Menu
  • CONTEÚDO
  • PARA ASSINANTES
  • E MAIS
  • NEWSLETTERS
  • ANUNCIE
  • REDES SOCIAIS
    • Google News
  • EDIÇÃO DO MÊS
  • COMPARTILHE
    Carga mental: o trabalho invisível que pesa no emocional
    (FOTO: UNSPLASH) Carga mental esgota silenciosamente e prejudica o equilíbrio emocional
    Siga-nos no

    Você já se pegou tomando banho enquanto mentalmente planejava quem vai buscar as crianças, como organizar as contas da semana ou quais tarefas da casa e do trabalho ainda precisam ser feitas? Essa sensação de estar sempre “ligado” não é à toa. Trata-se da carga mental, um conceito que impacta diretamente no bem-estar emocional e físico de milhões de pessoas, especialmente das mulheres.

    Em uma sociedade que ainda insiste em romantizar a multitarefa e invisibilizar o trabalho mental, reconhecer o peso da carga mental é uma forma de resgatar o próprio valor e de transformar, pouco a pouco, as relações de cuidado e trabalho.

    Por que ainda carregamos tanto sem perceber?

    Esse fenômeno surgiu inicialmente nos estudos da saúde do trabalhador, focados na ergonomia e nas exigências físicas. Mas, como explica Marcelo Arinos Drummond Jr, professor de psicologia do Centro Universitário Uniarnaldo, de Belo Horizonte, “além da carga física, existe a carga psíquica, a carga mental. Essa carga é fruto da interação entre o trabalhador e as demandas de sua atividade tanto físicas como cognitivas e emocionais”.

    Com o passar dos anos, o conceito de carga mental foi ampliado para além do trabalho remunerado, alcançando também a organização das tarefas domésticas. Em muitos lares, especialmente em relações heteronormativas, a gestão da casa que exige planejamento, previsão de necessidades, solução de problemas e coordenação de tarefas, ainda recai, majoritariamente, sobre as mulheres

    É como se elas exercessem uma função de gestora: antecipam demandas e organizam rotinas. Além dessa função estratégica, também acumulam a execução prática das tarefas, como cozinhar, limpar, cuidar de filhos e gerenciar compras e serviços, o que representa uma sobrecarga dupla de trabalho. “É um trabalho complexo, exigente e exaustivo que acontece na cabeça de quem cuida de tudo”.

    Fatores que agravam a carga mental

    Segundo o docente, um dos motivos da invisibilidade da carga mental é que, na sociedade, o que se enxerga como “trabalho doméstico” é apenas a execução. “Todo mundo vê alguém lavando roupa ou limpando a casa. A gestão, o planejamento do que precisa ser feito, não é percebido porque acontece dentro da cabeça de quem executa”, pontua.

    O acúmulo da carga mental não acontece por acaso. Dois fatores principais são destacados pelo psicólogo: a falta de valorização social e a ausência de identificação pessoal com o trabalho.

    “Quando o trabalho que realizamos não é valorizado pela sociedade e nem faz sentido para nós, o sofrimento mental aumenta consideravelmente”, afirma. Além disso, a sensação de que o trabalho doméstico ‘nunca termina’ agrava ainda mais a frustração. “É um trabalho cíclico. Nunca está completo. Sempre há algo a ser feito, diferente de outras atividades em que é possível ver o início, meio e fim”.

    Outro fator importante é o gosto pessoal. “Se você gosta das tarefas que realiza, a carga mental tende a ser menor. Mas se a tarefa é obrigatória e sem prazer, o peso mental é muito maior.”

    Embora a cultura da produtividade e da multitarefa esteja relacionada ao aumento do estresse, ela não é a origem da carga mental, segundo Marcelo. A raiz do problema está mais ligada à estrutura histórica da divisão de papéis sociais.

    No entanto, ele aponta que vivemos hoje sob uma pressão extra: “A cultura do ‘eu dou conta de tudo’ foi introjetada. Antes, eram os gerentes que cobravam desempenho. Hoje, nós mesmos somos nossos chefes internos”.

    Quando a mente adoece, o corpo sente

    A carga mental, quando constante e não reconhecida, pode afetar seriamente o bem-estar emocional e físico. “A frustração por não ver sentido, por não ser reconhecido e pelo acúmulo incessante de tarefas leva ao estresse, à ansiedade e à depressão”. 

    No campo físico, os reflexos aparecem por meio das chamadas doenças psicossomáticas: “A queda da imunidade é um dos primeiros sinais. Estresse psicológico crônico abre espaço para doenças físicas”, alerta.

    Além disso, a irritabilidade e a agressividade tendem a se manifestar, especialmente nas relações mais próximas. “Essa irritação não é apenas contra os outros. Muitas vezes, a agressividade se volta contra si mesmo, alimentando circuitos depressivos.”

    Como diminuir a carga mental no dia a dia

    Dizer que está sobrecarregado ainda é visto, muitas vezes, como sinal de fraqueza. Mas o docente propõe outra visão: reconhecer a carga mental é, na verdade, um ato de lucidez. “Atualmente, a culpa por não dar conta é quase universal. Mas é fundamental lembrar que essa é uma cobrança forjada historicamente, e não uma falha pessoal”, explica.

    • Reconheça o problema socialmente: falar sobre o assunto e conscientizar as pessoas ao redor já é um primeiro passo importante para dividir responsabilidades de maneira mais justa;
    • Divida a execução e a gestão: muitas vezes, o que sobrecarrega não é só fazer, mas pensar e planejar. “Se você tem um companheiro ou uma companheira, é importante conversar de forma honesta: não basta executar tarefas, é necessário também assumir parte da gestão.” Por exemplo, cuidar para que mantimentos não faltem, organizar a logística da casa e se antecipar às necessidades são tarefas que também precisam ser compartilhadas;
    • Adapte as tarefas ao seu jeito: dentro do que é possível, vale encontrar formas de tornar o cotidiano menos pesado. Coloque um pouco da sua identidade nas tarefas, buscando tornar o que é obrigatório mais leve. Se tenho que buscar meu filho na escola, posso aproveitar para fazer algo que eu goste junto com ele, como tomar um sorvete. É uma forma de reduzir o estresse e aumentar o prazer.”
    • Reduza a autocobrança: questione a cultura da alta performance. Precisamos sair dessa cultura do ‘eu posso tudo’, que nos cobra produtividade infinita e ignora nossos limites.”. Ao aceitar que não daremos conta de tudo, evitamos adoecer na tentativa de atender expectativas irreais.

    ➥ Leia mais
    Mulheres sofrem mais com ansiedade e depressão
    Sonho de ter saúde mental é reflexo de uma ‘sociedade exausta’
    Grande carga de trabalho deixa ‘Terra com burnout’

    Para acessar este conteúdo, crie uma conta gratuita na Comunidade Vida Simples.

    Você tem uma série de benefícios ao se cadastrar na Comunidade Vida Simples. Além de acessar conteúdos exclusivos na íntegra, também é possível salvar textos para ler mais tarde.

    Como criar uma conta?

    Clique no botão abaixo "Criar nova conta gratuita". Caso já tenha um cadastro, basta clicar em "Entrar na minha conta" para continuar lendo.

    0 comentários
    Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

    Deixe seu comentário

    Ao se cadastrar, você concorda com a Política de Privacidade e Dados da Vida Simples
    Sair da versão mobile