Tem gente que odeia o barulho, mas outros adoram tanto que não conseguem parar com o “tec tec” dos estalos. Não importa a hora e o lugar, quem adota essa prática quase não controla a vontade de estalar os dedos, coluna ou pescoço – tem até os mais criativos que estalam pulso, quadril, joelho, pé e por ai vai.
A ação, que no começo pode até doer um pouco, entra na rotina e serve de alívio em momentos de tensão, dor muscular, incômodo corporal e mobilidade das articulações. Mas será que ela é prejudicial?
O que são os estalos
O estalo acontece nas articulações: junções entre dois ou mais ossos que permitem a movimentação do esqueleto. Quando puxamos ou comprimimos rapidamente uma articulação, acontece o som do estalo, que é explicado por duas teorias.
A primeira é que, com esses movimentos, há uma rápida mudança de pressão na cápsula articular que faz com que gases dissolvidos no líquido sinovial (que lubrifica a articulação) formem bolhas e colapsem. A outra explicação é que os tendões e ligamentos geram atrito em proeminências ósseas ao se movimentarem, o que provoca o som característico. Nenhum osso sai do lugar ou quebra durante esse processo.
Apesar da causa do estalo não ser completamente conhecida, o alívio sentido é muito claro. A ação desencadeia uma resposta de relaxamento nos músculos ao redor da articulação, reduz temporariamente a tensão articular, causa aumento temporário da mobilidade local, reduz a sensação de dor local e o corpo libera endorfina – hormônio que causa a sensação de bem-estar.
Os mecanismos de habituação e adaptação neurológica dessa ação ajudam a entender porque criamos o hábito de estalar os membros, mesmo que no início provoque alguma dor. Explica Laurence Dias, ortopedista do Grupo Santa Casa de Franca:
“O alívio percebido após o estalo gera o que chamamos de reforço positivo, criando em nosso sistema nervoso central uma sensação de recompensa. O nosso cérebro começa a associar tensão ou rigidez à necessidade de estalar, mesmo sem uma real limitação ou desconforto na articulação.”
Por isso, é bem comum ver pessoas em situações de estresse e ansiedade estalando dedos, pescoço e coluna. O alívio rápido da tensão e pressão ajuda momentaneamente. “É mais um alívio neuromuscular e sensorial do que estrutural”, diz Laurence. Isso não significa dependência comportamental, mas pode se tornar repetitivo e difícil de evitar.
Pode causar danos?
Apesar do alívio instantâneo, é necessário ir com calma no hábito. “Estalar ocasionalmente não costuma causar dano. Porém, estalos frequentes e forçados podem”, aponta a quiropraxista Lidiane Garbim. Entre os possíveis danos, estão:
- Irritar ligamentos e tecidos moles;
- Causar hipermobilidade (excesso de movimento em uma articulação);
- Criar instabilidade articular;
- Aumentar o risco de desgaste precoce se houver estalo constante e não supervisionado;
- Aumentar o risco de subluxações (deslocamento da articulação) crônicas;
- Aumentar o risco de microtraumas repetitivos e síndromes dolorosas.
Esses estalos não levam em conta avaliações de especialistas e não tem o controle dos vetores de movimento. Então, mesmo com alívio momentâneo, não resolvem a causa da disfunção.
Por isso, algumas áreas do corpo não são recomendadas para manipulação por conta própria: a coluna cervical (pescoço) e regiões torácicas altas. “Há risco de compressão de artérias, lesões de nervos ou deslocamentos inadequados. Também não é recomendável forçar estalos em áreas com dor aguda, inflamação ou histórico de lesões”, ressalta Lidiane.
Laurence Dias também recomenda: “Deve-se evitar estalar com movimentos bruscos e rotacionais no pescoço, forçar estalos quando não há tensão (estalar ‘por hábito’) e repetição excessiva em articulações já com boa mobilidade.”
Diferença entre os espontâneos e os da quiropraxia
Os estalos espontâneos, sem a força intencional, ocorrem por tração ou por compressão leve da articulação, sem uma técnica direcionada. São normais no corpo e podem ser imprevisíveis.
A diferença dos estalos espontâneos e intencionais para a prática da quiropraxia está na técnica, intenção e segurança. Na quiropraxia, o ajuste é “preciso, específico e direcionado, com base em avaliação clínica, biomecânica e neurológica”, explica Lidiane. “Tem como objetivo restaurar função e movimento de forma segura, protegendo estruturas e promovendo o equilíbrio do sistema nervoso”, complementa.
Para garantir a segurança, eficácia e respeito aos limites do corpo, é importante encontrar quiropraxistas graduados, formados em curso superior reconhecido conforme diretrizes internacionais e da ABQ (Associação Brasileira de Quiropraxia).
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