Livrarias abrem novos capítulos com espaços de pertencimento e leitura
Ambientes acolhedores, silenciosos e abertos à permanência têm atraído leitores para dentro das livrarias, que se reinventam como espaços de encontro e refúgio
Entro e sou imediatamente acolhida pelo calor das paredes em tons terrosos, pelas luzes amarelas penduradas no teto que criam um cenário com uma luz confortável, quase caseira. É como se o espaço dissesse: “Pode relaxar, aqui o tempo passa mais devagar”. As prateleiras altas guardam milhares de histórias de diversos gêneros literários e no centro da livraria, uma roda de poltronas alaranjadas e cadeiras de madeira que nos convida a sentar, ler e apreciar o tempo.
No canto, alguém escolhe um livro agachado, como quem garimpa uma peça de roupa em um brechó. E claro, no balcão ao lado, aquele cheirinho de café fresco. Esse é um sentimento de muitos que entram em livrarias percebem. É um espaço de pausa, de encontro e de permanência consigo mesmo. E, talvez por isso, cada vez mais as pessoas escolhem fazer desse lugar o seu cantinho de sossego, onde o tempo desacelera.
Por que estamos lendo mais nas livrarias?
A resposta mais comum entre os livreiros é direta: o ambiente. Mas o que isso quer dizer na prática? Primeiro, porque há um respiro. Em um mundo atravessado por notificações, prazos e telas, as livrarias oferecem um contraponto. São silenciosas sem serem solitárias. Diferente de uma biblioteca, onde o silêncio pode soar quase institucional, ou de casa, onde muitas vezes não se consegue desligar do cotidiano, as livrarias viraram um “entre-lugar”. Um refúgio público e, ao mesmo tempo, particular.
Para Samuel Seibel, presidente da Livraria da Vila, essa filosofia não é nova, mas cada vez mais necessária. “A livraria vai muito além da venda de livros. Temos lançamentos, contações de histórias, eventos infantis, cursos, palestras, encontros literários e clubes de livros. Criamos um espaço absolutamente democrático, onde você pode folhear, comprar, levar seus filhos ou só escapar desse mundo digital”.
Ele também destaca os cafés dentro das lojas como parte dessa experiência de permanência. “Muitos livros foram escritos nos cafés das nossas lojas, muitos encontros se realizam nesses ambientes, muitos namoros começaram entre as prateleiras. Não tem outro tipo de varejo que permite tudo isso”.
Além disso, tem algo a mais: mudar o cenário do dia, sair de casa, se deslocar para ler mesmo que por uma hora, dá à leitura uma outra dimensão. Ela deixa de ser “mais uma tarefa”.
Um convite para desacelerar
Monica Carvalho, proprietária da Livraria da Tarde e psicóloga, conta que pensou em cada detalhe da livraria para que o espaço funcionasse como um antídoto ao ritmo frenético da cidade. “Sempre senti falta de um espaço gostoso para frequentar em São Paulo. Quis criar uma livraria que parasse o tempo, onde o leitor pudesse desacelerar.”
Desde a escolha das cores até os cantinhos para leitura, a livraria foi desenhada para acolher. E isso é sentido pelos leitores. “A frase que mais ouço desde o primeiro dia é: ‘nossa, que delícia, me senti abraçada’. Muita gente chega com pressa, mas acaba querendo ficar mais ou voltar com calma.”
Esse movimento ajuda a ressignificar o próprio ato de ler. Em vez de metas ou maratonas de leitura, o que se vê nas livrarias é uma leitura sem pressa. “Tem muita gente que compra o livro e pergunta se pode começar a ler ali mesmo. E o convite é esse mesmo”, diz Monica. “Temos poltronas, mesinhas, cheirinho de café. A ideia é que o leitor se sinta em casa”.
