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    Briga entre irmãos: por que são tão comuns?
    Omar Lopez
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    Quem cresceu com irmãos, sabe: por mais unidos que sejam, brigas fazem parte do cotidiano. E não tem quem escape dessa realidade. Até mesmo irmãos famosos já protagonizaram desentendimentos públicos. Seja em cenas de desavenças das Kardashians no reality da família, até o rompimento da dupla Simone e Simaria, a relação entre irmãos costuma ser marcada por conflitos.

    Por ser algo tão universal, surge a dúvida: por que irmãos brigam tanto? Os caçulas podem acusar os mais velhos de serem autoritários, enquanto os primogênitos jogam a culpa nos mais novos de serem mimados e folgados. Independente da relação ou da diferença de idade, os conflitos são desencadeados pela divisão de atenção e busca por autonomia de cada filho.

    Por que irmãos crescem brigando?

    As crianças estão desenvolvendo seu senso de si, sua autonomia, as bases de sua personalidade. Então, em alguma medida, a disputa entrará em jogo. É o que explica Thais Basile, psicanalista, colunista da Vida Simples e especialista em psicopedagogia institucional.

    “São esperadas disputas de lugar e importância para os pais, tentativas de sanar as próprias necessidades e comunicação que falha”, esclarece a especialista. Isso ocorre também porque a criança ainda não tem repertório nem maturidade para lidar com essas questões, que podem virar disputas mais agressivas.

    Segundo Thais, a criança está aprendendo sobre alteridade a todo momento. O filho é retido em seus impulsos, vontades e necessidades, porque há outro que também precisa ser atendido. “A disponibilidade dos pais e as coisas materiais precisam ser divididas, então a convivência terá suas disputas”, argumenta.

    Além disso, outros fatores podem entrar em jogo. Por exemplo, o deslocamento de raiva e de impulsos agressivos, que não é possível direcionar aos pais – por medo de retaliação ou por medo de cair em desamparo -, pode ir para os irmãos.

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    Os pais acabam, mesmo que inconscientemente, aumentando as brigas

    Mesmo que de forma não proposital, os pais podem acabar incentivando o lugar de conflitos entre irmãos. “Vemos que isso acontece muito porque somos uma cultura baseada em competição capitalista e neoliberal, o que acaba influenciando as famílias a adotarem práticas de comparação para fins de aumento de desempenho da criança”, informa Thais.

    Além disso, uma distribuição de atenção desigual pode gerar ressentimento nas crianças. Quem explica isso é a psicóloga Virgínia Suassuna. “Quando os pais, mesmo sem intenção, dedicam mais atenção a um filho – seja por este demandar mais cuidados ou por apresentar comportamentos desafiadores –, isso pode instigar nos outros filhos sentimentos de negligência e injustiça”, relata.

    A postura que enxergam dos pais também pode ser refletida na forma que as crianças enxergam seus conflitos. Thais Basile explica que os filhos acabam se comportando da mesma maneira que os seus pais. “Por exemplo, uma família tradicional em que o pai sente que merece ser mais ouvido e acolhido, e quando isso não acontece ele pode culpabilizar ou até fazer violências psicológicas, morais, patrimoniais e físicas”, exemplifica. A especialista explica que, como consequência dessa dinâmica, os filhos aprendem a resolver seus conflitos e suas questões uns com os outros com base na violência.

    Como mediar as brigas entre irmãos durante a infância?

    Para melhorar esses conflitos, Thais recomenda ensinar o diálogo, a partilha dos quereres e das necessidades, antes de tomar decisões extremas. A comunicação pode ser a base para a resolução de brigas, tanto entre os irmãos, quanto no resto dos relacionamentos familiares.

    Para Virgínia Suassuna, uma das abordagens mais eficazes para os pais de lidar com disputas entre irmãos é promover a autonomia na resolução de conflitos. “Ao tomar partido em uma briga de irmãos, muitas vezes os pais acabam não compreendendo toda a extensão do problema, favorecendo, mesmo que involuntariamente, um dos lados”, relata. Com isso, essa atitude pode ser sentida pelas crianças e adolescentes, que podem perceber tal comportamento como uma forma de injustiça.

    Para evitar esse incomodo, o conselho da psicóloga para os pais é de adotarem uma postura de orientadores, em vez de juízes.
    “Quando surgir um conflito, uma técnica eficaz é perguntar: ‘este é um problema que vocês, como crianças, podem resolver sozinhos, ou é algo que realmente precisa da intervenção de um adulto?”.

    Desse modo, os pais estimulam as crianças a refletirem sobre a natureza do problema e a buscarem soluções por conta própria, reforçando a capacidade de resolver disputas. Além de aprenderem a cuidar dos próprios conflitos, podem criar capacidade para crescerem com maior autonomia e responsabilidade.

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    Um caminho para resolver brigas entre irmãos adultos

    Mesmo após crescerem, irmãos podem continuar tendo conflitos e brigas constantes. Uma parte, que pode até soar imatura, costuma ser reflexo de questões mal resolvidas na infância. Para resolver esses conflitos, é preciso, antes de tudo, haver esse desejo em ambas as partes.

    “Muitas pessoas ficam de ‘parceiras no crime’ de seus pais, reprimindo a raiva por coisas que viveram e sentem que não é seguro externarem”, explica Thais. E estes irmãos podem não terem vontade de desromantizar sua infância, conversar sobre as preferências dos pais, os ódios deslocados para os irmãos e as falhas no cuidado. Para a especialista, a questão não é apenas dos irmãos, mas quase sempre envolve toda a família.

    Ao refletir sobre a própria infância, e entender de onde vem cada conflito, fica mais prático de encontrar resolução na relação de irmãos e saber como resolver as brigas, sem despejar uns nos outros as infelicidades que poderiam estar sentindo dos próprios pais ou da própria criação.

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