Mais Uma Chance: um olhar sobre reinvenção e desapego
Neste filme, aprendemos sobre aceitar o que não é possível ter e abraçar com mais gratidão o momento presente
No filme Mais uma chance, aprendemos sobre aceitar o que não é possível ter e abraçar com mais gratidão o momento presente
Exercitar a capacidade de se reinventar quebra um bom galho quando a vida vai por um caminho que a gente não espera. Assim, quanto mais rápido a gente entende que as expectativas são só ilusões que podem muito bem não se realizar, poupamos tempo de sofrimento e conseguimos arregaçar as mangas, transformar o plano B em plano A, e seguir adiante.
Parece fácil, mas todo mundo sabe que não é. Afinal, temos expectativas bem básicas, que beiram a obviedade – e que são capazes de nos causar uma frustração imensa, inclusive contaminando os que estão ao nosso redor com aquela nuvem negra que a gente acha que só está em cima da nossa cabeça.
O filme Mais Uma Chance, da diretora americana Tamara Jenkins, fala disso, com foco principal na dificuldade de ter filhos. Rachel e Richard já estão na casa dos 40, privilegiaram a carreira em detrimento da parentalidade e, agora, o relógio biológico soa o alarme.
Embora esse seja o fio condutor da narrativa, reduzir o filme a isso é diminuir as suas sutilezas tão particulares da vida privada. Aliás, particulares e universais, por isso falam com todos nós.
Inclusive o título original é Private Life – o que ajuda a entender que Mais Uma Chance, uma deliciosa amostra do cinema independente americano, é sobre engravidar e ter filhos, mas é também sobre adoção, descobertas, reinvenção, desapego. Em outras palavras, sobre aceitar o que não é possível ter e abraçar com gratidão o momento presente.
Desse modo, Rachel e Richard vão vivendo o que lhes cabe, percebendo que as fases passam e que não dá mais pra viver expectativas passadas. Aceitam as mudanças e, no fim das contas, uma vez isso entendido, ganham mais do que perdem. Ganham a eles mesmos de volta – mais firmes e mais presentes.
Ah! Com humor – na capacidade de rir de si próprio, mesmo quando a nuvem negra teima em não se movimentar.
Onde assistir: Netflix
Suzana Vidigal é tradutora, jornalista e cinéfila. Gosta de pensar que cada filme combina com um estado de espírito. Gosta ainda mais de compartilhar com as pessoas a experiência que cada filme desperta na mente e na alma. Em 2009 criou o blog Cine Garimpo (www.cinegarimpo.com.br e @cinegarimpo) e traz, quinzenalmente, dicas de filmes pra saborear e refletir.
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