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Uma prosa sobre você
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Tenho a sensação que estamos complicando demais a vida. Claro que a situação no Brasil não está bonita nem fácil, mas a realidade é o que ela é – não o que a gente gostaria que ela fosse. É com ela que a gente precisa fazer as pazes, se pretendemos mudar alguma coisa, apesar de todas os nossos desejos e expectativas frustradas. Contexto político-econômico (triste) à parte, tem gente que me diz que tudo ficou mais difícil por causa da tecnologia e de todos os acessos e estímulos que ela promove (e das redes sociais, com seus excessos de exposição e comparação, especialmente). Tem gente que acha que essa sensação de complicação pode ter a ver também com a densidade que o mergulho pra dentro, na tão propagada busca de autenticidade, propósito e paixão, demanda. Então, para a conexão eu-comigo-mesma ser realmente verdadeira, tem que haver uma baita fricção. Será que precisa ser assim, sofrido o tempo todo?

Os tempos modernos nos cutucam com inquietações das mais variadas mesmo, mas prefiro acreditar que há um jeito de abordar o cotidiano, as nossas circunstâncias, aquilo que a gente controla e também o imponderável que faz parte da jornada de cada um, de um modo mais prático – e mais singelo. Talvez seja hora de acionar a simplicidade como recurso para a resolução de antigos problemas tanto quanto para a criação de novas possibilidades. Talvez seja possível olhar para o que nos acontece de um lugar menos rígido, mais fluído. Talvez seja saudável escolher lidar com o que a vida manda de uma forma mais espontânea, em vez de apenas reagir transformando pedras mínimas do caminho em grandes questões existenciais, perdendo, assim, a perspectiva sobre o que é complexo, de fato.

Acho que é dessa espontaneidade que tenho sentido falta, nas relações de todos os tipos – entre pessoas, projetos, trabalhos, empresas. Pensa comigo: quando foi a última vez que você se conectou a alguém por causa de uma afinidade, sem esperar nada em troca, só porque sentiu admiração e vontade de saber mais sobre alguma coisa que a outra pessoa disse ou fez?  Quando foi a última vez em que mandou uma mensagem desse tipo sem elocubrar 200 vezes a respeito antes, complicando o que seria uma oferta natural de apoio, atenção e afeto e a chance de receber de volta uma resposta surpreendente? Quando foi a última vez em que conseguiu rir de algo que aconteceu a você e saiu completamente fora do que foi planejado, mas até que foi interessante?

Uma vida mais simples começa quando a gente para de levar tudo tão a sério – e coloca atenção e intenção naquilo que realmente parece fazer sentido pra gente agora. A realidade não vai ficar cor de rosa só porque eu e você queremos, mas pode ser que fique mais leve passar pelos dias cinzas se cada um de nós cuidar do que é sua responsabilidade, sem complicar. Sisudez, formalismos, reclamações, dúvidas, a cabeça e a agenda explodindo, não são sinônimo de sucesso nem de maturidade. São pesos, são distrações, parecem mais com ego no comando, insegurança pedindo carinho, medo de não saber ser, se não for na marra. O modo como você passa pelos seus dias é a forma como a sua vida está passando, afinal. Considere essa sugestão: simplifique o que você pode na forma de pensar e fazer o que dá, para sentir que você está bem vivo aí, no miudinho do seu tempo, esse que vai passar levando você pra frente, sem considerar a sua embatucação.

Ju De Mari é uma jornalista que virou coach para mulheres na PROSA Coaching. Pratica singelezas como forma de se relacionar com a vida de maneira mais criativa. Adora flores e fotografia, tem dois filhos e raízes no frevo pernambucano. Nesta coluna mensal, compartilha reflexões sobre transição de carreira e de estilo de vida para inspirar pequenas revoluções possíveis e práticas.   
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