.
Não estamos imune
Trazendo isso para mais perto, sabe aquele seu amigo que era diretor de uma multinacional e foi demitido? Pior, depois de meses de incerteza, ele conseguiu um novo emprego, só que em um cargo e com um salário menor (mas a gente não deveria sempre andar para a frente?). Certamente nem você – nem ninguém – conversou com ele. Como sobreviveu à incerteza? E o que está sentindo agora: frustração, mágoa? Ninguém sugere algo como: “Quer conversar sobre isso? Estou aqui para ouvi-lo…” Provavelmente, nem o amigo nem você vão se sentir à vontade com esse diálogo.
Ninguém está imune ao fracasso, a cair com a cara no chão da vida e machucar dolorosamente a alma. Todo mundo pode passar por isso – incluindo eu e você – muitas e muitas vezes ao longo da jornada. A questão é que existe uma diferença enorme entre aprender com esse momento e sair dele mais forte ou fingir que o tombo não doeu e passar o resto dos dias usando curativos para estancar o sangramento (somos craques em camuflar a dor).
Aceitação
“Nada é perfeito, mas é possível usar nossas inevitáveis falhas para inspirar a inovação.” É isso o que acredita a canadense Ashley Good, que criou uma organização chamada, veja só, Fail Forward (Fracasse para a Frente, em tradução livre). O trabalho de Ashley é ajudar pessoas e empresas a expor seus fracassos.
Segundo ela, é através dessa aceitação – sim, nós falhamos, erramos, nos demos mal em relação às nossas escolhas – que vamos conseguir sair de tudo isso mais fortes. No caso das empresas, é uma forma de chegar à almejada inovação. Ashley percebeu, na prática, que, quando um líder assume seus erros, em vez da temida chacota, recebe em troca uma equipe mais próxima que percebe ali não um chefe infalível, mas uma pessoa como eu e você. E isso muda tudo. Ashley ajudou a fundar um site bem interessante, o AdmittingFailure.com (admita seu fracasso), no qual é possível compartilhar casos de insucesso e as lições tiradas de cada um deles.
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