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5 frases que você nunca deveria dizer para um adolescente
Daria Tumanova
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Uma das maiores queixas que escuto de familiares de adolescentes nas escolas é: “Eu não consigo ter uma conversa com meu filho sem que termine em discussão!”. Ser responsável por um adolescente significa fazer o exercício diário de não julgar, não diminuir os sentimentos, não criticar em qualquer oportunidade. Conversar com um adolescente é difícil, sabemos, mas não precisa ser impossível.

A seguir, vamos entender o contexto dessa relação e, através de cinco exemplos, mostrar como melhorar a comunicação com eles.

Lembre-se sempre: o adolescente é uma pessoa em formação

Obviamente, as alterações de humor e as opiniões super incisivas são empecilhos para a paciência dos adultos, mas será mesmo que são a única causa desse problema?

Pense no seu adolescente. Tente, pelo menos dessa vez, deixar a nostalgia de lado e não se lembrar de como ele era fofo quando deixava você escolher as suas roupas, pedia mais um beijo antes de dormir e achava que você era a pessoa mais inteligente do mundo. Não se lamente pela porta batendo, pelo aparente desinteresse completo e pela sensação de que vocês não têm mais nada em comum.

Imagine seu filho como uma pessoa – que está em formação, mas ainda assim uma pessoa – e não como uma preocupação. Um indivíduo com suas próprias angústias e frustrações e que, ainda por cima, lida com todas as transformações fisiológicas, sociais e mentais que a existência nos exige nessa fase.

Você sabe ouvir (de verdade)?

Grande parte dos problemas de comunicação entre pais e filhos seria evitada se os adultos simplesmente soubessem escutar mais e melhor.

Essas questões podem nortear suas atitudes nas próximas conversas com um adolescente:

  • Será que ele consegue completar um raciocínio sem ser interrompido por você?
  • Você presta atenção de verdade no que está sendo dito ou já está imaginando o que responder enquanto ele está falando?
  • Consegue exercer a humildade de pedir um tempo para pensar ou sente que precisa ter uma resposta pronta imediatamente?

Exemplos práticos do que não dizer para um adolescente

Perguntei para alguns adolescentes quais são as frases ditas pelos adultos que mais causam frustração. Aqui, reproduzo algumas delas, explicando por que elas não ajudam na comunicação:

1. “Um dia você vai entender”

Essa é uma frase absolutamente vazia de sentido. As questões deles não são menos importantes do que as nossas. O fato de que as coisas provavelmente ficarão mais claras com a maturidade, não exclui o fato de que eles querem e precisam entender o que desejam, pensam e sentem hoje. Inclusive, desenvolver a capacidade de refletir sobre as mais variadas situações contribui para o desenvolvimento de diversas habilidades e competências, dentre elas a resolução de problemas e a empatia.

2. “Sua única obrigação é estudar”

Essa frase é injusta. Aprender, absorver, estudar cerca de dez matérias por semana e ainda dar conta de todas as questões mentais e sociais da adolescência não é trivial. Além disso, todos sabemos como o sistema educacional está defasado e precisa ser revisto e isso não acontecerá de um dia para o outro. Reconhecer o tamanho dessa obrigação não atrapalha a motivação e o engajamento do estudante; pelo contrário, é justo e honesto. E o mais importante: seu filho sabe estudar? Como anda sua autoestima intelectual? Você tem frequentado a escola para entender como anda o seu desenvolvimento acadêmico ou só cobra os resultados?

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3. “Daqui a alguns anos você nem vai se lembrar disso”

Essa segue a mesma lógica da primeira frase: se o adolescente está vivendo um amor não correspondido, por exemplo, não importa que será irrelevante daqui a alguns anos, por maior que seja a sua certeza a esse respeito. O sentimento precisa ser respeitado e acolhido hoje, justamente para que o indivíduo que está se formando desenvolva repertório emocional para lidar com as suas próximas relações.

4. “Por que você não age como seu irmão/primo/amigo?”

Não compare o adolescente. Além de ser cruel – a nossa autopercepção varia muito nessa fase da vida – não há nenhum efeito positivo nessa fala. Pelo contrário, só faz com que ele desenvolva questões de autoestima e, muitas vezes, ressentimento em relação à pessoa a quem foi comparado.

5. “Que música/livro/série horrível! Você precisa melhorar seus gostos!”

Quais as chances de um adolescente passar a escutar música clássica só porque você disse que o funk é de mau gosto? Essa é uma crítica superficial, egocêntrica e absolutamente inútil. Cultura e arte não se constituem apenas pelo que você aprecia. A postura crítica só afasta o adolescente. Poder dividir suas preferências com adultos – e sem medo de críticas – é uma parte relevante do processo de formação da personalidade.

As palavras têm poder: pense bem no que vai falar

Nesta semana, li a biografia do ator Matthew Perry, morto no último dia 28 de outubro. Uma das partes que mais me chamou a atenção foi quando ele contou que, na adolescência, uma professora disse algo como “se você continuar a fazer essas gracinhas, não vai ser ninguém”.

Anos depois, era um dos astros de Friends, uma das séries mais vistas em todo o mundo, milionário, um comediante extremamente engraçado. E, ainda assim, no auge da fama e lidando com problemas gravíssimos relacionados à dependência química, se lembrou de escrever para a professora, relembrando a frase, com uma revista que o exaltava anexada ao bilhete malcriado.

Se a postura dele foi certa ou errada, não nos cabe julgar. O ponto aqui é que a forma como fomos tratados enquanto crescemos, fica. E pesa, mesmo quando você parece ser a pessoa mais bem sucedida do universo.

Escutar e respeitar são atitudes fundamentais

A infância é o primeiro chão em que pisamos e a adolescência é a fase em que temos a oportunidade de decidir que pegadas vamos levar adiante.

Se queremos que nossos filhos se tornem adultos seguros, que se posicionam, que elaboram bem seus raciocínios e andam com a autoestima em dia, precisamos ser os primeiros a contribuir para que isso aconteça.

E uma das melhores formas de fazer isso é procurando desenvolver uma escuta ativa e respeitosa.

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