É ao som de “Caipira” (2017), álbum da cantora Mônica Salmaso, que o artista popular Viníciu Fagundes nos convida a escrever esse texto. Engenheiro ambiental e professor universitário, apesar de grande apreciador da arte e do artesanato, nunca havia se imaginado artista. Até a pandemia da Covid-19, quando em casa passou a produzir diferentes obras com elementos da natureza. Hoje, parte de suas produções estampam, inclusive, o cenário de uma telenovela da Rede Globo.
O contato com a roça, na zona rural do estado de Goiás, permitiu a Viníciu construir uma relação importante com a natureza. “Eu via os frutos secos de árvores do Cerrado e me encantava com aquilo desde criança”, explica o artista. O bioma, que morre e renasce a cada ano com sua vegetação única, é uma das principais fontes de inspiração e construção das obras de Viníciu.
O desejo de trabalhar com a arte nasceu, é verdade, em sua primeira viagem turística à Amazônia. Um encontro com a imensidão da maior floresta tropical do mundo. Foi no encontro entre o Rio Negro e o Solimões que Viníciu percebeu a necessidade de olhar mais para si. Internamente compreender o que o movia. “Algo despertou em mim, porque eu chorei muito com o encontro das águas“, explica o artista.
“O que mais me inspira é a nossa cultura”
A viagem que ajudou a transformar a vida de Viníciu o impulsionou para iniciar os trabalhos com o artesanato. Por isso, durante a pandemia da Covid-19, cansado das telas e do isolamento físico, o artista decidiu produzir algumas peças e introduzir elementos naturais do Cerrado. O projeto atraiu a admiração dos familiares, que o impulsionaram a compartilhar nas redes sociais fotografias das obras.
Com o título de Tutóia, o artista decidiu nomear o estúdio que mantém em casa. A palavra, que significa “Que lindo! Que beleza!” em tupi-guarani, é uma homenagem aos povos indígenas do Brasil. Por isso, sua principal matéria-prima são os envoltórios que guardam as sementes das plantas do Cerrado e outros biomas brasileiros, como Guatambu e o Jatobá. “Eu tento, de alguma forma, trazer as pessoas para a reconexão com o natural“, enfatiza.
Sua preocupação é a de manter elementos naturais e culturais do Brasil na construção das peças. Para Viníciu, às vezes, temos mais acesso à informação de vegetações fora do país do que da região onde moramos. No entanto, “à medida que vou agregando essas informações, sinto que de alguma forma eu contribua para reduzir essa cegueira botânica e ambiental”, destaca.
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Potencial criativo da natureza
Viníciu se intitula artista popular por dois principais motivos, o primeiro, para ele, é que não é um profissional das artes. Pelo contrário, ele é professor de Engenharia Ambiental no Instituto Federal de Goiás (IFG). O segundo é sua necessidade de contribuir para associar os elementos naturais à cultura popular brasileira.
Nas peças, busca sempre colorir em tons de azul, referência à cor do planeta. Além disso, busca privilegiar elementos dos biomas nacionais. Primeiro do Cerrado, que inspiram boa parte de suas obras. A Caatinga, os Pampas, a Mata Atlântica e a Amazônia vão, aos poucos, diversificando esse cenário – já repleto de muitas espécies.
Hoje, 90% da coleta é feita por Viníciu diretamente no bioma, embora também conte com uma rede de coletores de sementes de todo o país. O artista, então, compra os envoltórios – podemos chamá-los de capsulas aqui – para construir as peças.
Presença em exposição e até em novela
Esse conjunto de obras que ilustram o Brasil com cores, texturas e formatos já estiveram em diferentes espaços do país. O artista já foi convidado para construir 27 esculturas utilizadas no Prêmio Goiás Sustentável, a CASACOR Goiás e a exposição Casa do Brasil Central: do Cerrado ao Pantanal, com curadoria do design Renato Imbroisi.
Mais recentemente, parte de suas obras passaram a fazer parte do cenário da telenovela Terra e Paixão, da Rede Globo. As peças de Viníciu, que já foram à Inglaterra e Portugal, hoje também estampam as telas de brasileiros que acompanham a história.
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