Dei férias para o cinema
A vida de todo mundo - e do mundo todo - virou de ponta-cabeça este ano e já estamos falando quase de um ano inteiro de pandemia.
A vida de todo mundo – e do mundo todo – virou de ponta-cabeça este ano e já estamos falando quase de um ano inteiro de pandemia. Pra mim, sempre mergulhada no cinema, foi uma virada diferente: passei a devorar o conteúdo das plataformas digitais, selecionando o assistir, descobrindo pérolas e caindo em roubadas, mas mergulhando no que estava disponível naquele momento. Foram meses de descoberta.
Pra quem falava de cinema com a palavra escrita há 10 anos, descobri o vídeo. Foram mais de 100 falando de filmes no Instagram, um sem número de lives sobre assuntos da vida com o cinema como pano de fundo, garimpos em plataformas pouco antes navegadas, fora do mainstream Netflix. “Abri” minha casa para os “cinéfillos, queridos” – com chamo meus seguidores – e compartilhei o que acredito ser uma ferramenta maravilhosa para refletir sobre a vida, para entrar em contato com realidades diferentes, para aprender.
O Cine Garimpo nasceu digital, num momento em que o digital estava engatinhando -, mas nesta etapa me vi engolida por esse tsunami de conteúdos cinematográficos, lisonjeada pelos seguidores amantes do cinema que me acompanham e me fizeram companhia. Inclusive, ouvi de muita gente que o Cine Garimpo ganhou uma cara nova, agora sabendo quem é a pessoa que pensa o que diz meu garimpo. Mas também me vi exausta com essa demanda tão grande, com essa euforia da nova forma de comunicação, com a força do audiovisual que chega arrebatador pra falar de todos os assuntos da vida e nos tirar da zona de conforto.
Tudo isso pra dizer que, esta semana, não escrevo uma coluna sobre um filme específico. Mas sobre todos. Sobre a importância desse meu objeto de estudo que saiu do hobby pra ser ofício, que me acompanha até quando ele não é o centro dessa reflexão. Depois desse mergulho profundo no mundo das plataformas digitais e da produção insana (e riquíssima) de conteúdo em tempos de quarentena, esta semana tirei para desintoxicar e descansar. Saí de cena pra me conectar comigo mesma, pra reorganizar as prioridades, para recapitular as transformações deste ano pandêmico.
Dei férias para os filmes e como é bom se recuperar deste momento, esvaziar a mente e fazer pausas. Tirei férias do cinema e como é bom saber que eles continuam me inspirando em cada referência, em cada conversa, em cada pensamento. Não deixa de ser um ócio criativo, afinal de contas. E deixei o cinema livre de mim um pouco também – com a certeza de que, semana que vem, nos encontramos de novo, garimpando filmes por aí!
Suzana Vidigal é tradutora, jornalista e cinéfila. Gosta de pensar que cada filme combina com um estado de espírito, mas gosta ainda mais de compartilhar com as pessoas a experiência que cada filme desperta na mente e na alma. Em 2009 criou o blog Cine Garimpo (www.cinegarimpo.com.br e @cinegarimpo) e traz, quinzenalmente, dicas de filmes pra saborear e refletir.
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