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    “Sou líder e tenho TDAH”: o poder da diversidade cognitiva
    Markus Spiske
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    Sou uma profissional da comunicação com vinte anos de carreira e pelo menos dez dedicados à gestão de equipes e desenvolvimento de pessoas. Sou uma líder no ramo de marketing e sim, tenho TDAH.

    Aos 38 anos recebi sem surpresas o diagnóstico de Transtorno de Ansiedade e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Sem surpresas porque entendi, há muitos anos, que havia uma dificuldade recorrente em me manter concentrada, cumprir prazos, me manter motivada. Então, mesmo sem um diagnóstico fechado, precisei desenvolver mecanismos para me organizar e ser eficiente nas entregas profissionais.

     

    TDAH e o preconceito de gênero

    Provavelmente você já deve ter ouvido falar sobre pessoas neurodivergentes ou atípicas, pois o tema explodiu nas buscas e se tornou pauta de muitos conteúdos nos últimos anos. O TDAH é considerado um transtorno de neurodesenvolvimento que pode, desde a infância, envolver disfunção na atenção, na linguagem, na memória e na interação social.

    Porém, meninas e mulheres enfrentam uma barreira extra em seus processos de investigação, o preconceito de gênero. É esperado que sejamos mais calmas, quietas e concentradas e essa premissa faz com que esse diagnóstico demore anos ou, por vezes, nem chegue.

    Estudos mostravam que a cada quatro homens, uma mulher era diagnosticada com o transtorno. Entretanto, uma recente atualização dessas pesquisas indica que esse número pode ser bem diferente, chegando a 1:1, ou seja, para cada homem identificado com TDAH, uma mulher também é.

    Por conta de tudo isso, vivi 37 anos da minha vida sem saber que tinha TDAH, mas isso não foi um impeditivo para que eu me desenvolvesse e conquistasse meus objetivos. Criei estratégias e fui, aos poucos, me adaptando e me organizando para lidar com os desafios que encontrava.

     

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    Os desafios de ser uma líder com TDAH

    Ter o diagnóstico de TDAH me permitiu entender sobre as interferências da condição em minha rotina de trabalho.

    Faço listas (muitas), checo e edito diariamente os tópicos para não esquecer nenhum compromisso. Passo boa parte das reuniões olhando para o computador, mas é porque estou sempre anotando algo. Essa é a minha maneira de me concentrar e de garantir que não perderei nenhuma informação.

    Sou muito visual, então incentivo meu time a utilizar ferramentas como frameworks e slides que ajudam a ilustrar suas ideias e também a reter a atenção de quem assiste às apresentações.

    Mas ter TDAH implica somente no foco e concentração? Não mesmo! Em alguns momentos o transtorno demanda mais do que eu gostaria.

    Por vezes, a bateria social pode ficar mais baixa e é natural bater aquele sentimento de culpa ou inadequação pelo desejo de se recolher ou ficar mais quieto.

    Prezo por sinceridade, então já ocorreu de só depois compreender que um comentário franco foi percebido como ríspido ou muito direto.

    Diferenciais transformados em vantagens

    E como isso afeta meu trabalho enquanto lidero um time, tenho metas para alcançar e pessoas para desenvolver?

    Encontrei na neurodiversidade uma forma de enxergar e vivenciar o mundo. E alguns dos meus pontos fortes podem ser consequência do TDAH, como gostar de ambientes acelerados, me entregar totalmente a atividades que despertam minhas paixões, ser criativa, ter um bom faro para tendências e para o mapeamento de inovações.

    Estou sempre em busca de novas dinâmicas e atividades que estimulem meu time e isso movimenta nosso dia a dia, oxigena nossas ideias e provoca novas maneiras de entregar os projetos.

    Tenho um hiperfoco nas pessoas. Suas histórias, suas maneiras de verem a vida me mantém continuamente curiosa e interessada.

    Longe do desejo de romantizar um transtorno, torço para que esse relato individual sirva para mostrar que a diversidade cognitiva pode sim ser uma vantagem competitiva no mercado de trabalho. Ter pessoas neurodivergentes na equipe pode agregar com diferentes opiniões e habilidades na resolução de problemas.

    Tive a sorte de ter tido mentores e líderes que me permitiram aprender para hoje aplicar o que acredito. Que liderança se faz com a construção de um lugar seguro, que incentive a criatividade, a troca de feedbacks claros e a empatia.

    Se você é TDAH, espero que minha história te encontre e te incentive a buscar lugares amigáveis para que possa se desenvolver e chegar onde você quiser.

     


    CAROLA OLIVEIRA (@carolaoliva) é nordestina de Aracaju, com vasta experiência em comunicação e marketing. Gerente de ativação na TV Globo, orienta estratégias de lançamento de toda a grade da TV Aberta. Além disso, é mentora de jovens negros periféricos, compartilha conhecimento em aulas e palestras sobre conteúdo, branding, carreira e liderança com TDAH.

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