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Valorizar as diferenças na infância para celebrar equidade no futuro
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Quem ganha com a diversidade não são apenas as pessoas hoje submetidas ao preconceito e à exclusão. Não existe um sem o nós. Essa atenção a diferentes padrões nos torna profundamente melhores.

Somos diferentes, mas queremos as mesmas oportunidades de escolha para fazer o que quisermos e sermos felizes nessa vida. Tudo muito lindo, muito poético, mas, na prática, ainda é preciso lembrar que a imensa maioria das pessoas no mundo não tem oportunidade de escolha. Apenas se vive da forma que dá: à margem, das sobras ou mesmo de maneira invisível. E se não está bem para todos, não está tudo bem.

No campo da infância, há crianças crescendo sem esperança, sem saída, entendendo desde pequenas que o lugar delas é restrito e sem mobilidade em todos os sentidos. É urgente repensarmos nossas relações com a diversidade e realizarmos também uma mudança de fora pra dentro. Afinal, todo mundo ganha com isso e as diferenças na infância não aumentam.

Nessa busca por autoconhecimento e pela nossa saúde mental, é preciso fazer uma autocrítica e entender que a gratidão de uma vida plena e realizada também inclui muitos privilégios de pessoas como a gente, uma porcentagem ínfima da população mundial. Lembrar que inclusive a oportunidade de tempo para o despertar da consciência já é algo raríssimo para muitos.

Entre nós adultos, vale silenciar-se também, mas para ouvir outros lugares de fala e suas histórias de discriminação. Pela melanina, pela conta bancária, pelo grau de escolaridade, pelo país em que nasceu, pelas necessidades especiais, pelo gênero… Importante admitir o preconceito, questionarmos sobre nossas próprias atitudes coniventes com a exclusão. Partimos daí para construir algo melhor. 

Imagine um Brasil em que mesmo que as leis avancem (lentamente) na participação social das minorias,  a gente não se isenta de responsabilidades. Que a gente comece a olhar se a diversidade é contemplada no escritório, entre nossos amigos, nos locais em que frequentamos, nos produtos e serviços que consumimos, na escola dos nossos filhos, nos locais onde brincam… Se as as minorias estão presentes de maneira visível e acolhedora. Convivemos de fato com as diferenças? Proporcionamos essas diferentes visões e experiências de mundo para as nossas famílias? Pensamos na mobilidade social das minorias próximas de nós? De que forma? Não vale ser só nas curtidas das postagens nas redes sociais. É preciso estar presente, trocar, questionar para possibilitar oportunidades. 

Para quem gosta de resultados em performances, mesmo ainda com disparidade, a diversidade impacta quando existe. Empresas com pelo menos de 30% de diversidade de gênero – e mais de 20% no nível sênior – apresentaram melhores resultados financeiros na comparação com as demais. Equipes com líderes, trabalhadores pertencentes a minorias atuam com uma mentalidade diferente e mais aberta, com mais empatia pelos clientes, inclusive, o que torna as soluções mais criativas e adequadas.

Quem ganha com a diversidade não são apenas as pessoas hoje submetidas ao preconceito e à exclusão. Quando você vê um adulto com down se formando na universidade, um autista tendo salas de cinema preparadas para que possam assistir a um filme, muitas barreiras foram rompidas ali, muitas pessoas precisaram repensar e melhorar (sim!) que as minorias subissem novos degraus. Não existe um sem o nós. Essa atenção a diferentes padrões nos torna profundamente melhores. Colabora para que exista liberdade de escolha de fato. Não há como construir empatia efetiva pelo outro quando ainda estamos acima ou distantes dele. Melhoremos!


Luísa Alves é relações públicas, produtora cultural de eventos infantis e criadora da plataforma Guia Fora da Casinha, na qual compartilha conteúdo sobre infância e mater-paternidade na cidade, além de agenda cultural pra quem tem crianças em São Paulo. Nesta coluna, quinzenalmente, traz reflexões sobre cidadania, cultura e lazer na infância, fortalecimento de mães e sobre o estilo de vida com crianças. Seu instagram é @guiaforadacasinha

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