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    O que psicanalistas dizem sobre a relação da psicanálise com a ciência?
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    Natália Pasternak se tornou um nome rotineiro na cobertura da pandemia da Covid-19. Seus esforços em defesa da ciência e por uma política de saúde pública efetiva contra a crise sanitária contribuíram para o combate às fake news. O trabalho da pesquisadora ganhou mais uma vez a atenção do público depois do lançamento do livro Que bobagem! pseudociências e outros absurdos que não merecem ser levados a sério (Editora Contexto), também assinado por Carlos Orsi. Na obra, os autores afirmam que acupuntura, homeopatia e psicanálise, são pseudociência. Para aprofundar o debate, ouvimos psicanalistas para entender a relação – nem sempre tranquila – entre psicanálise e ciência.

    No livro, os escritores afirmam que desde os anos 1950 a psicanálise é dada como exemplo de pseudociência. Segundo a obra, a Psicologia científica cobra evidências mais robustas para justificar alegações teóricas quanto a sucessos clínicos. Por outro lado, psicanalistas explicam que a relação entre a psicanálise e métodos científicos é possível e já acontece.

    “A psicanálise reconhece a singularidade de cada indivíduo”, explica a psicanalista Nathália de Paula. A especialista destaca que compreender a história de vida, os conflitos internos e as experiências traumáticas são fundamentais para o campo. Essas dinâmicas inconscientes, segundo ela, moldam o comportamento e as emoções de uma pessoa.

    É certo que a relação dessa prática com a ciência nem sempre foi pacífica. Os atritos entre ambas fazem parte da história da formação e desenvolvimento da psicanálise. “No entanto, isso não significa necessariamente que não há espaço para uma abordagem mais subjetiva e exploratória na ciência contemporânea”, sugere a psicanalista Debora Guerra. Para ela, a psicanálise tem grande valor como compreensão da mente humana.

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    Sim, é possível que, juntas, a psicanálise e a ciência encontrem espaço de diálogo e validação. Para Nathália de Paula, compreender a complexidade do inconsciente humano e a individualidade de cada pessoa não é simples. “A mente humana não é apenas uma coleção de processos cognitivos mensuráveis, mas também sofre influência de fatores culturais, sociais e emocionais únicos para cada pessoa”, reforça.

    Esse elemento é reforçado pela terapeuta comportamental e psicanalista Patricia Strebinger. Segundo a profissional, a compreensão de fenômenos psicológicos complexos nem sempre poderá ser mensurado a partir de métodos quantitativos. “Existe espaço para a coexistência da psicanálise com as abordagens científicas atuais, desde que haja um diálogo aberto e respeitoso“, enfatiza.

    Na obra, Natália Pasternak e Carlos Orsi alfinetam que muitos dos casos trazidos por Freud estão distorcidos. Para esquentar o debate, dizem que os casos clínicos do médico são “imposturas do início ao fim” (página 190). “O projeto científico a princípio legítimo [da psicanálise] degenerou em uma forma de religião secular”, afirmam na página 185 do livro.

    Para a psicanalista Nathália de Paula, ao desconsiderar as contribuições da psicanálise na compreensão de fenômenos complexos do ser humano, forma-se uma percepção de menor valor e descarte dos avanços feitos por esse campo. “Esse preconceito é muitas vezes exacerbado por um conhecimento superficial das contribuições da psicanálise. Isso subestima sua relevância histórica e limita sua integração nas práticas contemporâneas.”

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    “A psicanálise oferece insights profundos sobre as emoções humanas”, destaca Debora Guerra. Isso ocorre, principalmente, por meio da exploração do inconsciente e das motivações ocultas. “No entanto, a abordagem científica convencional busca uma compreensão objetiva e quantificável do mundo, frequentemente empregando métodos experimentais rigorosos”, acrescenta.

    Segundo a especialista, há diversos espaços que podem unir pesquisadores e psicanalistas na busca por um caminho resolutivo. Entre eles estão a pesquisa interdisciplinar, estudos longitudinais, abordagens mistas e a neurociência afetiva. “É possível também testar alguns aspectos da psicanálise de forma empírica. Por exemplo, a interpretação de sonhos e os processos de transferência e resistência podem ser explorados em configurações de pesquisa controladas”, contextualiza.

    Embora nem sempre a validação dessa abordagem seja simples, há alguns caminhos que unem a psicanálise e a ciência. “Uma maneira é usar a neurociência para investigar os fundamentos biológicos dos conceitos psicanalíticos”, sugere Nathália de Paula. Ela menciona que há importantes estudos que relacionam a abordagem psicanalítica à redução de sintomas ligados à ansiedade, depressão e outros transtornos. Revistas respeitadas como a Psychological Medicine e a American Journal of Psychiatry já divulgaram pesquisas do tipo.

    Segundo a especialista, é necessário incluir a psicanálise em programas de apoio institucionais e formativos, assim como em financiamentos de pesquisa e formação, além de regulamentar a profissão. Passos iniciais, mas importantes para um campo profissional com mais de um século de atuação no país.

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