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Restauração para o planeta e para a alma
Nikola Jovanovic
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Meu amigo Zé é um baiano de olhos verdes, estatura mediana e sorriso permanente no rosto. Adora filosofia, yoga e meditação. Pescador por essência e empreendedor social por vocação, Zé desenvolve no local onde habita – Itaparica, próximo a Salvador – um importante trabalho de preservação marinha, especialmente focado na restauração dos recifes de corais que rodeiam a ilha. Entre as muitas pessoas que se dedicam aos temas de sustentabilidade, preservação, ESG e termos afins, Zé Pescador é uma das poucas que realmente vivenciam a degradação imposta pela falta de consciência do homem, as questões políticas envolvidas e uma legislação ambiental que não é eficiente em todas as pontas. “A prática tem muito mais poder do que o discurso”, disse-me ele em uma das nossas conversas.

Zé desenvolve um projeto de recuperação de corais da região, os quais foram dramaticamente afetados por uma espécie invasora (coral sol), que veio de outros mares, provavelmente em navios cargueiros que atracam nos portos da região. Esse invasor, numa ação de autopreservação da espécie, destrói os corais locais, afetando completamente a biodiversidade marinha nos recifes e que, no longo prazo, pode também reduzir a oferta do pescado, prejudicando quem vive dessa atividade.

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Todos os dias, Zé observa a maré e se desloca até a barreira dos corais onde mergulha na solidão dos seus pensamentos e na sua determinação para eliminar os corais invasores e replantar os nativos. “A palavra do ano para mim é restauração” – disse-me ele. “Eu estou fazendo isso com os corais, mas também comigo mesmo, minha amiga.” E me contou suas últimas histórias, seu divórcio, as dificuldades do projeto, alegrias e dramas com os quais tem lidado.

Restauração é a ação de recuperar, reparar, consertar, colocar em bom estado novamente. Podemos restaurar um dente, uma obra de arte, um casamento, um coral, como faz o Zé, entre outras coisas. Saber identificar se queremos restaurar algo em nossas vidas exige reflexão, humildade e coragem. Às vezes, precisamos pedir desculpas. Em outras, precisamos perdoar. E, na grande maioria das vezes, precisamosapenas esclarecer os mal-entendidos.

Zé me deixou refletindo sobre as restaurações que quero fazer. Algumas com outras pessoas, mas a maioria são comigo mesmo: ser mais amorosa, menos crítica, mais leve com a vida. É um processo lento, doloroso e solitário, mas o resultado de tudo isso é a força que ganho, tornando-me mais resistente aos ataques dos potenciais invasores externos, mas, principalmente, os internos.


Esse conteúdo foi publicado originalmente na Edição 249 da Vida Simples

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