Vida e tempo
Já falamos destes dois conceitos, vida e tempo, outras vezes. E eles têm estado cada vez mais interligados. É hora de entender e racionalizar um pouco a interferência que um tem no outro.
Já falamos destes dois conceitos, vida e tempo, outras vezes. E eles têm estado cada vez mais interligados. É hora de entender e racionalizar um pouco a interferência que um tem no outro.
Euclides, considerado o pai da Geometria que leva seu nome, viveu no século III A.C., em Alexandria, no Egito. É dele a noção de espaço simétrico, contínuo, perene e imutável. Estes conceitos, que caracterizaram a epítome do saber na antiguidade clássica, atravessaram incólumes as eras medieval e renascentista. O conceito de continuidade do espaço se solidificou tanto que contaminou até o entendimento do tempo, como algo também contínuo. Passado, presente e futuro se conectam de forma indiscutível. O ontem se conecta com o hoje, que continua no amanhã. E quais os efeitos desta continuidade no nosso comportamento ?
Tempo e espaço estão mudando
Mesmo atravessando um longo tempo sem ser modificada, um dia a Geometria Euclidiana sofreu um reajuste, quando alguém percebeu que a melhor forma de representar as coisas era através de elementos descontínuos. Aí, em 1975, nasceu a Geometria Fractal. Este nome que vem de fractus, que quer dizer fraturado, e foi criado por Benoît Mandelbrot, a quem tive a oportunidade de conhecer. Enquanto tudo na Geometria Euclidiana era contínuo, na Geometria Fractal, os elementos eram fraturados e, portanto, descontínuos.
Em 2012, o físico italiano Carlo Rovelli surpreendeu o mundo dizendo que o tempo também não é contínuo. Segundo Rovelli, o tempo passado é apenas a acumulação de fatos retidos na memória mas que é impossível estabelecer a continuidade entre eles, simplesmente porque ninguém consegue se lembrar de cada segundo vivido. E o tempo futuro ainda não aconteceu mas quando acontecer, imediatamente vira passado. Portanto, o tempo também é descontínuo !
Tempo e espaço descontínuos: o que fazer com isto?
A tudo que já colocamos aqui, falta acrescentar um outro aspecto que você certamente já sentiu: porque à medida que ficamos mais velhos, o tempo parece passar mais rápido ? A resposta a esta pergunta começou a ser dada no século 19, por um médico alemão chamado Ernst Weber. O primeiro a notar essa sensação de tempo passando mais rápido. Em seguida, um psicólogo também alemão chamado Gustav Fechner, descreveu as conclusões de Weber em formato de lei da ciência. A lei diz que, “quando são comparados dois estímulos pequenos, basta uma diferença mínima para distinguí-los perfeitamente. Agora, se sua dimensão é maior, os dois elementos devem ser muito diferentes entre si para que a diferença seja percebida”. Dito em palavras mais simples, ninguém nota uma diferença de 50 gramas em um pacote de 10 quilos, mas pode perceber uma diferença de 10 gramas em um outro pacote de 100 gramas. Passando essa interpretação para o tempo, viver mais três meses quando você já viveu 60 anos faz pouca diferença, mas viver mais um mês quando você tem apenas 8 anos é um tempo longo. Daí, quanto mais você vive, percebe menos a passagem do tempo e, por isso, ele passa mais rápido.
E o que mais?
Estamos vivendo em um mundo onde o espaço não é mais contínuo. E o tempo também não. Na medida que o tempo vai passando, contínuo ou não, ele vai caminhando mais rápido. Tudo isto faz parte do ambiente em que vivemos hoje. A esse ambiente, é ainda possível agregar outros elementos que alteram a nossa percepção das coisas e que trazem um grau ainda maior de complexidade nas nossas vidas.
Um destes elementos é a velocidade com que a informação se propaga nas comunidades humanas. Mas talvez seja melhor deixar este aspecto para uma próxima oportunidade. Simplesmente porque temos algo importante para te dizer agora. É assim: em um espaço descontínuo e em um tempo fragmentado que passa cada vez mais rápido, trate de viver o momento! É só vivendo o momento que você poderá construir uma memória do que viveu. E é só construindo essa memória que você terá um passado.
Fábio Gandour é formado em Medicina e dedicou-se à pesquisa científica, em um ambiente de alta tecnologia. Foi aí, neste tempo e neste espaço, que concluiu uma coisa importante: tecnologia só faz sentido se estiver a serviço das pessoas.
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