Criadoras do Mercado Circular, evento que acontece em São Paulo nos dias 4 e 5 de dezembro, mostram que é possível tirar do faz de conta a mudança na cadeia produtiva da economia para um planeta mais sustentável.
Era uma vez duas mulheres sonhadoras e preocupadas com o futuro do planeta, a Karine e a Tatiana. Um dia, elas decidiram que precisavam arregaçar as mangas e transformar em realidade o que para muitas pessoas é um conto de fadas: mudar o mundo. Temos heroínas e, como uma boa narrativa épica, também temos um ato de salvamento. Só que em vez de uma pessoa ou um castelo, dessa vez o alvo é bem maior: a natureza e a vida humana no planeta.
A dupla de empreendedoras protagonistas dessa história é formada pela jornalista e realizadora cultural Karine Rossi e pela produtora cultural Tatiana Weberman. A primeira é idealizadora do Mercado Manual, um evento com o objetivo de ressaltar o valor artístico do artesanato. Já a segunda é a criadora do SlowMovie e do SlowKids, projetos de desaceleração e ocupação dos espaços públicos com eventos culturais para crianças e famílias.
Ambas possuíam escritórios no mesmo prédio em São Paulo. Um dia, em 2020, depois de muito se esbarrarem na chegada ao trabalho, resolveram bater um papo. Nessa conversa, falaram sobre o futuro de seus projetos e, tanto a Karine, como a Tatiana, entenderam que juntas podiam somar forças e dar um passo à frente. Com a chegada da pandemia, decidiram transformar seus movimentos e recriá-los com fundamentos éticos e conscientes, baseados na economia circular.
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Quando o sonho ganha vida
Depois dessa união, nasceu assim o Mercado Circular, uma iniciativa de educação, consumo ético e consciente, de investimento na transformação dos espaços públicos. O evento acontece nos dias 4 e 5 de dezembro no Mercado Municipal de Pinheiros, em São Paulo. “Nossa ideia é ajudar a cidade e trazer ao conhecimento do público a nova economia, a economia circular”, comenta Karine.
Esse é, sem dúvida, um chamado urgente para a sociedade. Em média, cada brasileiro gera 1 kg de lixo por dia. Desse número, cerca de 0,5% é compostado (em outras palavras, apenas 5 gramas) e menos de 2% é reciclado (20 gramas). Os dados fazem parte do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, feito pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).
Por ano, produzimos 10 bilhões de toneladas de materiais que são descartados e que poderiam voltar a circular na cadeia produtiva. Esse dado é mostrado no filme “Descarte”, documentário premiado dirigido por Leonardo Brant. Leonardo, inclusive, estará no evento para palestrar e conversar com o público sobre o documentário, que será exibido nos dois dias do evento.
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Economia linear x economia circular
É visível no nosso dia a dia que o planeta não aguenta mais a exploração excessiva de seus recursos naturais, nem suporta mais tanto lixo. E é aí que a economia circular ganha cada vez mais espaço como uma alternativa real para substituir a linear.
No nosso dia a dia, estamos bem acostumados ao que é conhecido como “economia linear”. Esse modelo é baseado na extração crescente de recursos naturais. Nele, o que é produzido é utilizado até ser descartado como resíduo. Ou seja, nós extraímos, transformamos e descartamos. Esse ciclo, além de explorar os recursos naturais sem preocupação com o impacto ambiental, gera uma enorme quantidade de lixo.
Indo na direção inversa desse processo, a “economia circular” é um conceito que associa desenvolvimento econômico a um melhor uso de recursos naturais. Ela prioriza novos modelos de negócios e a otimização nos processos de fabricação com menor dependência de matéria-prima virgem. Em resumo: são utilizados principalmente insumos que já existem e que são mais duráveis, recicláveis e renováveis.
Lixo evitável
A economia circular considera o lixo como um erro de design. Isso significa dizer que o planejamento e a escolha correta das matérias-primas de um produto são etapas primordiais. O objetivo é garantir que a criação de resíduos seja mínima e que haja um destino certo para eles ao final do ciclo de uso.
