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Depois daquele caminho
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Como tem sido viajar a pé, ao lado de mulheres extraordinárias, levando pouca bagagem e muita fé

Nossa história de viajar a pé comçou com um tal Caminho de Santiago de  Compostela – muita gente estava falando dele. Era pra ser só uma andança em outro país, mas virou uma jornada para além de tudo o que sabíamos a respeito do mundo e de nós mesmas. Éramos eu, minha mãe, tia e algumas amigas delas.

Do interior da Espanha, nós nos pusemos a andar. A chegada a Compostela não foi um fim. Nos anos seguintes cruzaríamos a Estrada Real (MG) e os Caminhos da Fé (SP), das Missões (RS), do Sol (SP), do Vale Europeu (SC).

Compasso e atitude de busca foram definindo: não éramos só caminhantes, mas peregrinas. O peregrino pode até buscar algo no final do trajeto: um santo, um oráculo, um templo. Mas é durante o caminho, quando retoma prazeres simples e encara limitações e monstros, que ele se transforma.

Como quando dos deparamos com a delícia de um raro banho quente mesmo sendo um fio d’água com a arrogância do caminhante experiente que despreza nosso ritmo, com a perda material.

É no caminho, com suas dificuldades e prazeres, que o peregrino se transforma

É durante o caminho que se faz importante a ação do terceiro olho, aquele que tudo vê. Refiro-me ao cajado – aquele que reconhece o solo, apoia, alcança as frutas no pé e ampara em quedas, tropeços e assédios.

A cadência do peregrino se faz mantra expandindo a consciência e tornando-nos mais capazes de enfrentar as cricunstâncias.  Ele revela como somos ambíguos: de um lado, a grande força ao superar restrições físicas, mágoas; do outro, a fragilidade humana quando falhamos em abandonar apegos.

Quando realizei o sono de escrever sobre essas e outras viagens, uma de nós, Maria Auxiliadora, partiu para sempre. Será que de outro lugar ela me lê? Aqui continuamos caminhando. Foi o combinado.


JULIANA REIS é uma viajante em busca de histórias, pessoas, lugares e experiências que a modifiquem. @viagenstransformadoras

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