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O avesso da culpa
Foto: Alan Herrera/Unsplash
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Neste artigo:

Hoje eu quero falar sobre um sentimento que permeia a história da humanidade, dos tempos bíblicos até os dias de hoje. Ele se chama culpa. Sei que carrega uma conotação negativa, pesada, mas acredito que possa ter um lado bom, se a gente aprender a trabalhá-la.

Confesso que, às vezes, me machuca o conflito interno entre a capacidade de experimentar um amor tão único, puro e bonito pelos meus filhos, João e Miguel, e a culpa por pensar que eu nunca vou ser bom o suficiente para eles – mesmo com todo esse amor. Um exemplo: eu me culpo todos os dias por não passar mais tempo com eles.

Uma outra culpa

Se é assim no papel de pai, também pode acontecer no papel de filho. Quantas vezes eu me peguei culpando meus pais por alguma coisa que eles fizeram e que eu considerei ruim, quando, na verdade, eles só queriam o melhor para mim? O problema é que, ao longo da vida, essa postura pode se tornar uma válvula de escape para a gente depositar as nossas dificuldades e frustrações na conta dos outros.

Existem muitas leituras sobre o sentimento de culpa na filosofia, na religião e na psicologia. Basicamente, tentando resumir, sem querer reduzir, ela é um conflito interno entre as normas sociais que se apresentam no mundo, sejam elas políticas ou religiosas, em contraposição à nossa adequação a elas e à capacidade que a gente tem de gerir essas regras, atendendo àquilo que a gente acha que é a expectativa do outro ou da sociedade em relação a nós.

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A ‘culpa do bem’

Mas, pense comigo: se a gente é tão capaz de se julgar culpado pelas coisas ruins, será que a gente não é capaz de se “culpar” também pelas coisas boas que acontecem na vida dos nossos filhos? Se a gente é tão capaz de culpar nossos pais, muitas vezes injustamente, por alguma coisa que aconteceu de ruim com a gente, será que a gente não é capaz de “culpá-los” também pelas coisas boas que aconteceram na nossa vida?

A gente cresce, amadurece, envelhece. E, talvez, esse sentimento nunca irá nos deixar. Então, precisamos aprender a conviver com ele. Sendo assim, eu queria propor o seguinte exercício: na mesma medida em que a gente se sinta culpado, a gente também seja capaz de se perdoar; na mesma medida em que a gente culpe os nossos pais – porque, sim, isso vai acontecer – a gente também seja capaz de “culpá-los” por todo o amor que eles nos deram e que ainda nos dão, estejam onde estiverem.

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Conteúdo publicado originalmente na edição 277 da Vida Simples.

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