Seis obras que eternizam o olhar de Sebastião Salgado
Confira livros essenciais para revisitar a trajetória do fotojornalista, um dos mais potentes da fotografia mundial

O mundo perdeu Sebastião Salgado e, com ele, uma das lentes mais sensíveis e comprometidas da fotografia contemporânea. O fotojornalista brasileiro, morto em 23 de maio, foi um contador de histórias humanas e alguém que percorreu o mundo para registrar o invisível e o silenciado. Seu olhar, sempre em preto e branco, revelava nuances que as palavras muitas vezes não alcançam.
Em tempos acelerados, suas obras exigem uma pausa necessária para ter mais empatia e reflexão. Abaixo, você revisita alguns de seus livros mais marcantes e que nos ajudam a compreender sua missão de olhar o outro com profundidade e dignidade.
1) ‘Outras Américas’ (1986)
(Divulgação) Ao percorrer essas ‘outras’ Américas, o leitor enxerga as resistências que moldam o continente latino-americano
Seu primeiro livro é um retrato profundo dos povos indígenas e camponeses da América Latina, resultado de sete anos de viagens iniciadas em 1977. Sebastião Salgado percorreu regiões remotas do continente — do sertão nordestino às cordilheiras do Chile, passando por Bolívia, Peru, Equador, Guatemala e México — em busca de narrativas, muitas vezes esquecidas pelas grandes cidades e pelos registros oficiais.
Com sua fotografia em preto e branco marcada por contrastes intensos, ele revela o cotidiano dos destituídos: homens e mulheres que vivem à margem do progresso, mas enraizados em vínculos de origem, fé e memória. As imagens de “Outras Américas” são belas, mas nunca neutras. Elas incomodam, provocam, escancaram desigualdades históricas.
2) ‘Trabalhadores’ (1993)
(Divulgação) Em ‘Trabalhadores’, a homenagem é feita a quem constrói e transforma a realidade com as próprias mãos
Essa obra vai além de um simples registro documental, ela é uma fotografia militante como o próprio Salgado define, feita para compreender os homens e revelar as estruturas invisíveis que sustentam o mundo. Com um olhar quase arqueológico, o fotógrafo homenageia o trabalho manual e as pessoas que movem o mundo com a força dos próprios corpos.
Ao longo de seis anos, Sebastião percorreu diversas regiões do planeta, do Brasil à Indonésia e da Europa à África, para registrar homens e mulheres envolvidos em atividades árduas, muitas vezes “invisíveis”, que sustentam economias inteiras. O livro reúne 350 fotografias em que ele transforma o cotidiano em epopeia, como por exemplos algumas imagens do garimpo em Serra Pelada, o ofício penoso da pesca do atum no Mediterrâneo ou a extração de enxofre na Indonésia.
3) ‘Gênesis’ (2013)
(Divulgação) Sebastião Salgado celebra a majestade da natureza, que vai desde as tribos da Amazônia às paisagens da Antártica
‘Gênesis’ é um manifesto visual em defesa do planeta. Ao longo de oito anos, Salgado percorreu mais de trinta regiões do mundo quase intocadas pela ação humana como os desertos, geleiras, montanhas, tribos, animais selvagens. Com seu olhar sensível e seu preto e branco inconfundível, ele registra a beleza primitiva da Terra e das formas de vida que ainda resistem ao tempo e ao progresso.
O livro convida à contemplação e à reflexão: ‘que mundo queremos preservar?’ O conceito do nome do título da obra é, nas palavras do próprio autor, “uma busca pela natureza em estado puro”, e também um lembrete de que proteger esse equilíbrio é um ato de humanidade entre os povos.
4) ‘Serra Pelada’
(Divulgação) A fotografia de ‘Serra Pelada’ foi uma das imagens mais icônicas de sua carreira
Publicado em 2019, o fotojornalista revisita um de seus registros mais famosos: os acontecimentos das pessoas que viviam na mina de Serra Pelada, no Pará. Por uma década, Serra Pelada foi a maior mina de ouro a céu aberto do mundo. Entre o fim dos anos 1970 e o início dos 1990, cerca de 50 mil homens, movidos por promessas de fortuna, trabalharam ali em condições extremas, vivendo uma realidade que oscilava entre o sonho e o pesadelo.
Quando, em 1986, Salgado finalmente obteve autorização para entrar na área — após seis anos de negativas do regime militar —, se deparou com uma visão que o marcaria para sempre. Um formigueiro humano dentro de um abismo escavado na terra, onde milhares de garimpeiros subiam e desciam sem parar, carregando sacos de até 40 quilos.
5) ‘Êxodos’ (2019)
(Divulgação) Sebastião Salgado registrou a migração humana em 35 países
Além de ser uma crônica da crise migratória global, Sebastião nos convida a refletir sobre as desigualdades que movem fronteiras e força milhares de famílias a deixar tudo para trás. Nesta obra, ele documenta o deslocamento forçado de milhões de pessoas pelo mundo. Durante seis anos, ele percorreu 35 países para registrar o impacto da migração humana em grande escala, movida por guerras, pobreza extrema, perseguições e catástrofes sociais.
As imagens revelam um planeta em trânsito, como as comunidades em campos de refugiados, os moradores das favelas superlotadas de São Paulo, migrantes africanos em suas arriscadas travessias pelo Mediterrâneo. Por trás de cada rosto, há um exílio, uma perda, uma busca por dignidade.
6) ‘Amazônia’ (2022)
(Divulgação) Obra dedicada aos povos indígenas da região amazônica do Brasil
Lançado há três anos, ‘Amazônia’ traz um olhar poético sob a maior floresta tropical do mundo.Salgado percorreu a região amazônica entre rios, selvas, montanhas, aldeias e conviveu com 12 povos indígenas: Yanomami, Asháninka, Yawanawá, Suruwahá, Zo’é, Kuikuro, Waurá, Kamayurá, Korubo, Marubo, Awá e Macuxi.
O resultado é um livro monumental, que celebra a vastidão da natureza e a diversidade cultural da floresta, ao mesmo tempo em que denuncia sua vulnerabilidade diante do avanço da destruição ambiental e dos povos originários. Em preto e branco, as imagens capturam a sobrevivência de suas culturas, seus gestos cotidianos, costumes e rituais.
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