Você sabe dizer como o seu filho tem dormido? As luzes se apagam e ele já fecha os olhos, ou é preciso um longo tempo para que, enfim, ele pegue no sono?
Saiba que a demora para dormir é um sinal de que o sono está desregulado. Mudar essa condição é essencial para que a criança tenha um bom desenvolvimento com hábitos saudáveis.
Mas não só a demora para dormir é um indicativo de que o sono não está adequado. Segundo a educadora integrativa do sono infantil Nathalia Farias, outros sinais são irritação, facilidade para demonstrar frustração e choro frequente.
O sono tem um papel fundamental na vida das pessoas, independente da idade. O sono de qualidade ganha ainda mais relevância em pessoas que estão em fase de crescimento. Sendo assim, cada fase da vida humana tem uma determinada quantidade de horas necessárias para que o sono seja de qualidade.
De acordo com a National Sleep Foundation, as recomendações de horas de sono ideais por faixa etária são:
- Recém nascidos (0 a 3 meses): entre 14 e 17 horas.
- Bebês (0 a 11 meses): entre 12 e 15 horas.
- Crianças de 1 a 2 anos: entre 11 e 14 horas.
- Crianças de 3 e 5 anos: entre 10 e 13 horas.
- Crianças entre 6 a 13 anos: entre 9 e 11 horas.
- Adolescentes (14 a 17 anos): entre 8 e 10 horas.
Telas interferem na qualidade do sono de crianças e adolescentes
As telas interativas, como as dos celulares e tablets, são as que mais ameaçam o sono de crianças e adolescentes, caso não sejam usadas de forma equilibrada.
“As telas interativas literalmente substituem o sono. Isso porque você está interagindo com aquilo. É como se a gente trocasse o sono por mais atividade”, explica Andréia Tambosi, especialista em sono infantil e adolescente.
Ela destaca que, para que haja um sono com qualidade adequada, é preciso relaxar antes de dormir. Ela considera essencial ter um momento de descanso e até de tédio antes de pegar no sono.
Entretanto, com o uso exagerado de telas, esse momento não ocorre, e as crianças permanecem em um estado de agitação, adiando a hora de dormir e diminuindo o tempo do sono, afetando os sonhos e o descanso. Uma bandeira vermelha é o uso desses aparelhos interativos em momentos próximos à hora de se deitar da criança ou do adolescente.
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Recomendações de uso de tela para um sono melhor
A sociedade Brasileira de Pediatria recomenda um período de uso de tela por faixa etária. Respeitar as recomendações pode colaborar com um sono de qualidade para as crianças e adolescentes. Veja a seguir as horas de tela indicadas para cada faixa etária:
- Menores de 2 anos: nenhum contato com telas ou videogames;
- Dos 2 aos 5 anos: até uma hora por dia;
- Dos 6 aos 10 anos: entre uma e duas horas por dia;
- Dos 11 aos 18 anos: entre duas e três horas por dia.
Andreia recomenda a importância de estabelecer um horário limite para que as telas sejam desligadas. “A partir das 5 horas da tarde a gente pede que crianças não tenham mais nenhum tipo de contato com telas para que o sono seja adequado. Já nos adolescentes, o ideal é não ter mais nenhuma interação uma hora antes do adormecer, para que eles possam relaxar.”
Outra dica que a especialista traz é incentivar o contato com o mundo fora das telas. “Depois da criança ter assistido às telas, leve-a para um contato com a natureza, com o sol, com a brincadeira ao ar livre. Isso vai amenizar os efeitos negativos dos aparelhos eletrônicos”.
Dormir mal afeta o desenvolvimento
Manoel Alves Sobreira Neto, neurologista e especialista em medicina do sono, diz que há diferentes sinais de que a noite foi mal-dormida. E esses sinais variam de acordo com a faixa etária. “A criança tende a ficar mais agitada, mais inquieta, mais desatenta. Contudo, no adolescente ou adulto, às vezes ocorre a sonolência.”
Além do comportamento, o desenvolvimento físico também é prejudicado. Isso ocorre porque durante uma das fases do sono, chamada de ondas lentas, há a produção do hormônio do crescimento, importante para a faixa etária infantil. O médico explica que, portanto, dormir menos pode levar à alteração no potencial de crescimento da criança, uma vez que a falta de sono interfere na liberação desse hormônio.
Não só o desenvolvimento físico é prejudicado. O cognitivo é o que mais sofre com noites mal dormidas e sono de baixa qualidade. “A falta de sono afeta a memória e o aprendizado das crianças. Quando você dorme, o cérebro pega aquilo que está na memória curta e transfere a memória para a região das lembranças de longo prazo. Ou seja, o sono ajuda a memorizar aprendizados recentes e importantes, que podem ser essenciais para a vida toda. Sendo assim, não dormir bem afeta o desenvolvimento cerebral, porque deixamos de executar com eficiência essas funções relacionadas à memória.”
Um bom sono tem vários fatores
Para Nathalia Farias, o sono de qualidade é reflexo de uma boa rotina do dia, o que inclui horários regulares para todas as atividades, além de hábitos saudáveis.
Ela explica que o sono é multifatorial e muitas questões o afetam positiva ou negativamente. E isso acontece desde o nascimento. “Saúde do bebê, questões emocionais dos pais, dificuldade de harmonia entre os pais ou tutores, sobrecarga materna, estilo de vida dos adultos cuidadores e da família… Tudo isso pode refletir no comportamento do bebê, e por consequência em seu sono.”
Em contrapartida, ela aponta alguns elementos que são essenciais para que o sono ocorra bem. “Alimentar-se bem, ter contato com a luz natural do Sol, brincar ao ar livre, gastar energia durante o dia e ter tempo de qualidade com os pais são atividades essenciais para o momento diurno. Quando a noite cair, é preciso honrá-la, deixando-a entrar quando ela se inicia É importante acalmar a casa após as 18 horas e desacelerar a criança para que ela possa dormir com mais facilidade e relaxada”, lista.
Usar pouca iluminação artificial dentro de casa, e acender apenas algumas luzes indiretas, como de luminárias, pode ajudar muito na desaceleração do dia, na recepção do período noturno e no relaxamento da família.
Rotina é a resposta para dormir melhor
Andreia Tambosi também ressalta a importância de uma rotina. Ela deve ser estabelecida pelos pais ou tutores e trazer limites, segurança e tranquilidade para a criança. Segundo ela, os limites não precisam autoritários, e sim amorosos, mostrando para a criança o que ela pode fazer, onde deve dormir, em que horário deve dormir.
Manoel também destaca a importância de rituais que acalmam. “Uma rotina bem estabelecida, com horários bem definidos, além de um ritual com ações que acalmam a criança, ajudam no processo do adormecer, assim como no processo de despertar. Isso também ajuda a manter uma certa sincronia com o restante da família”, declara o especialista.
Essa rotina noturna pode ser composta de elementos variados, desde que funcionem para a lógica familiar e que promovam relaxamento para as crianças. Além disso, devem ser sempre compostos dos mesmos passos.
Um ponto de atenção: crianças e adolescentes têm necessidade de mais tempo de sono do que pessoas adultas. Por isso é preciso ter cuidado para que elas não sigam o regime de sono dos pais. “Nesses casos, a criança acaba dormindo e acordando no mesmo tempo dos pais e passando por privação do sono”, explica Manoel.
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