Cadê a culpa que estava aqui?
Precisamos entender que tudo bem não dar conta de tudo. Ninguém precisa, nem deve, ser perfeito o tempo todo.
Precisamos entender que tudo bem não dar conta de tudo. Ninguém precisa, nem deve, ser perfeito o tempo todo
Tenho me perguntado em que momento surge a culpa materna. Sei apenas que sentir culpa fomenta inseguranças e mantém as mulheres encasteladas, longe de uma frente de trabalho poderosa e transformadora. Sutilmente cedemos nossos lugares aos homens, que, apesar de pais, não acessam questões emocionais que parecem inevitáveis para as mulheres. Nutrir a culpa as paralisa e faz com que reafirmem a necessidade de estar sempre ao lado dos filhos, como únicas cuidadoras suficientemente boas.
A culpa é a bola de ferro nos pés das mães contemporâneas. O julgamento e a comparação alimentam esse sentimento, que faz aflorar outras emoções: medo de errar, de frustrar, de deixar ser. E assim, sem refletir, vamos repassando essa autorização de não estar por inteira para nossos filhos e filhas, como uma herança emocional indesejada.
Com o tempo entendi que a culpa não nos abandona. A grande lição é saber moldá-la ao tamanho que lhe cabe: bem pequena. E isso acontece quando entendemos que é possível que todas as nossas versões nos habitem. Somos ao mesmo tempo mães, mulheres, amantes, amigas, produtoras, motoristas.
Cada uma tem um tempo para existir durante o dia e elas vão se alternando, desempenhando seus papéis do jeito que é possível. E quando as 24 horas terminam, podemos trocar a exaustão pelo orgulho de ter oferecido o melhor que tínhamos. O entendimento sobre nossa multiplicidade precisa vir também com a responsabilidade de nossas escolhas. Não vamos, nem precisamos, dar conta de tudo.
E partilhar nossas obrigações é também um jeito bonito de ensinar aos filhos que temos limites e que a vida se faz com a ajuda do outro. Te convido a tentar deixar o fardo mais leve. É possível e transformador.
LUA FONSECA é pernambucana, educadora parental e mãe de quatro filhos, mas também consegue ser outras coisas quando sobra tempo. Escreve mensalmente na edição impressa de Vida Simples
Os comentários são exclusivos para assinantes da Vida Simples.
Já é assinante? Faça login