A dependência emocional no trabalho varia conforme a realidade profissional e psicológica do indivíduo; por isso, pode ser sutil em muitas situações. Mas, em geral, demandar aprovação e validação no trabalho ou sentir medo de desagradar um colega pode indicar um possível comportamento que caminha neste sentido. A solução, embora não seja simples, exige uma atuação que envolve os setores de Gestão e Gente, esforço dos funcionários, líderes e mudanças na própria cultura organizacional de uma instituição.
Além dos sinais mais comuns, outros como dificuldade em dizer não e fragilidade ao receber críticas acendem alerta. Se a tomada de decisões ocorre sempre no sentido de agradar ou desagradar um chefe ou parceiro de trabalho, há chances de que essa relação possa se tornar manipulável ou tóxica com o passar do tempo. É importante lembrar, no entanto, que a dependência emocional no trabalho se manifesta especialmente quando esses sintomas surgem com frequência e em demasia.
Para Juliana Alencar, especialista em cultura organizacional e inovação, é comum que o ser humano, ao longo da vida, exija aprovação, validação ou elogios. Por outro lado, considera “crucial ter consciência de si mesmo para lidar racionalmente com as situações”. Por isso, explica que é preciso buscar maneiras eficazes de se conhecer melhor e de obter segurança emocional em diferentes aspectos da vida. Um deles, por exemplo, é adotar práticas de autoconhecimento que ajudem na compreensão de si mesmo.
Por que os sinais da dependência emocional no trabalho são tão perigosos?
Os sinais da dependência emocional, em boa parte, são universais e comuns a diferentes ambientes profissionais. No entanto, carregam também características sutis a depender da área profissional, do funcionário e de como a empresa cultiva as relações de trabalho. Assim, é comum que os funcionários possam ser incluídos em um contexto de isolamento no trabalho. “É quando se concentra apenas em uma pessoa para suporte, não conseguindo ter dinâmica com os demais do time, devido à aceitação”, explica Gisele Ranulfo, especialista em psicologia organizacional.
Se persistentes, esses sinais podem, ao longo do tempo, facilitar o surgimento de relações danosas à saúde da cultura organizacional. “A necessidade contínua de validação pode levar à exploração emocional por parte de outros colegas, resultando em uma desigualdade de poder e em casos de assédio moral”, diz Juliana Alencar, que é CEO e fundadora da WG, garagem de inovação e transformação cultural. Além disso, a especialista acrescenta que a incapacidade em lidar com críticas pode tornar o funcionário mais propenso a aceitar comportamentos abusivos. “As vítimas podem sentir-se acuadas, com medo de retaliação ou de prejudicar suas carreiras ao relatar o comportamento abusivo”.
A especialista em cultura organizacional orienta que é preciso haver mudanças importantes dentro das empresas, uma vez que relações de dependência emocional podem afetar toda a estrutura da instituição. “Uma ou mais pessoas que apresentam sinais de dependência podem monopolizar o tempo de um líder ou de um grupo, impactar o desenvolvimento de outros e prejudicar a qualidade do trabalho por falta de supervisão adequada”, destaca Juliana. Além disso, pode criar situações caóticas e interpretações distorcidas. “Por outro lado, líderes ou colegas de trabalho podem tirar vantagem da dependência emocional para manipular, controlar ou explorar o indivíduo dependente, demandando mais do que o razoável ou menosprezando seu trabalho.”
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É importante lembrar que, além dos problemas que envolvem a dependência emocional, pode haver impactos na saúde mental dos trabalhadores. Estresse e ansiedade, baixa autoestima, isolamento social, depressão, exaustão emocional, piora no desenvolvimento profissional e estresse pós-traumático são alguns dos sintomas, de acordo com Gisele Ranulfo. Segundo a especialista, a solução para romper ciclos de dependência emocional inclui valorizar a comunicação aberta, o respeito mútuo e o apoio psicossocial. “Para isso, é necessário que as empresas tenham uma comunicação transparente, liderança inspiradora, políticas antissuborno, incentivo a diversidade e inclusão, entre outros”, orienta. Além disso, destaca que as empresas precisam adotar políticas claras contra assédio moral e abuso psicológico.
Já Juliana Alencar lembra que um dos fatores que trazem insegurança é a incompatibilidade dos valores da empresa com a realidade no dia a dia de trabalho. “É um dos principais catalisadores de um ambiente psicologicamente inseguro”. Ela explica que a cultura organizacional possui o papel de promover ambientes que incentivam a autonomia, a resiliência e o suporte mútuo, assim como o aconselhamento psicológico e políticas de combate às relações tóxicas. “Ambientes que não investem em programas de desenvolvimento pessoal podem aumentar a dependência emocional. Isso pode fazer com que os profissionais dependam da organização para validação e crescimento”, afirma.
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Caminhos para romper com a dependência emocional no trabalho
Para Juliana Alencar, é preciso existir um esforço mútuo entre funcionários, líderes e a estrutura organizacional da empresa. Por isso, sugere algumas iniciativas que podem ser tomadas, como:
- Promover uma cultura de respeito e liderança empática;
- Ter responsabilidade com feedback e feedforward;
- Promover uma comunicação aberta, além de implementar políticas e treinamentos, encaminhando profissionais para auxílio psicológico quando necessário;
- Ter líderes preparados e próximos às equipes para lidar com as situações de forma respeitosa e humana;
- Estabelecer relações de confiança e coerência entre os líderes e liderados, mantendo seriedade e respeito;
- Incentivar práticas de autocuidado, como pausas regulares, atividades físicas e momentos de relaxamento.
Individualmente, é preciso sempre estar atento ao tempo que o trabalho ocupa na vida de cada um, assim como a dedicação às atividades da empresa. Embora o foco no desempenho e nas tarefas seja primordial para sentir-se realizado no trabalho, é preciso ficar alerta e incluir limites na vida profissional. “O risco é colocar o trabalho como o centro da vida, como um definidor das emoções, das ações e do senso de valor pessoal”, explica Ju De Mari, terapeuta junguiana e mentora de carreiras. Por isso, é comum que o profissional sinta medo de perder o emprego, achar que precisa se dedicar mais ao trabalho ou extrapolar a carga horária exigida.
“Vincular a identidade a um único aspecto é fazer a autoestima de refém, contribuindo para uma menor resiliência ao estresse, baixa tolerância a críticas e maior reatividade“, frisa Ju De Mari.
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