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A busca de nossas raízes
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Aprender e entender nossa língua original é também resgatar nossa história e um pedaço da gente mesmo

Mais que um meio de comunicação, uma língua é uma forma de ver o mundo. Hoje temos 6 mil línguas, mas metade delas não está sendo ensinada para as crianças. De acordo com o antropólogo americano Wade Davis, nesta geração perdemos metade da diversidade cultural humana. Um desastre.

A expansão colonial do século 16 ganhou corpo nos últimos 500 anos e teceu estratégias claras para eliminar culturas nativas. Na Nova Zelândia, um aluno maori que tentasse falar sua língua de origem na escola era punido severamente. Na América Latina, a história não foi diferente. Quantos não nativos aprendem guarani ou ianomami? Essa política criou uma geração de órfãos culturais, sem identidade ou autoestima. A fragmentação criada ecoa em nossa sociedade e família, marcadas pela falta de confiança, medo e violência.

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Uma renascença, entretanto, começou nos povos polinésios, na década de 1970, com a viagem da Hōkūle’a. Sob o comando do micronésio Mau Piualug, a canoa a vela navegou do Havaí ao Taiti sem instrumentos ou cartas náuticas, apenas com as técnicas tradicionais de navegação intuitiva da Polinésia, descritas no livro The Wayfinders: Why Ancient Wisdom Matters in the Modern World (Os Buscadores de Caminho: Por Que a Sabedoria Antiga Importa no Mundo Moderno, em tradução livre), de Wade Davis.

Hospitalidade e a palavra manakitanga

Na Nova Zelândia, atualmente, uma geração de órfãos culturais reaprende a língua e as tradições. Há uma rádio e uma estação de TV que transmitem em língua nativa e existe um grande movimento de mitigação dos danos coloniais. Acordos jurídicos de reparação já transferiram o equivalente a R$ 5,5 bilhões da coroa britânica para o povo maori. Um exemplo da sabedoria que vai embebida em uma língua é a palavra maori “manakitanga”, que descreve e implica dois conceitos. Por um lado representa a extrema hospitalidade: você vai ser recebido como uma rainha ou rei. E, ainda, traz o significado de reconhecimento dessa hospitalidade, na qual você vai bradar aos quatro ventos que sua anfitriã é a mais generosa de todas.

Outro exemplo está nas palavras que descrevem irmã mais velha e mais nova: “tuakana” e “tēina”. O conceito não se aplica apenas a idade, mas é usado para reconhecer a sabedoria de alguém independentemente de quantos anos tem.

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Há algumas semanas, um amigo mais novo me ensinou que, quando nos sentamos para negociar, a outra pessoa imediatamente percebe e repele o que buscamos. Seguiu a me explicar que isso também é verdade para a vida em geral: quando buscamos algo com intensidade, o efeito costuma ser o oposto e o que almejamos nos escapa. Para reconhecer meu agradecimento o chamei de irmão mais velho: tuakana.

Lucas Tauil de Freitas entendeu que quem busca demais se afasta do seu objetivo.

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