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O mundo da arte é para todo mundo!
Zalfa Imani | Unsplash
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Neste artigo:

Esta é a coluna de estreia de Iasmine Souza. Ela adora desbravar o mundo da arte e criou uma ponte mais acessível para esse universo por meio do projeto @minutodearte. A partir de agora, também aparecerá mensalmente em Vida Simples. Estamos muito felizes em poder abrir nossa casa para seus textos sobre arte. Como a própria Iasmine descreve, aqui ela falará sobre a sua “jornada para descomplicar um assunto que está perto, mas sempre a certa distância”.

“Por que visitar espaços de arte pode ser tão desconcertante?”

Foi o que pensei — quase obsessivamente — durante as incontáveis visitas a museus e tradicionais galerias da cena paulistana desde que cheguei na cidade, em 2014, em razão da aprovação em um concurso público da carreira jurídica. Paredes branquíssimas, textos curatoriais indecifráveis. Rigor, rigor, rigor.

“Espera! Por que não há janelas nesse lugar? Onde devo pisar?”

Um pequeno deslize na altura da voz e — de novo — a sensação de estar no ambiente errado, possivelmente atravessada por um olhar de seriedade (ou seria esnobismo?) intimidador.

Mantendo a distância

Conheci um sem-número de espaços comerciais pouco frequentados, cujo slogan poderia ser “compre ou não há o que fazer aqui”, em que não paira no ar nada além de um clima pouco convidativo. Há exceções, é claro, mas não suficientes para aplacar a preponderância do perfil cerimonioso do setor.

Foi assim que, da ingenuidade de um campo amigável e acolhedor, passei à constatação de que o mundo da arte lembrava uma grande e requintada festa, em que os anfitriões de sempre ditam cardápio e decoração, e, ressalvado um restrito número de convidados da lista VIP, os demais têm grandiosas chances de sentir-se como penetras.

Sofisticação além da medida

Admito simpatizar com uma boa dose de elegância, mas, quando se fala em arte, há requinte desnecessário, em excesso, nos ambientes e na linguagem. E é por isso que não costumo esboçar surpresa com a enorme quantidade de pessoas ao meu redor (e ao de vocês também, posso apostar!), que consideram assuntos de arte enfadonhos, direcionados a poucos interessados cult e letrados, igualmente chatos.

Para muitos, acredite, ir a um museu pode significar uma caminhada tediosa entre pinturas ou objetos estranhos incompreensíveis, sem estabelecer canais de aproximação e inseguros para questionar como acessá-los.

Para além das acanhadas estratégias de comunicação com o público, estão ainda as lacunas sociais e culturais do país, com instituições concentradas nas grandes metrópoles e preços de entrada que não cabem no bolso da esmagadora maioria. O resultado é catastrófico em termos de segregação.

Descobrindo o meu lugar

Naquela época, se alguém me adiantasse que essas inquietações seriam alvo de uma pesquisa que eu viria a flertar anos depois, eu não acreditaria. Ora, eram passeios culturais, apenas passeios culturais! Mas como pude não perceber?

Estava tudo ali — tudo bem, não da forma como eu imaginava —, mas estava ali o convite para a ludicidade que me havia sido ceifada durante uma vida regrada de estudos cujo clímax foi a preparação para um concurso público. Tudo que eu precisava fazer era ultrapassar a barreira sisuda da linguagem. E para isso o Direito já havia me treinado muito bem.

Vieram cursos de história da arte, livros e, por fim, a criação de um perfil no Instagram, o @minutodearte, onde passei a dividir estímulos visuais com a esperança de quem abraça uma mudança e envolve a sua comunidade em uma apaixonante viagem de vida através da arte, de olho na certeza de que, em alguma medida, somos todos capazes de transformar realidades e olhares, ainda que pelas minúsculas telas dos smartphones.

A arte para além das galerias

https://www.instagram.com/p/CWJdiUvF256/

Certa vez, após abrir uma daquelas caixinhas de perguntas no Instagram (com tema livre: arte, vida, tudo!), recebi a mensagem emocionada de uma seguidora que agradecia a minha disponibilidade para mostrar passeios culturais e dividir um olhar íntimo sobre obras de arte. Ela dizia, ainda, nunca ter ido a uma exposição. Morava na periferia de São Paulo. Entendi imediatamente a relevância do projeto.

Criar uma sólida comunidade na Internet e fazer um tema historicamente conservador ser notado em meio às dancinhas de estilo TikTok tem sido um interessante desafio. É divertido, terapêutico (devo à arte e seus percursos subjetivos boa parte da minha saúde mental!), e também sacrificante. Mas, mais do que isso, é uma grandiosa oportunidade de atingir um público mais amplo.

Espero que, assim como eu, encontrem na arte um espaço de provocação, reflexão e liberdade, um incentivo para rever a nossa história, a si mesmo e ao outro. E para o leitor que me acompanhou até aqui, fica a promessa de que os nossos papos serão, além de legais, extremamente relevantes.


IASMINE SOUZA é advogada e entusiasta de arte, autora do perfil @minutodearte. A paixão por esse mundo foi tamanha que agora está cursando uma especialização em Crítica e Curadoria de Arte na PUC-SP. Há grandes chances de encontrá-la em alguma exposição. No tempo livre, escreve.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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