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Os males da overdose de videoconferências
Yogendra Singh | Unsplash
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Neste artigo:

Há pouco tempo, a videochamada servia para nos conectar com quem estava longe, ou para uma reunião com alguém que não podia participar de forma presencial. A pandemia mudou isso drasticamente e todos estamos sofrendo com isso.

A pandemia mudou de forma significativa o jeito como trabalhamos e acelerou a implementação do home office. As empresas precisaram encontrar maneiras virtuais de reunir seus colaboradores e isso, nos obrigou a usar as plataformas de videoconferência de uma maneira diferente e por muito mais tempo do que estávamos acostumados. As horas de uso dos softwares dedicados à comunicação entre equipes, como  Zoom e Google Meet, geraram um outro tipo de pandemia: a de fadiga mental e física.

A psicóloga Luiza Domingues conta que os relatos de fadiga mental e física estão cada vez mais frequentes. “As pessoas estão sendo bombardeadas por reuniões. Além disso, agora são muitas horas sentados na mesma cadeira, sem fazer pausa para o “cafezinho com os colegas”, sem mudança de sala de reuniões. O que faz com que o corpo muitas vezes fique mais tensionado, desde os olhos, até as costas, pernas, etc”, explica.

Essa também foi a reclamação de todos os clientes do psicólogo Ghoeber Morales. “Os que trabalhavam presencialmente em alguma empresa e de repente começaram a fazer isso 100% a partir de casa,  passaram a trabalhar mais horas do que já trabalhavam, emendando uma reunião na outra. Perderam o limite entre a casa e o trabalho, iniciando a jornada de trabalho mais cedo e encerrando mais tarde”, revela.

É muita informação para processar!

As imagens geradas pelas telas de computadores, tablets e celulares durante as videochamadas provocam mais estímulos para o cérebro, que acaba precisando de mais energia para processá-las, sobrecarregando a parte cognitiva do cérebro. “O cansaço vem justamente desse excesso de energia gasta. Nesse sentido, outros tipos de interação que não envolvam imagens são menos prejudiciais”, explica Ghoeber.

males videoconferencias Crédito: Chris Montgomery | Unsplash

Segundo ele, outro ponto importante a ser considerado e que contribui para o cansaço físico e mental é a exposição prolongada à tela dos dispositivos. “A luz emitida por eles gera cansaço, podendo provocar dor de cabeça e “vista cansada””, alerta.

Seu filho também está cansado

Crianças e adolescentes em casa, com o celular na mão, ou na frente do computador por horas a fio: esse é o retrato do novo normal a que fomos inseridos de repente. Se para nós, adultos, o impacto foi grande, imagine para eles que, de uma hora para a outra, precisaram se habituar com as aulas online, longe da interação presencial com professores e colegas.

A designer Chirlei Borba de Lima percebeu uma enorme mudança no comportamento dos filhos Davi Luiz e João Luiz, de 12 e 10 anos respectivamente. “Meu filho mais novo ficou mais introspectivo, como se isso tudo o deixasse com medo das pessoas”, conta.

A rotina dos meninos não mudou muito: eles acordam tomam café e vão pra aula. A única diferença é que não colocam uniforme. Mas, ainda assim, Chirlei revela que os dois tiveram problemas de adaptação. “Antes, o computador para eles era para diversão, games, vídeos e, de repente, tiveram que usar para estudos com uma rotina pesada de quatro horas diárias”, diz.

overdose de videoconferências Crédito: Thomas Park | Unsplash

Davi Luiz revela que se sente muito desmotivado e cansado. ”É mais difícil de entender na aula online, porque não tem interação. Na aula presencial existe troca de conhecimento”, revela o adolescente de 12 anos que diz que “conviver com amigos e professores é uma forma de aprender mais divertida”.  João, de 10 anos também se sente desmotivado e com preguiça. “Fico muito cansado, não consigo focar na matéria. Vou ficar superfeliz quando as aulas forem só presenciais”, revela.

Movimentar o corpo

Por enquanto não há muito por onde escapar. O que fazer? Minimizar seus efeitos nocivos. A psicóloga Luiza Domingues destaca a importância das pausas — pelo menos de 10 minutos. “Já sabemos que fazer pausas diminuem o cortisol, que é o hormônio do estresse. Além de estabilizar a pressão arterial, favorece o bem estar físico e mental e aumenta os níveis de atenção”, conta a psicóloga.

Para crianças como Davi e João, que estão se sentindo cansados e desmotivados, Luiza também indica pausas para evitar a fadiga mental e física. “Precisamos das pausas. O estresse em si não é algo ruim. O ruim é o estresse sem pausa. Estamos bombardeados por informações: celular, reunião, telefone, e-mail, e no caso das crianças, as aulas”, explica.

males videoconferências Crédito: Andrey Popov | IStock:

Ela acrescenta também que hábitos como beber água e ingerir alimentos saudáveis podem ajudar a evitar a fadiga mental. O exercício físico também é outro aliado. “Movimentar o corpo favorece o relaxamento e a concentração”, conta a psicóloga.

Pausas

Luiza sugere ainda pausas de 10 minutos longe das telas a cada hora de reunião. “Aproveite esse momento para respirar profundamente. Se possível feche os olhos para reestabelecer o equilíbrio em seu sistema”, aconselha.

Ghoeber Morales revela uma estratégia usada por alguns de seus clientes: eles começaram a bloquear, de modo visível a todos, suas agendas com “compromissos fictícios” a fim de salvarem algumas horas do dia para terem condições de trabalhar.

Ou seja, essas pessoas criaram espaços temporais na agenda para poderem colocar em prática as decisões e deliberações acordadas nas reuniões. “Caso contrário, passavam literalmente o dia todo em reuniões e com isso acabavam precisando usar horários fora do expediente, incluindo finais de semana, para darem conta de produzirem os resultados esperados”, explica Ghoeber.

Dicas anotadas, agora é o momento de praticar. Depois de uma videoconferência ou aula online, espreguice-se, alongue o corpo, tire um tempo para molhar as plantas, brincar com seu pet, ou apenas se entregue ao ócio. Apenas por alguns minutos e isso pode fazer toda a diferença no fim de um dia conectado.

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