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Fazer minhas mãos trabalharem mudou minha relação com o mundo
Cassidy Phillips | Unsplash
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Pensei bastante e acredito que a frase do título seja a melhor forma de me apresentar aqui na minha nova coluna em Vida Simples; ela resume a minha jornada de busca por clareza em uma sociedade frenética.

Desde a adolescência eu percebi que as minhas escolhas falavam muito sobre como eu gostaria que fosse o lugar em que eu vivo. E não só as decisões de consumo, mas também os hábitos de lazer e até as práticas de comunicação, por exemplo.

Fazemos escolhas o tempo todo e eu decidi muito cedo que iria me responsabilizar pelas minhas, fugindo ao máximo do que coloca em risco a natureza, as relações, a biodiversidade ou a vida das pessoas.

Eu atribuo ao fazer manual a possibilidade de me conectar com as coisas de forma menos aleatória. É verdade que eu sempre me encontrei nas atividades que ocupam as mãos mas hoje consigo racionalizar em uma linha do tempo o quanto isso ajudou a formar meu olhar.

Começou na adolescência quando me tornei vegetariana e aprendi a cozinhar. Fazer minha comida me ajudou a ter uma alimentação mais fresca, me proporcionou contato com pequenos produtores e me mostrou a importância de apoiarmos o cultivo orgânico.

Depois apliquei a mesma lógica à minha rotina de cuidados com a pele e cabelo. Me aproximei do uso das plantas em cosméticos e fui muito atraída pela possibilidade de não depender apenas de produtos embalados pra me sentir confortável na minha pele, fazendo eu mesma parte do que uso no banheiro.

Com agulha e linha, passei a consertar minhas roupas sozinha para valorizar a história que tenho com elas e não recorrer às lojas o tempo todo. Tem a ver com fazer as coisas durarem e depender menos da extração de recursos naturais. Nunca mais parei de experimentar essas relações.

Quando eu faço um creme para a pele, cozinho meu almoço ou costuro minhas roupas, ganho não só autonomia material mas também conquisto um certo conhecimento sobre parte dos processos envolvidos na produção das coisas que desejo.

Esse conhecimento é sólido, ele me dá base pra decidir se eu prefiro fazer, comprar de outras pessoas que fazem com atenção como eu ou de quem está só sentado lucrando com o trabalho dos outros.

Nossa sociedade de consumo favorece o que está pronto, que pode ser reproduzido em escala nas fábricas. O lugar onde a gente compra é muito longe do lugar onde as coisas são feitas. Assim somos levados a automatizar nossas escolhas, sem questionar as variáveis de tempo, esforço, origem e valor do que consumimos.

Mesmo quando eu passo o dia inteiro em frente de uma tela (e isso é um enorme dilema para mim), me fortaleço por reconhecer o poder das minhas mãos, habilitadas a transformar mas também a me ensinar, mesmo que seja apenas escrevendo esse texto com o teclado.

Ficaria feliz em saber que as palavras colocadas aqui te estimularam a procurar significado no que é feito com as mãos. Há muito pra explorar: o barro da cerâmica, as ferramentas da marcenaria, as sementes de uma planta… E um universo de novas escolhas – e mudanças –  ao alcance das nossas mãos.

Fê Canna coloca atenção em suas escolhas como forma de resistir ao que percebe de errado no mundo. Acredita que com um olhar atento é possível fazer escolhas mais cuidadosas com a natureza, as outras pessoas e nós mesmos. Seu site é www.fecanna.com

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