A licença-paternidade no Brasil dura menos que o Carnaval e isso é um absurdo
Cinco dias. Esse é o tempo que a maioria dos homens tem para viver o início da vida do próprio filho
Cinco dias. Esse é o tempo que a maioria dos homens tem para viver o início da vida do próprio filho.
Menos tempo do que muitos tiram para ir a um festival, descansar no feriado ou fazer uma viagem de negócios.
A pergunta é: quantos momentos importantes da sua vida cabem em cinco dias?
Agora imagine o nascimento do seu filho.
Imagine o choro da mãe. O medo. A alegria. A dor. A insegurança. O amor transbordando.
Imagine tudo isso… e você tendo que voltar pro trabalho na segunda-feira como se nada tivesse mudado.
É esse o modelo de paternidade que ainda naturalizamos no Brasil.
Ser pai não é um bônus. É um compromisso
A presença do pai nos primeiros dias não é “ajuda”.
É parte do processo.
É cuidado.
É presença.
É afeto.
É também responsabilidade emocional, física, financeira e social.
Assumir a paternidade desde o começo é investir no futuro da sua família — e da sociedade como um todo.
Estudos mostram que crianças com pais presentes desde o nascimento têm melhor desenvolvimento emocional, mais estabilidade e relacionamentos mais saudáveis.
Além disso, a mãe sofre menos com a sobrecarga, o que impacta diretamente o bem-estar do bebê.
Se sabemos disso tudo…
Por que ainda resistimos a discutir a ampliação da licença-paternidade com seriedade?
A licença de 5 dias não basta. E você sabe disso.
A realidade é que o modelo atual de 5 dias é insuficiente, excludente e cruel.
E o impacto dessa ausência forçada dura anos.
O vínculo que não se cria no início pode nunca ser recuperado.
A sobrecarga que recai sobre a mãe adoece.
A criança percebe a ausência — mesmo sem saber falar.
E o pai perde a chance de viver um dos momentos mais transformadores da vida.
Você realmente quer deixar isso passar?
O que está em jogo no Brasil hoje
Felizmente, a pressão por mudança está crescendo.
Projetos de lei estão sendo discutidos. A sociedade começa a acordar.
Entre eles, o PL 139/2022 propõe ampliar a licença-paternidade para 60 dias e permitir o compartilhamento de até 30 dias da licença-maternidade com o pai.
Outras propostas como a PEC 58/2023 sugerem 20 dias de licença-paternidade. E o PL 3.773/2023 prevê uma ampliação gradual.
Mas nenhuma dessas propostas vai virar realidade se a sociedade não mostrar que isso importa.
Se os homens continuarem calados.
Se as empresas continuarem empurrando com a barriga.
Se os líderes continuarem fingindo que está tudo bem.
E o que a presença do pai muda, de verdade?
Falo com a autoridade de quem viveu.
Quando minha filha nasceu, estar com ela nos primeiros dias foi um marco na minha vida.
Ali não nasceu só uma criança. Nasceu um pai.
Aprendi a trocar fralda, a acolher o choro, a acalmar a ansiedade, a dar colo, a estar inteiro.
E mais do que isso: fortaleceu minha relação com minha esposa, com meu trabalho e comigo mesmo.
Agora, à espera do meu segundo filho, essa certeza só se reforça:
ninguém pode ocupar o meu lugar de pai. Nem por um dia.
E o que me revolta é pensar em quantos pais não vivem isso por causa de uma política pública atrasada.
Por causa de um sistema que ainda trata o homem como um coadjuvante na própria família.
Licença-paternidade não é mimo. É justiça
Nos países nórdicos, como a Suécia, a licença-paternidade é longa, incentivada e vista como essencial.
Resultado? Famílias mais equilibradas, mães com mais autonomia, filhos mais bem cuidados — e pais mais presentes.
O que está nos impedindo de seguir esse caminho no Brasil?
Será medo?
Vergonha?
Machismo disfarçado de tradição?
Seja a mudança que você quer ver no mundo. E na sua casa.
Recentemente, aceitei o convite para ser embaixador da Coalizão Licença-Paternidade (CoPai), uma organização que luta por essa causa.
E faço isso porque acredito profundamente: ser pai é estar. Desde o começo.
É não terceirizar o cuidado.
É não abrir mão dos primeiros passos da jornada.
Essa não é apenas uma luta por dias a mais de folga.
É uma luta por um país onde homens e mulheres dividem de verdade o cuidado.
Onde filhos crescem com a presença dos dois.
Onde o afeto não é adiado.
E você? Vai continuar achando que cinco dias são suficientes?
Ou vai se juntar a esse movimento por um futuro mais justo — começando pela sua própria casa?
Ser pai é uma escolha diária. Que começa no primeiro dia.
E esse dia precisa ser seu também.
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