E se minha casa falasse?
Casas dizem o quanto gostam de nós, e inversamente quando decidimos enxergar com amor o que nos cerca, começamos a colecionar lembranças desse lugar
Casas dizem o quanto gostam de nós. E inversamente quando decidimos enxergar com amor o que nos cerca, começamos a colecionar lembranças desse lugar
Para quem tem o privilégio de poder ficar em casa em tempos de isolamento social, manter uma conversa com sua casa de forma positiva e saudável é fundamental. Neste momento, tenho me questionado bastante sobre nossos valores e nossas relações com os espaços que habitamos. Isso sem contar os trabalhos que tivemos que trazer para casa e famílias convivendo mais horas.
Estamos tendo que gerenciar coisas que antes fazíamos fora de casa e agora estão dentro dela. Estamos aprendendo a equilibrar essas novas situações com as rotinas que antes já existiam. Arrumando nossos “quartinhos de bagunça” internos e externos, abrindo espaços dentro da casa e principalmente dentro da gente para acomodá-las. E se sua casa falasse? O que ela lhe diria neste momento?
O ato de enxergar e ouvir nossos espaços como eles realmente são nos ajuda a escolher qual caminho seguir diante de nossas necessidades atuais – que são muitas e totalmente distintas do que eram. Não tem como não olharmos para dentro de nós cada vez mais e manter essa conversa com nossas casas a cada dia que passa. A cada um desses dias descobriremos uma necessidade diferente, mas ela estará lá, pronta para nos atender.
Muitas vezes ouço pessoas dizerem aspectos de sua casas não muito positivos, como “minha casa não recebe luz suficiente” ou “meu quarto é muito apertado”. Porém, essas instruções precisas de como pensar de um jeito em que você não consiga estabelecer uma relação com sua casa, pode trazer claras consequências a você não se sentir bem em seu próprio ambiente. E o pior: não conseguir manter essa sensação de conexão e parceria com ela.
Casas expressam sentimentos
Podemos achar várias coisas que não combinam entre nós e nossa casa, e sempre pensar naquela renovação que não chega nunca. Mas até a mudança acontecer, a decisão de enxergar o lugar diferente e amá-lo do jeito que ele é de verdade, vai trazer energia positiva a esta relação. Tudo isso porque tudo é uma troca, nada nasce pronto, nem em nossas casas e nem em nossas vidas.
Quando você começa a se comunicar positivamente com seu ambiente, você começa a enxergar uma nova perspectiva, e é nisso que reside o valor dessa relação, enxergar algo além.
Abrir a janela do quarto pela manhã e deixar essa brisa de outono entrar enquanto arrumo a minha cama. Olhar para minha coleção de conchinhas que ganhei de presente de alguém muito especial, fechar o livro que ficou aberto da leitura de ontem… São atitudes que me lembram de ser grata todos os dias por poder estar vivendo nesse lugar. Uma relação onde conversamos sobre nós duas e que nitidamente funciona como um portal para uma nova vida que vem sendo semeada dentro do meu coração todos os dias.
E quanto mais reconhecimento dou a essas coisas que gosto e que compõem este ambiente, me dando suporte e ajudando a me sentir em casa todos os dias, mais vontade tenho de cuidar com amor e carinho do lugar onde vivo, tornando a manutenção menos rotineira e mais agradável.
Casas falam com a gente
Casas, inegavelmente, dizem o quanto gostam de nós. E inversamente quando decidimos enxergar com amor o que nos cerca, começamos a colecionar lembranças desse lugar, criando memórias pessoais que vão me fazer sorrir quando eu me lembrar. Paredes que pintei, quadros que pendurei, lugares que estabeleci para colocar meus objetos mais queridos, chocolates que encontrei em esconderijos perdidos, ou até mesmo um amor que se vai. E o sentimento que tudo isso deixará para mim, certamente irá compensar todos os momentos de incerteza que passei para juntas chegarmos até aqui.
Hoje em dia, sobretudo, tenho uma conexão muito forte com minha casa. Isso começou a fazer parte desde quando comecei a olhá-la com amor e gratidão. E agora o tempo vai fazer o resto!
Clô Azevedo é arquiteta e acredita que a casa é uma extensão das vidas que a habitam. Desenvolve projetos de design de interiores afetivos para conectar pessoas com suas histórias, inspirando a reinventar seu próprio espaço, morar bem e viver melhor. Seu site é designafetivo.com.
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