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Como ser um homem melhor
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Ao abraçar o feminino que habita em nós, temos a chance de sermos melhores para nós, para o outro e para o mundo

Nos últimos anos, um fenômeno necessário (e tardio) tem acontecido na sociedade: o interesse de homens em falar sobre suas emoções. É como se a máxima “meninos não choram” começasse a deixar de existir. São homens que abraçam seu lado feminino tanto quanto o masculino, tendo a chance de serem mais completos, como canta Gilberto Gil na música Super-homem.

Gustavo Tanaka, colunista de Vida Simples, experimentou há alguns anos falar sobre seus sentimentos. E não parou mais. A leveza encontrada em se abrir o levou a lançar um livro e promover palestras de autodesenvolvimento para outros homens. A frente do movimento Brotherhood, ele acredita que somente dessa forma, seremos melhores para nós, para quem nos cerca e para o mundo.

O que é o sagrado masculino?

Particularmente, eu não gosto desse termo, porque ele mais separa do que aproxima. Tem pessoas que têm preconceito com o termo e eu acredito que tudo na Terra é sagrado. Mas, normalmente, quando se fala em sagrado masculino, eu entendo que se refere a buscas ancestrais, que revelam um pouco mais sobre a energia masculina e sobre como os homens podem acessar essa energia de forma mais saudável, revelando todo o potencial que um homem tem, seja do seu corpo, da sua energia e de sua conduta para viver de forma mais plena.

Vivemos numa sociedade que prega que ‘homens não choram’. Que homens nos tornamos ao não falarmos sobre nossos sentimentos?

Quando a gente não fala sobre os nossos sentimentos, a gente se separa, a gente se divide, acaba ficando compartimentado e tendendo a ficar muito racional, partindo do mental, quando na verdade, todo ser humano sente muita coisa, tem muitas emoções, que tem que ser vistas e expressadas. Um homem que não fala sobre os sentimentos, está separado e atuando na metade da sua potência, porque a nossa força está em compreender as nossas emoções, compreender aquilo que a gente sente, e usar isso como forma de se conectar, de se conhecer melhor. É importante a gente entrar em contato com os nossos sentimentos, entender como a gente funciona, para a gente parar de sofrer também. Muitas vezes o sofrimento está em resistir, em não aceitar o que está acontecendo dentro – e aí entram fugas, vícios, como o álcool. É mais fácil entrar em contato com o que está sentindo e aprender a lidar com as emoções do que buscar fugas externas, que vão preencher um vazio que é causado pelas faltas de assumir o que verdadeiramente sente.

Lá atrás, Pepeu Gomes cantou: “ser um homem feminino, não fere meu lado masculino”. Mas para um homem, de maneira generalizada, olhar para o feminino é sinal de fragilidade. O que é, de fato, olhar para o feminino que habita em nós?

Todos os seres humanos têm dentro de si um masculino e um femino. Essa foi uma grande descoberta minha há alguns anos, porque no meu entendimento era o homem masculino e a mulher feminino. Aí eu entendi que tanto o homem quanto a mulher tem energia masculina e feminina. Então, como homem, eu acreditava que vivia só como masculino, com essa energia de ação, de proatividade, de realização, do ímpeto de criar algo novo, ignorando a energia feminina, que é acolhedora, nutritiva, da beleza, do acolhimento. Todos nós temos duas energias operando dentro de nós. O homem que só opera com masculina, se fizer bem, opera só a 50%. Quando se abre para a energia feminina, aprende a se cuidar, a cuidar do outro, a lidar melhor com as relações, traz um olhar mais para o agora, a cuidar do todo, da natureza…

Existe como quebrar esse padrão de masculinidade tóxica de maneira mais rápida e menos dolorosa?

Não sei se é possível, é um processo intenso e que leva tempo. E cada um tem o seu próprio tempo. Uma coisa que eu percebo e que tem ajudado muito é o surgimento de cada vez mais grupos de homens, que abre espaço para conversa, para assuntos diferentes e que muitas vezes não são falados na mesa do bar, como os sentimentos. Acho que essa é a forma mais natural e menos dolorosa, ver que não está sozinho. Mas eu acredito que a gente não precisa ter pressa, apesar de ser um assunto urgente, é necessário ter paciência, porque é algo que exige uma transformação verdadeira e duradoura.

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