Ela destaca ainda que as livrarias de bairro têm um papel cultural importante. “Somos um espaço cultural em que fazemos curadoria, clubes de leitura, leituras em voz alta, rodas de conversa. Não é só sobre comercializar livros mas criar uma experiência muito diferente e gostosa com a comunidade.”
Dicas de livrarias acolhedoras para conhecer
Seja para descobrir novos autores ou simplesmente para passar uma tarde em silêncio, estas livrarias estão se destacando pelo ambiente, arquitetura ou proposta e valem a visita.
– Livraria Megafauna: a Megafauna é daquelas livrarias que parecem desacelerar o tempo. No térreo do Copan, entre o concreto e o movimento do centro de São Paulo, ela se abre como um respiro. As prateleiras abrigam livros e sua programação propõe encontros, leituras, temporadas que giram em torno de temas que atravessam o cotidiano.
Endereço: Av. Ipiranga, 200 – loja 53 – Centro Histórico de São Paulo, São Paulo – SP, 01046-010
Reprodução/Instagram
– Livraria da Vila: desde 1985, a livraria sempre se apresentou como um verdadeiro ponto de encontro. Mais que prateleiras, abriga sessões de autógrafos, palestras e oficinas infantis que fazem conexões reais entre autores e o público. Está espalhada pelo Brasil sendo uma das maiores redes de livrarias físicas do país e tem diversas unidades por São Paulo. Confira aqui os endereços.
– Livraria da Tarde: já faz cinco anos que a Livraria da Tarde faz história sendo um refúgio no coração de Pinheiros, onde cada detalhe, desde as paredes em tons suaves ao aroma do café fresquinho, convida a um momento de pausa. Com uma seleção cuidadosa de obras de literatura, os livreiros atuam como anfitriões, sugerindo leituras que combinam com a personalidade de cada visitante.
Endereço: Cônego Eugênio Leite, 956 – Pinheiros, São Paulo
– Livraria Bibla: localizada na Vila Madalena, a Bibla é antes de tudo um ponto de encontro onde café e livros se entrelaçam em perfeita sintonia. Com um acervo de mais de 8 mil títulos organizado em seções criativas como a “Pão Quentinho”, com os lançamentos mais fresquinhos, e móveis e louças restaurados dão vida ao ambiente e o leitor se sente em casa. Em meio a rodas literárias, lançamentos e clubes de leitura, a livraria de rua faz com que o tempo desacelere.
Endereço: Praça Professora Emília Barbosa Lima, 58 – Vila Madalena
Divulgação/Instagram
– Livraria Aigo: livraria independente no bairro do Bom Retiro, em São Paulo, marcado por encontros entre culturas, línguas e histórias. Criada por mulheres que cresceram ali e voltaram ao território com desejo de transformação, a livraria carrega em sua curadoria as heranças das diásporas que compõem a vizinhança.
Endereço: R. Ribeiro de Lima, 453 – loja 73 – Bom Retiro, São Paulo
Reprodução/Instagram
– Casa Cosmos: diferente das anteriores, A Casa Cosmos é uma livraria infantil que acolhe famílias com um olhar atento à infância e à parentalidade. O espaço combina livros cuidadosamente selecionados com uma programação afetiva que inclui atividades para crianças, rodas de conversa, cursos e palestras para adultos. Além disso, também abriga o Tonga Comedoria, complementando a experiência com refeições pensadas para toda a família.
Endereço: R. Natingui, 544 – Vila Madalena, São Paulo
Reprodução/Instagram
– Livraria Bandolim: com um pé na música e outro na literatura, essa livraria é um lugar de encontros, afetos e boa conversa. Localizada em um bairro com alma boêmia, como Santa Cecília, ela mistura livros de diversos gêneros com eventos musicais, lançamentos literários, café e até bar. Há um cantinho infantil acolhedor, pensado para os pequenos leitores, e um catálogo que vai de ficção a biografias, com destaque para obras sobre música.
Endereço: R. Conselheiro Brotero, 952 – Santa Cecilia, São Paulo
Reprodução/Instagram
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