Artes que não subestimem crianças
As crianças carregam em si um potencial artístico imenso e é preciso sensibilidade para oferecer experiências que ofereçam uma conexão
Nesses mais de quatro anos de Guia Fora da Casinha já frequentei as mais diversas experiências artísticas em família. Quase todo fim de semana conferimos uma peça, um show, participamos de uma vivência ou vamos a uma exposição.
Somado aos meus estudos e à minha experiência direta com o público infantil só posso garantir uma coisa: toda criança é um artista nato e precisa ser acolhida em suas potencialidades. Entendi que, por isso, não é nada fácil produzir conteúdo de arte e entretenimento para os pequenos. Eles pedem boa qualidade em qualquer produção.
Quando começamos a divulgar agenda cultural para famílias, São Paulo ainda engatinhava no olhar pela importância de receber bem as crianças em seus espaços privados e públicos. Hoje, embora a cidade precise ouvir mais e mais as crianças, tenho confiança de que há mais opções e eventos, que muitas vezes são para adultos, com espaços adaptados para crianças.
Agora olhando para o que é produzido em todo Brasil, em diferentes proporções, dá para encontrar muita coisa boa feita com muito pouco investimento e até conteúdos de baixa qualidade com grandes patrocínios.
É bom contextualizar aqui que a arte vai de uma obra literária para crianças a uma oficina realizada pelo educativo de um museu. Entre um e outro, espetáculos e vivências. Seja para qual for o meio, é preciso ter sensibilidade, saber envolver as crianças do início ao fim do que estamos realizando. A não ser o que o que se queira seja só fazer passar o tempo.
Mas para envolver as crianças não basta conhecer só os nossos filhos, sobrinhos ou gostar de criança: é preciso muito feeling, estudo e saber olhar o mundo com os olhos destes seres humaninhos.
Não é colocar a máscara do personagem favorito e achar que isso é o suficiente. É preciso desenvolver projetos com início, meio e fim, já que nós queremos mais e mais pessoas consumindo arte, não?
É preciso mergulhar nessa audiência e trabalhar inclusive com o improviso, porque as crianças, meus amigos, elas são o tipo de pessoa que mais pode nos surpreender. O que é incrivelmente legal aos nossos olhos, pode ser totalmente entediante logo de cara. Faça testes!
Crianças querem tocar e trocar energia com seus mensageiros e com o próprio conteúdo. Sempre com olhar dinâmico, gostam de se movimentar, interagir, mas… sempre lembrando que para tudo há um equilíbrio: nem muito clássico chefe de excursão escoteiro e nem distante. Pra saber essa medida é preciso estudar, entender também o comportamento das crianças de hoje, que é diferente das de ontem e diferente em suas distintas idades.
Para construir sentido é bom desconstruir, e a arte tem esse papel também na infância. Onde cada criança vai ser impactada de uma maneira diferente. E só com muito entendimento sobre estes seres humanos a gente consegue uma conexão boa de acessar o desenvolvimento intelectual infantil, que é tão rico e pode nos ensinar muito.
*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.
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