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Tricô no presídio
Alex Palmer | Unsplash
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Estilista Raquell Guimarães ensina detentos a trabalhar com lãs e agulhas, produzindo as peças de tricô existe a possibilidade de novos recomeços

Formada em moda, a mineira Raquell Guimarães é dona da marca Doisélles, especializada em tricô e crochê, técnicas que ela aprendeu com a mãe e a avó. E quem confecciona as peças são presidiários, que nunca trabalharam com moda. A ideia surgiu quando a demanda da marca aumentou e Raquell não encontrava mão de obra qualificada. “Procurei a Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Vereadores de Juiz de Fora (MG) e sugeri montar meu ateliê em um presídio. Eu precisava de gente e os presos, de uma ocupação”, conta Raquell.

Inicialmente, ela treinou 40 detentos que, mesmo sem nenhuma experiência, assumiram o trabalho com comprometimento. “Para eles, é uma oportunidade de aprender um ofício, ocupar o tempo, ganhar um salário e diminuir sua pena”, ressalta. A atividade tem carga horária definida e também prazos de entrega. 

Ateliê de tricô

O ateliê conta com detentos que desenvolvem peças em tricô, crochê e macramê. Raquell supervisiona as tarefas, três vezes por semana e também treina os novatos. “É necessário uns 40 dias para ensinar a lidar com as agulhas, mas eles são empenhados e aprendem rápido”, diz. O trabalho, que exige concentração e paciência, também melhora o desempenho escolar de alguns deles. “Para trabalhar no ateliê é imprescindível retomar as aulas que o sistema penitenciário disponibiliza. O principal objetivo é prepará-los para o regresso à sociedade”, diz.

Ao fim de cada supervisão, Raquell sai do presídio com bilhetes no bolso. “São pedidos para integrar o projeto. Eles disputam as vagas, e quem já está tricotando tenta ajudar o colega interessado. Como não podem levar as agulhas para a cela, lixam escovas de dente para ensinar os pontos a quem quer participar”, conta. 

Interesse pela moda

Raquell garante que todo esse empenho se reflete no produto. “É um trabalho contemporâneo, com uma pegada mais masculina, que nada tem a ver com o tricô da vovó”, afirma. Para a empresária, é interessante observar como o interesse pela moda vai sendo despertado, e quem nunca teve acesso ao universo fashion passa a falar sobre o look da personagem da novela ou algum estilista em evidência. “Todo mundo merece oportunidade para aprender e, mais do que isso, uma segunda chance”, conclui.

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