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Se for do seu interesse aprender uma sugestão sobre como manejar o pensamento, leia este texto e faça uma auditoria interna.
Se for do seu interesse aprender uma sugestão sobre como manejar o pensamento.
Eu tenho um hábito de prestar atenção à maneira como eu falo, para tentar manejar minha forma de pensar. É assim: quando eu tomo consciência das palavras que escolho, posso escolher diferente. Ganho opção. Já aconteceu de eu mudar a escolha de palavras e isso mudar não só o jeito de pensar, mas também minha atitude.
Já fiz essa experiência várias vezes. Tenho vários exemplos. Vou compartilhar um deles.
O tirano interno
Antes, porém, preciso dizer uma coisa sobre meus pensamentos. Eles às vezes se dividem. Tem uma voz lá dentro da minha cabeça que fala comigo como se não fosse eu. Critica-me, me cobra atitude, me acusa. Às vezes até com agressividade. Provavelmente isso acontece com você também. Eu pelo menos já vi muita gente relatar coisas parecidas. Isso me tranquiliza. Não me considero um caso clínico.
No meu caso, é muito comum que esse tirano interno me diga o que eu tenho que fazer (ou tinha que ter feito). “Rodrigo, você tem que responder a essa provocação”, diz ele, diante de um confronto no trânsito, no trabalho, na família. Se você tem um tirano interno para chamar de seu, já imagina as reações físicas diante desses pensamentos. E tome jatos de suco gástrico. Tome tensão nos ombros.
Show de horrores
A coisa complica um pouco mais porque, como ele mora aqui, dentro da minha cabeça, eu nem sempre me dou conta de que é ele que está comandando o show. Quando percebo, lá estou eu: triste, ansioso ou puto da vida. E nem sei por quê.
Às vezes preciso fazer uma investigação, uma auditoria interna. De onde veio aquele mau humor? Qual a raiz daquela apreensão? E é muito comum que, no relatório final da sindicância, seja ele a fonte primária das mazelas emocionais. A azia brota das cobranças. O torcicolo ganha impulso pelas comparações com noções morais do passado e com referências familiares ou culturais cristalizadas. Feito um sapato de tamanho único, que deveria servir para todo mundo o tempo todo.
Minha mente, minhas regras
Já tentei, mas não consigo calar a voz do tiraninho. A saída que eu encontrei foi criar limites para ele. Estabeleço regras. Uma das criações mais eficazes foi quando baixei um decreto abolindo o uso interno da expressão “tem que”. Em vez dela, a nova lei recomenda a expressão “pode”.
Vou retomar o confronto em família para exemplificar. Aquele primo que ostenta valores tão diferentes dos seus faz comentários jocosos no grupo familiar sobre algo que você aprecia? O que dirá o tirano? Vejamos: “Rodrigo, você pode responder essa provocação.”
Percebeu a diferença? Não tem suco gástrico. Não tem tensão no ombro.
Porque, diante dessa frase, a outra parte da consciência, aquela que geralmente fica sob as ordens do tirano, pensa: “Verdade, eu posso responder. Mas eu quero criar um climão entre os familiares queridos? Não. Isso me afeta de alguma maneira? Não. Me diminui? Não. Deixa quieto.”
Às vezes essa checagem me mostra que a questão importa. É bom que eu aja. Como eu posso agir? De novo, note a diferença do efeito dessa frase, em comparação com esta: “como eu tenho que agir?”. O revestimento estomacal agradece.
Da boca para fora
Um dos maiores benefícios dessa mudança foi nas minhas relações. Desde que o decreto foi publicado no Diário Oficial Interno, raramente me pego dizendo a alguém que “tem que”. E isso aliviou muito os relacionamentos mais íntimos. Porque me permite dar sugestões, dar opiniões, sem parecer que a minha ideia é a única. Que “tem que” ser seguida.
Porque ao dizer que “você pode” fazer algo, nasce junto um condicionante. Se você pode fazer, também pode não fazer. Pode até fazer outra coisa. Então depende. Depende do que? E nessa última pergunta mora a riqueza da coisa. Porque então você pode ver o que te interessa. Pode consultar sua necessidade. E perceber que pode, se for adequado a você aqui, agora, nesta circunstância. O presente importa, é nele que eu habito e decido.
Achei que você poderia gostar dessa história. Mas não tem que nada.
RODRIGO VERGARA é jornalista. Mas também pode se apresentar como ator, improvisador e facilitador de processos de confiança em equipe. Nesta edição, ele prefere se dizer fundador do PlayGrounded – a Ginástica do Humor. Pareceu mais adequado.
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