Maristela Montesanti Calil Atallah começou a trabalhar na livraria Calil com pouco mais de 20 anos. No início, ela se dividia entre o cargo que ocupava num banco e o expediente na loja de livros usados, inaugurada pelo pai na década de 1940, no centro de São Paulo.
Mas estar entre prateleiras com obras até o teto tinha um sabor diferente para ela. Era uma forma de reviver os tempos de menina curiosa que queria saber tudo. E, assim, lia história em quadrinhos, romances e contos da biblioteca particular de seu pai, Líbano Calil.
Tudo naquele ambiente a inspirava: o amor do pai pelos livros, a forma acolhedora como ele tratava os clientes e as visitas de escritores, que faziam do lugar um ponto de encontro.
No final das contas, ela acabou se dedicando integralmente ao sebo. Enquanto Maristela comprava e vendia livros, sua vida foi acontecendo. Fez faculdade de biblioteconomia, casou, teve filhos, perdeu o pai.
Uma dedicação: restaurar livros
Apesar de trabalhar até 14 horas por dia, nunca deixou faltar tempo para uma de suas atividades mais delicadas: recuperar livros. Eles chegam com páginas manchadas, rasgadas, faltando pedaços.
Com cuidado, a livreira faz a “cirurgia” que dá vida nova a cada um deles. Às vezes, precisam de enxerto de papéis especiais, lavagem das folhas, impressão de fotos ou de trechos do texto e encadernação.
Maristela já cuidou de milhares de livros usados e faz tratamento preventivo com os novos, que não são fabricados para durar tanto.
É comum idosos chegarem à livraria levando obras lidas pela primeira vez na infância, algumas com dedicatórias de pessoas queridas ou do escritor favorito.
Maristela recebe também exemplares raros que não tem como ser substituídos e acervos inteiros de bibliotecas. Depois de passar pelas mãos da livreira, eles saem prontas para “viver” por pelo menos mais 100 anos.
“É um trabalho importante para a humanidade. Porque eu vou morrer, mas os livros vão ficar. Estou fazendo um bem para todos”, diz.
Quando não está consertando livros, Maristela administra o acervo da livraria, que tem mais de 250 mil obras, algumas raras, como uma cartilha de Dom Pedro II e a primeira edição de Os Sertões, com várias correções feitas à mão. É nesse ambiente que ela vive há 36 anos, ao lado de seus companheiros de toda a vida.
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Conteúdo publicado originalmente na Edição 203 da Vida Simples
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