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Como celebrar dias comuns em casa
Valiant Made | Unsplash
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Celebrações não são apenas diversão, acima de tudo representam um ponto de conexão e encontro com nossas casas e nossas vidas.

Foi num desses almoços de família aos domingos, que nos reunimos à tardinha para olhar nossos álbuns de fotografia. Meu pretexto, começar a montar minha árvore genealógica. À primeira vista me pareceu fácil visualizar as ramificações. Afinal, minha família nem é tão grande assim. Entretanto, foram as fotos das festividades caseiras com todo mundo reunido, que saltaram daquelas páginas amareladas diretamente para o meu coração.

Eu não me lembrava de quão animadas eram nossas reuniões familiares. Assim, todo acontecimento era motivo. Qualquer ambiente da casa servia para tamanha alegria. Abandonei a árvore, e decidi passear pelas memórias através das fotos, recordando cada acontecimento junto com toda aquela gente animada.

Tinha parabéns na cozinha, festa do pijama no quarto, almoço no quintal, pista de dança na sala, chá de bebê na varanda. Enxerguei minha vida naqueles momentos. Assim, apreciei cada festejo nos diversos ambientes de nossas casas. Dessa forma, claramente entendi de onde vinha a herança de gostar de abrir espaços para coisas importantes na vida. Até mesmo para as celebrações familiares. Mesmo que não houvesse lugar suficiente, a gente arrastava os móveis e criava momentos memoráveis.

A beleza de se reunir

Comemorar é uma necessidade espiritual, e nos reunir reforça a habilidade de transformar estes momentos em rituais de alegria. Poucas coisas dão tanta vida aos lugares que moramos quanto uma reputação de reuniões inesquecíveis. Ainda assim somados os convidados, tornam o local afetuoso, hospitaleiro e repleto de lembranças alegres. Penso na palavra reunião e coloco a ênfase onde se deve estar –  pessoas que se encontram para usufruir da agradável companhia umas das outras.

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Crédito: Mohau Mannathoko | Unsplash

Dessa forma, sinto que do ponto de vista agregador da casa e da alma, as melhores reuniões são aquelas que incluem gente de diversas idades, raças, religiões, profissões e estilos de vida diferentes. Qualquer lista de convidados que a gente crie, é na verdade um catálogo abreviado das pessoas importantes que fazem parte da nossa vida.

Para isso, não necessitamos de uma casa perfeita, um guarda roupa da moda, uma cozinha superequipada ou uma sala toda decorada na tendência. Não precisamos convidar tanta gente também. Basta termos um bom motivo. Um open house, assar pizzas, testar uma receita nova, conhecer uma pessoa bacana ou ouvir uma ideia interessante. São propósitos que reúnem as pessoas, ao mesmo tempo que transformam o lugar que a gente mora em um ninho acolhedor para a beleza do encontro.

Comemore os dias comuns

Hoje penso que muitas coisas aconteceram desde que essas fotos foram coladas nos álbuns há tanto tempo. Percebo que continuo convivendo com minhas celebrações diárias como uma resposta instintiva diante da vida. Assim, aprendi que pessoas que festejam espontaneamente, e sem afetação, sabem que sempre existe algo para comemorar. Desta maneira, enxergo que tenho o hoje, o mais sagrado de todos os dias já vividos e ainda não vividos! É a ele que tenho celebrado.

Entretanto, dizer que deveríamos festejar o simples fato de estarmos vivos pode parecer melodramático demais, mas é um fato absolutamente verdadeiro nos dias atuais. Agradeço mesmo nos dias mais comuns poder continuar celebrando esse fato tendo minha família, amigos, uma casa para viver e comida no prato.

Assim, comemoro também o simples fato de continuar trabalhando para que casas sejam sazonais, com cores, vistas e cheiros, transformando ambientes à medida que atravessamos nossas próprias estações. Acolho a primavera com flores e renovação, o verão com cores leves e sentimentos de janelas abertas, o outono com tons de ferrugem e introspecção. Por último o inverno. Com cadeiras próximas a fogueira me deleito com o conforto das mantas de lã e dos calorosos romances.

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Crédito: Kelsey Chance | Unsplash

Crie ritos de passagem 

Por fim, quando estivermos livres deste distanciamento social, sugiro uma grande celebração. Como um ritual de passagem. Assim, reúna algumas pessoas e deixe que sua experiência se misture com as delas. As pessoas podem trazer flores ou uma garrafa de vinho. Entretanto, entenda que não são os presentes que vão viver em sua casa por tanto tempo quanto vocês.

O presente que a presença de cada um representa é que é duradouro. Olhar para as fotos nos álbuns me fez lembrar da falta que sinto desses encontros em casa. Quando juntamos o espírito amigo das pessoas aos espaços simplificados e conservados com amor — além de uma comida deliciosa que nos acolhe — o resultado só pode ser o tipo de lugar que sua alma sempre vai desejar voltar, sua casa!

E não há melhor lugar no mundo para se estar.


Clô Azevedo é arquiteta e acredita que a casa é uma extensão das vidas que a habitam. Desenvolve projetos de design de interiores afetivos para conectar pessoas com suas histórias, inspirando a reinventar seu próprio espaço, morar bem e viver melhor. Seu site é designafetivo.com.

*Os textos de nossos colunistas são de inteira responsabilidade dos mesmos e não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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