O poder do silêncio na comunicação verbal
Na comunicação verbal, o silêncio — traduzido na pausa — pode ser muito sedutor e tão eloquente quanto as palavras. Ele também pode demonstrar segurança, controle e domínio.
Na comunicação verbal, o silêncio — traduzido na pausa — pode ser muito sedutor e tão eloquente quanto as palavras. E também pode demonstrar segurança, controle e domínio.
Debussy disse “A música é o silêncio entre as notas”. Com a comunicação verbal não é diferente, pois, às vezes, falamos mais com a eloquência do silêncio que propriamente com as palavras. A pausa silenciosa chega a ser sedutora. Quando bem feita, no final do pensamento, após inflexão de voz apropriada, constitui demonstração de segurança, controle e domínio.
É nesse momento de silêncio, que pode ser apenas uma fração de segundo, que a comunicação mostra seu encanto. As informações transmitidas são valorizadas. O ouvinte tem a oportunidade de refletir sobre a mensagem que acabou de receber. Passa a existir expectativa sobre o que virá a seguir.
Se quem faz a pausa, conseguir naquele momento de silêncio manter contato visual com o interlocutor, além de não quebrar a linha de comunicação que os mantêm ligados, se comporta como se estivesse, silenciosamente, repetindo as informações importantes que acabou de pronunciar. Há assim uma valorização da pausa e do silêncio.
O silêncio da pausa
A pausa silenciosa tem tanta influência no processo de comunicação que chega até a funcionar como elemento de transição. Isto é, em vez de ligar as informações importantes com palavras ou expressões, a passagem de uma parte da mensagem para outra é feita com o silêncio da pausa. Esse recurso, que possui valor estético excepcional, facilita o entendimento, porque houve uma espécie de aviso de que nova informação estava para surgir, cria expectativa e mostra como o assunto está evoluindo, caminhando, progredindo. E isso faz com que as pessoas acompanhem com mais interesse e motivação o que está sendo exposto.
Para que alguém saiba se desenvolveu sua competência oratória, esse é um dos maiores indicadores — a tranquilidade de ficar em silêncio durante os instantes de pausa. E como nos referimos a um dos maiores indicadores, como curiosidade, os outros dois são: ouvir o som da própria voz e conseguir enxergar a fisionomia das pessoas na plateia.
O silêncio é de ouro
Quase todo mundo conhece a velha frase que já se tornou chavão: a palavra é de prata, e o silêncio é de ouro. Essa frase tão conhecida ganha contornos especiais quando descobrimos que foi esculpida pela pena primorosa de um dos mais extraordinários autores mundiais, Maurice Maeterlinck.
Esse escritor belga publicou um livro em 1896 que fala da importância do silêncio, “O tesouro dos humildes”. Com esse trabalho conquistou o Prêmio Nobel de Literatura em 1911. Em uma das passagens de sua obra ele diz: “Dir-se-ia que a alma não tem face. Nós não nos conhecemos ainda, escrevia-me alguém que eu muito amava; não tivemos ainda coragem de nos calar juntos”.
E para enfatizar mais a relevância do silêncio, Maeterlinck cultiva esta pérola literária: “As abelhas só trabalham no escuro; o pensamento, no silêncio; e a virtude, no segredo”.
Rubem Alves foi outro que usou o brilhantismo do seu texto para enaltecer a exuberância do silêncio. Quando esteve em um mosteiro suíço, esse teólogo, filósofo e psicanalista disse ter aprendido a importância de permanecer calado. Segundo ele, durante os horários de refeição as pessoas não eram proibidas de falar, mas eram econômicas nas palavras. E nas liturgias que se realizavam três vezes ao dia, todos permaneciam em silêncio absoluto.
Silêncio de dentro
Revelou que ficar em silêncio durante as refeições, sem ter de conversar com quem estava ao lado, foi para ele momentos de profunda reflexão e de encontro com a felicidade. Disse ainda que “Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. A ausência de pensamentos. E aí, quando se faz silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia”.
Shakespeare em uma de suas peças mais encenadas e aplaudidas, Hamlet, escolhe como última frase para fechar a história, dita pelo próprio Hamlet à beira da morte: “O resto é silêncio”. Érico Veríssimo se aproveitou dessa mesma frase para o título de um de seus livros mais marcantes.
Ficar em silêncio enquanto ouvimos alguém falar é sinal de atenção, respeito e consideração. Ouvir em silêncio, entretanto, não significa ficar impassível, inexpressivo. É preciso ter sempre uma audição interativa, como, por exemplo, acenar levemente com a cabeça, levantar a sobrancelha como demonstração de que estamos surpresos com certas informações, exclamar nos momentos em que o relato se torna mais efusivo. Dessa forma, nós nos comunicamos bem sem que pronunciemos uma única palavra.
REINALDO POLITO é mestre em Ciências da Comunicação, palestrante, professor nos cursos de pós-graduação em Marketing Político e Gestão Corporativa na ECA-USP e autor de 34 livros que já venderam 1,5 milhão de exemplares em 39 países. Sua obra mais recente é“Os Segredos da Boa Comunicação no Mundo Corporativo”.
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