“O reaproveitamento ideal é aquele em que o produto pode voltar a ser reintegrado na cadeia com um valor agregado igual, ou superior ao produto original que foi descartado”, frisa Karine.
“A maioria das coisas que são descartadas pode ser reaproveitada e transformada em matéria-prima para uma outra ‘coisa’. Não podemos mais esgotar recursos naturais para produzir e depois criar montanhas de resíduos descartados de forma tóxica e criminosa”, completa Tatiana.
“Não existe planeta B”
Iniciativas como o Mercado Circular surgem não apenas pela relevância do assunto, mas também pela sua urgência. A circularidade tem sido a aposta de empresas dos mais diversos setores e vem dando origem a uma nova forma de relacionamento entre produtos, marcas e consumidores.
Karine e Tatiana defendem a ideia de que “não existe planeta B”. A dupla acredita que já passou da hora de pensarmos para qual o destino do nosso descarte diário. “Continuamos sustentando um sistema econômico linear, no qual consumimos e depois jogamos fora todo tipo de material, sem nos preocuparmos onde aquilo vai parar, se vai causar algum dano ou se pode ser vendido e gerar renda. Precisamos parar de nos enganar: não existe fora”, afirma Tatiana.
“O Mercado Circular nasceu como reação à necessidade de reaproveitar as “coisas” que já existem e estão paradas nas casas, indústrias, ruas, caçambas – e principalmente – lixões e aterros sanitários que envenenam nosso ecossistema. Todas as ‘coisas’ que se encontram sobre a Terra precisaram de matéria-prima que, na maioria dos casos, poluíram as águas, as terras ou os ares em seus processos de extração. E depois de tudo isso, a ‘coisa’ não serve mais e é jogada fora”, ressalta Karine Rossi.
Levando o debate para a rua
Para colocar o debate em pauta na sociedade, as duas criaram o Mercado Circular. O evento acontece nos dias 4 e 5 de dezembro no Mercado Municipal de Pinheiros, em São Paulo. “Nossa principal proposta é levantar um movimento: o de perceber que o que chamamos de lixo é na verdade “excedente”, algo que não interessa para você, mas que pode interessar para a cadeia produtiva. Lixo é papel higiênico, produto hospitalar, fralda… Lixo é rejeito. Todo o resto é excedente”, explica Tatiana.
O evento reunirá artesãos que criam a partir de reuso, projetos de second hand e inovações do universo da circularidade, além de palestras e rodas de conversa sobre as premissas da economia circular, shows, cinema, oficinas com programação cultural gratuita. Está prevista a participação de cerca de 25 expositores convidados nesta primeira edição, todos com produtos apoiados nas premissas da circularidade e sustentabilidade.
Cumprindo com o objetivo de educar e promover a mudança de pensamentos e atitudes acerca da Economia Circular, a iniciativa preparou uma programação especial de palestras, rodas de conversas, oficinas sobre reuso e reaproveitamento, diálogos acerca de inovação, shows, cinema, intervenções artísticas e de moda.
Criação de uma plataforma de educação
A proposta do Mercado Circular também é ir além do evento físico. Na segunda etapa do projeto, a dupla quer juntar quem descarta e quem pode usar o descarte. “A ideia é criar uma plataforma online que, além de educar e orientar com relação ao excedente, coloque em contato quem descarta e quem usa o descarte”, conta Tatiana.
E Karine completa: “durante o evento, vamos pesquisar entre os expositores e visitantes que tipo de descarte eles têm e utilizam para já iniciar nosso banco de dados”.
Mercado Circular – Edição 1
Entrada Gratuita
Data do evento: 4 e 5 de Dezembro de 2021, das 11 às 19 horas
Local: Mercado Municipal de Pinheiros
Endereço: R. Pedro Cristi, 89 – Pinheiros (Largo da Batata), São Paulo
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