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Hortoterapia: cuidar de plantas pode curar
Ceyda Çiftci
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Cuidar da saúde mental é uma tarefa cotidiana de cada ser humano, seja mantendo boas relações com as pessoas ao redor, se nutrindo de amor, autocuidado, terapia ou práticas alternativas, como o uso de óleos essenciais ou florais de Bach. Uma outra modalidade de suporte e apoio emocional que poucas pessoas conhecem é a hortoterapia, que favorece a melhora no bem-estar e a atenuação de problemas emocionais a partir do contato com a natureza e com as plantas.

Sim, além do simbolismo nas redes sociais de ser “pai” ou “mãe” de planta, elas são importantes companheiras na nossa vida e podem, de fato, trazer benefícios do ponto de vista emocional, além de deixar a casa mais colorida e com o ar purificado. Algumas pessoas usam as plantas para proteção espiritual também, então, já são três funções especiais e importantes que estes seres vivos podem exercer.

“Quando aprendi a cuidar das plantas também aprendi a cuidar de mim”

Maria Failla é uma ex-atriz da Broadway que se considera como “ex-assassina de plantas”. Sim, isso mesmo que você leu. A história começou porque Maria sempre foi uma entusiasta plantas em casa, mas quando suas emoções não iam bem, acabava por esquecer de regá-las ou era tão consumida pelo trabalho que simplesmente não tinha energias para se dedicar às tarefas de cuidado que elas exigiam.

Durante a pandemia da Covid-19, Maria precisou se mudar de casa diferentes vezes, perdeu o emprego, adiou o casamento e morou com o noivo na casa dos pais, um cenário confuso para os dois e para as plantas que tentavam acompanhá-los naquela rotina turbulenta.

“Naquele momento, eu sabia que era hora de apostar e seguir em frente na ideia de usar plantas não apenas como uma ferramenta de alegria e autodesenvolvimento, mas como uma tábua de salvação”, escreve ela no livro Cultivando Alegria (Latitude). Nele, Maria nos ensina a ter uma melhor relação com as plantas, além de trazer as próprias vivências pessoais da autora.

Em resumo, Maria passou de uma “ex-assassina” para uma amante de plantas, processo que a ajudou a reencontrar os amigos novamente, praticar as atividades físicas que gosta e ter uma relação mais saudável com seu corpo.

Passe algum tempo com as plantas antes de se perder na tecnologia, na sua agenda ou nos problemas das outras pessoas. É uma simples alteração que mudará sua vida”, sugere a escritora.

Hoje, Maria trocou os cinco minutos na tela do celular quando acordava com um momento ao lado das plantas de seu jardim, seja podando algumas folhas, tratando de doenças ou regando o necessário, de acordo com a quantidade de água que cada espécie demanda.

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Assim como Maria Failla, o educador Fabrício Bellini e Marineuda Felix decidiram dar significado a uma região empobrecida da cidade de Campinas, precisamente no bairro Cidade Satélite Íris. A ideia surgiu dentro do Projeto Gente Nova (Progen), que integra públicos de diferentes idades, incluindo as crianças do bairro. A história começou por causa de um incômodo entre os próprios integrantes do projeto, já que a região não pode ter árvores frutíferas ou plantas comestíveis por causa da contaminação do solo devido a um lixão nas proximidades onde as famílias vivem.

Mas, uma situação impulsionou Fabrício a dar início a uma horta suspensa que integrou, não só as pessoas do Progen, mas também as crianças que participam das atividades do local. Por ser repleto de flores e ter uma diversidade de árvores, uma criança afirmou que o lugar mais mais bonito do bairro era o cemitério que, claro, tem lá belas árvores, mas não deveria ser o único espaço verde da região.

“Me doeu porque é um bairro com 60 anos de história e o lugar considerado mais bonito é um cemitério”, explica. Ainda assim, o grupo insistiu, especialmente pela necessidade que as crianças têm de terem contato com espaços verdes da cidade, uma atividade educativa e formativa para a vida adulta.

“Muitos dessa nova geração quer tudo industrializado, não quer nada natural, e aí a gente começou a fazer essa conscientização, tanto sobre o território, para pressionar o poder público, mas também deles mesmos”, justifica Fabrício. 

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Assim, as crianças ficam em contato direto com a horta suspensa, que não tem nenhum tipo de relação com o solo local e produz alimentos que podem ser consumidos. E nem só as crianças foram impactadas, os adultos também adotaram a rotina de cuidado, troca de mudas, além de terem passado a cultivar plantas em casa. “Tem pessoas que já fizeram uma praça em frente à casa“, brinca Fabrício. 

Mudas de plantas em uma horta suspensa. Horta desenvolvida com a equipe do Progen. Foto: Divulgação

Como a hortoterapia funciona?

Apesar das plantas serem diferentes dos animais e apresentarem uma estrutura bem distinta da nossa, são seres vivos que também demandam cuidado. Uma boa qualidade do solo, quantidade de água adequada, exposição à luz de forma regulada, tudo para manter as melhores condições possíveis para cada espécie, o que demanda tempo e muita atenção. Esse esforço, dentro da hortoterapia, nos dá um suspiro de alegria e alívio, além de um maior equilíbrio emocional e auxilio em muitos momentos conturbados.

Quem vivencia isso é a própria Marineuda Felix, integrante do Progen e uma entusiasta da horta suspensa no Satélite Íris. Dona Neuda, como é conhecida, conta que o projeto nasceu na pandemia da Covid-19 e logo se expandiu quando o espaço comunitário passou a ser ocupado novamente pelos integrantes. “A gente tinha algumas coisas que sobraram da construção e fomos trabalhando com o que tinha”, explica ela sobre a criação do espaço. 

Logo, o ambiente ocupado por restos de materiais e ferros sem utilidade foi dando espaço a uma atividade coletiva que não só deixou o Progen mais verde, mas trouxe vida para o bairro e uma nova paixão para muitas pessoas.

Quando comecei eu estava no início de uma depressão, havia perdido um filho, e passei a me engajar na horta, isso foi muito importante para mim”, explica Dona Neuda. 

Lá, é possível encontrar alface, beterraba, tomate e inúmeras outras frutas, verduras e hortaliças, que são não só cultivados de forma orgânica, mas com muito afeto e dedicação. Por influência do projeto, hoje a casa de Dona Neuda se transformou em um verdadeiro jardim. Ela conta que sempre leva novas mudas, adota algumas plantas e vai construindo um próprio ecossistema dentro do seu lar. “É cansativo, mas é prazeroso”, conta sorridente.

Para quem busca se aprofundar nos conhecimento em hortoterapia, é importante compreender que ela utiliza o contato direto com a natureza na promoção da saúde mental e atua junto com outras práticas convencionais reconhecidas pelo Ministério da Saúde. Apesar de importantes e essenciais no tratamento de transtornos psicológicos, as plantas não são as únicas responsáveis por uma melhoria no quadro de saúde mental. A própria Marineuda Felix conta que se dedicava à tarefa de cultivar as plantas enquanto frequentava uma psicóloga, por exemplo.

Antes de iniciar uma prática a partir da hortoterapia também é importante consultar um profissional de saúde certificado que possa dar melhores orientações sobre os resultados que a prática pode trazer para a sua saúde. A leitura de livros ou o consumo de podcasts sobre o tema, se você gosta de conteúdos em áudios, também são ótimas alternativas para ter contato com outras perspectivas e especialistas.

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