Sorte ou azar?
Nominamos o que não queremos entender ou aceitar de sorte ou azar. Quando há falta de confiança, achamos que precisamos de sorte e o insucesso, entendemos como azar.
Nominamos o que não queremos entender ou aceitar como sorte ou azar. Quando falta confiança, achamos que precisamos de sorte; o insucesso, entendemos como azar.
O meu terapeuta de floral, o Cesar, um dia me falou em uma consulta algo que nunca mais saiu da minha cabeça: “A maior causa de mortes no planeta é a dúvida”. Mesmo sem ler nenhuma pesquisa a respeito, aquela informação fez sentido para mim. Depois desse dia nunca mais fui capaz de dissociar todo distúrbio e desequilíbrio a minha volta dessa afirmação.
Como eu entendi essa afirmação? Sem nenhum controle, veio à tona memórias do passado e eu pude revisitar vários momentos da minha vida onde a dúvida me torturou. Dessa forma, percebi que a dúvida é muito amiga do medo, da falta de confiança e da angústia. Assim, a dúvida é bem semelhante a uma prisão que eu mesmo, muitas vezes, construí para lá usufruir do meu medo. E, principalmente, da falta de confiança que eu tinha na minha capacidade de realizar o que o meu coração me mostrava.
Momento de dúvida
Quantas vezes, inconscientemente, criei na minha mente um cenário negativo por duvidar da minha capacidade de lidar com determinadas situações e emoções. Entretanto, existe um segundo momento da dúvida que é mais grave: é quando você se sente aprisionado por não confiar na vida e nos desígnios da alma. Mal sabia que quando duvidava da generosidade da vida, minha alma estava escutando.
Hoje eu entendo que, de fato, eu estava quase insultando a minha alma. Eu não sabia que ao escrever essas cartas mentais a ela me confessando, ela me daria mais experiências relacionadas ao valor. A dúvida tinha a ver com a ignorância sobre quem eu era. E isso era uma desvalorização imensa sobre as minhas possibilidades e os meus propósitos aqui na Terra.
Sem destino
Nesse sentido, seria o mesmo que ao partir com meu barco eu tivesse esquecido qual a minha rota. E que, no meio do mar, me sentisse incapaz de velejar minha embarcação de volta para casa. Viagem perigosa não é aquela por mares tempestuosos, e sim aquela aonde não sabemos qual o destino. Todo barco que parte tem que chegar.
A lógica da alma age em oposição ao nosso ego e a nossa expectativa. Quanto mais eu me desvalorizava, mais experiências de desvalorização eu atraia. Não existe no mundo espiritual esmola. Existe compaixão. E, as duras penas, eu compreendi que a vida não sente pena de ninguém. E mais do que isso, ela entende que o aprendizado deve acontecer pelo livre arbítrio de cada indivíduo.
Por fim, o que eu demorei para entender é que pensamentos carregados de emoções negativas são emanações que ecoam para o campo das possibilidades. Ou o Universo — e por sua vez esta inteligência amorosa — nos devolve com precisão a experiência que nos dá a possibilidade de restaurar o nosso equilíbrio.
Sorte e azar
Assim, muitas vezes ao me ver estagnado na energia do medo, da dúvida, da falta de confiança, eu confundi e distorci este conceito universal. Muitas vezes, confundi castigo com oportunidade. Aliás, esse mecanismo de erro e castigo é a base de toda a ideia de pecado. Não fomos educados a entender que erro é aprendizado, talvez por isso sentimos medo de experimentar, e assim nos detemos na dúvida.
Dessa falsa crença que nos falta algo, criamos a entidade da sorte e do azar. Nominamos o que não queremos entender ou aceitar como sorte ou azar. Quando achamos que precisamos de sorte, navegamos pela negatividade da falta de confiança, pois cremos que não temos tudo dentro de nós.
E assim nos descredenciamos das nossas responsabilidades para nos conectarmos com a criação coletiva da dúvida. Os jogos até parecem que existem para reforçar estas falsas crenças. Quando jogamos temos a esperança, mas também temos a dúvida. Se perdermos foi o azar. Muitas vezes o nosso insucesso é entendido como azar, e é neste exato momento que perdemos, e nos perdemos. Assim, nos distanciamos do aprendizado que transforma a experiência em oportunidade.
Uma questão de nomes
Estes pensamentos negativos coletivos criam entidades. Assim existem as entidades do ódio, da sorte, do medo, da cobiça e assim por diante. Quando sentimos essa emoção sem consciência, ajudamos a alimentar a entidade que se alimenta da nossa energia.
A dúvida é como um pântano. Quanto mais tempo a pessoa se detém nessa energia, mais presa ela fica.
“Não nascemos para criar ou alimentar um mundo de desconfiança, mas é o que temos feito, basta olhar a nossa volta. A dúvida é o resultado da falta de confiança, e ela nos tira daqui, pois ela nos afasta do centro da vida. Confiar em si é o primeiro degrau de uma longa ascensão, pois o desafio é navegar pelo sentir, e não pela programação do pensar. Quando estamos em equilíbrio pensamos com o coração e traduzimos pela mente. Fazer um voo cego é um ato de comunhão com a nossa alma, e o propósito deste capítulo é a reconstrução dos pilares da confiança. Nunca viveremos em um lugar justo se não confiarmos em nós e nos nossos semelhantes.
BETO PANDIANI é velejador, palestrante e escritor. Velejou da Antártica à Groenlândia, cruzou dois oceanos (Pacífico e Atlântico), sempre em pequenos veleiros sem cabine. Tem sete livros publicados.
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