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AOS OLHOS DE ERNESTO, de Ana Luiza Azevedo (Brasil, 2019)
Divulgação
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Ernesto tem 78 anos, é fotógrafo, está perdendo a visão e, portanto, a autonomia. Mora sozinho e o filho está aflito. Mas Ernesto não quer mudar. Vive apegado às memórias do apartamento onde passou a vida, preso ao passado. Até que conhece Bia, uma jovem de 23 anos, que passeia com os cachorros da vizinha e entra na sua vida sem pedir licença.

Envelhecer em Aos Olhos de Ernesto, da cineasta gaúcha Ana Luiza Azevedo, tem esse gostinho de mudança. Tem um tom de portas que são suavemente deixadas entreabertas para que algo novo possa perceber que há uma brecha. O novo entra devagar, vai ocupando espaço, até que já estão todos transformados. Aqui, envelhecer tem um gostinho de futuro, mesmo se os futuros dos dois personagens têm tamanhos e perspectivas tão distintas.

É justamente o diferente que desenha o futuro. Bia pode até ser oportunista, mas Ernesto tem sabedoria. Bia pode até ser interesseira, mas Ernesto confia. Bia está perdida, mas Ernesto mostra um caminho. Envelhecer tem, aqui, gostinho de confiança, pra experimentar novas sensações.

Olhos de Ernesto

São as sensações que constroem este relacionamento improvável, que vai despertar o que há de melhor em cada um deles. Ernesto já não enxerga bem, mas usa sua intuição como olhos pra que sua alegria de viver não tenha mais que contar os dias que lhe restam. Envelhecer, aqui, tem brilho nos olhos com o despertar de uma nova experiência.

E são as experiências vividas na leitura e na escrita de cartas, na poesia, nas caminhadas, nos jantares, na convivência que elimina a diferença de idade, que despertaa empatia. Bia e Ernesto criam uma nova narrativa, não somente nas cartas, mas nas próprias vidas. Percebem que têm o poder de escolher que rumo vão tomar enquanto protagonistas de suas próprias jornadas e encontram o caminho da compaixão e do amor. Envelhecer, aqui, tem gosto de juventude de alma, de humor a qualquer custo, de humildade pra recomeçar.

Assisti ao filme através dos olhos generosos de Ernesto, guiados pela sabedoria de quem já viveu e de quem não tem mais tempo para julgamentos. Um retrato gentil, emocionante e belíssimo da idade do envelhecimento com amor pela vida.

Onde assistir: NOW, VivoPlay

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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