A casa é o ambiente onde permanecemos boa parte do nosso tempo, criamos relação de afeto, pertencimento e nos sentimos seguros. Mudar um móvel de lugar ou pintar uma parede são alterações comuns na dinâmica de um lar. Mas, dá para ir além! Nos últimos anos, pessoas estão buscando transformações mais profundas na arquitetura do ambiente em prol da sustentabilidade e da economia.
A implementação de práticas sustentáveis e modelos ecológicos de construção de residências tornam os espaços menos poluentes, mais baratos e em harmonia com o meio ambiente. As casas sustentáveis são hoje modelos difundidos em todo o país e adotados por inúmeras pessoas que buscam alternativas viáveis com baixo impacto ambiental.
A necessidade de ambientes menos poluidores se tornou cada vez mais urgente e procurados por inúmeras pessoas que buscam adotar práticas mais sustentáveis. No Brasil, uma das primeiras construções que aplicam princípios ecológicos foi concluída no ano de 2009 pelo casal Yuri e Vera Sanada, que juntos coordenaram o processo de criação da “Casa Orgânica“, um projeto que utilizou sete mil pneus que iriam para o lixo, três mil garrafas pets e cinco mil latinhas de alumínio.
Construção civil e crise climática
A construção civil é um dos principais setores da economia para o PIB brasileiro, com uma importância especial para a geração de empregos, renda e desenvolvimento regional de um município, bairro ou região. Embora seja importante, o setor é responsável por 79% das emissões de gases do efeito estufa na atmosfera, como mostra o estudo “Infraestrutura para a crise climática“, desenvolvido pelo Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e a Universidade de Oxford.
Mesmo que movimentem a economia e gerem renda para um segmento da população, a produção de materiais como concreto, cimento e derivados do petróleo geram altos níveis de gasto energético, transporte e impacto ambiental. A mineração de diversos materiais, como brita, argila e areia, além da produção de resíduos urbanos, também são atividades que colocam a construção civil como um dos principais agentes dos problemas ambientais.
Mudar as condições de adaptabilidade dos seres humanos e a forma como as residências são construídas não é o único caminho necessário para que a sustentabilidade seja incluída na pauta. Para Tomaz Lotufo, arquiteto e permacultor, “a gente precisa mudar o comportamento, nossa cultura e a maneira como se vê o mundo”.
Construções ecológicas
As construções ecológicas são iniciativas adotadas em diferentes lugares do planeta e que ganharam grande importância a partir de pesquisas, técnicas e alertas das necessidades que precisam ser adotadas para o combate à crise climática. Um desses modelos — as casas sustentáveis —, tornaram-se ideias viáveis, acessíveis e implementadas em muitas regiões do Brasil.
Esse modelo de construção contribui para promover um novo modo de vida nas pessoas que o adotam, promovendo uma cultura do cuidado pela vida e de enxergar o mundo de outras formas.
“A casa é um espaço cultural, é onde se vive, então muitas de nossas atividades acontecem na casa e elas podem ser menos poluidoras e mais positivas socialmente”, defende Lotufo.
Os princípios de sustentabilidade visam inverter a lógica de como as energias são transformadas e digeridas dentro da casa. Recebemos luz do sol, água potável e alimentos frescos, mas devolvemos isso em forma de esgoto e lixo, dois grandes problemas para as cidades, que ainda são mal resolvidos e necessitam de dinheiro e energia para serem processados.
Inspirações
É preciso olhar o ambiente em que estamos, observá-lo e nos questionar como nos comportamos, como o alimento sai da nossa casa e como devolvemos para a natureza aquilo que recebemos dela. Nessa pegada, um dos projetos desenvolvidos por Lotufo, o Casa Viva, deu origem a uma casa sustentável localizada no bairro do Butantã, na zona oeste da capital paulista.
Para a construção, foram utilizados resíduos de obras, como madeiras de demolição, que originaram uma casa com ventilação natural, um arco de tijolo que excluiu vigas de concreto, um fogão à lenha, que aquece toda a casa e ainda funciona como lareira, além de um sistema natural de tratamento de esgoto.
“Quando a gente constrói uma casa com esses princípios, a gente, de alguma maneira, busca compreender quais os recursos que você tem no local e utilizá-los, tentando evitar os recursos que vem de longe, e que sejam de baixo impacto ambiental e impacto social positivo“, lembra Tomaz Lotufo, que é mestre em arquitetura pela Universidade de São Paulo (USP) e integrante do escritório colaborativo Sem Muros Arquitetura Integrada.
Arquitetura da obviedade
Um dos princípios das construções ecológicas é a arquitetura apropriada, ou “arquitetura da obviedade”, brinca Tomaz Lotufo. “Arquitetura apropriada é quando a gente trabalha o projeto de maneira que ele seja apropriado às pessoas e apropriado ao lugar. Apropriado às pessoas significa que você está promovendo um desenho que as pessoas consigam reproduzir, fazer de novo, e com isso a gente muda a cultura”, define o arquiteto.
Em poucas palavras, são modelos acessíveis, sustentáveis e que podem ser replicados por outras pessoas. “É a arquitetura do óbvio, tem que se apropriar dos lugares e das pessoas, só assim a gente vai criar uma cultura da sustentabilidade, na medida em que as boas soluções sejam replicadas”, acrescenta.
Para Lotufo, a casa não é um objeto, mas sim um processo vivo, dinâmico e que acompanha as mudanças no entorno, um lugar onde se vive e se processa a energia da natureza.
“Quando eu faço uma casa, eu busco olhar a energia presente no território onde eu estou construindo e vou gerenciar ela para que entre de maneira positiva e com qualidade para outras espécies de vida”, afirma.
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Bioconstrução
Diversas experiências no Brasil buscam adotar a bioconstrução — termo utilizado para se referir a construções onde a preocupação ecológica está presente desde sua concepção até sua ocupação — em residências e moradias que visam o mínimo impacto ambiental.
No ano de 2017, começaram a ser construídas diversas moradias em Ceilândia, no Distrito Federal, pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). A iniciativa, em parceria com a Unipermacultura, envolveu mais de 200 voluntários em um mutirão que utilizou materiais orgânicos como barro, bambu e grama nos 109 lotes da Ocupação Povo Sem Medo do Sol Nascente.
O projeto conta ainda com uma bacia de evapotranspiração, ou tratamento natural de esgoto, que possui um jardim por onde o esgoto entra, passa por uma fermentação em pneus velhos, brita e areia, depois encontra raízes de bananeiras e outras plantas de folhas largas que filtram a água e produzem alimento orgânico para os moradores.
Dicas práticas
Saiba como implementar pequenos hábitos no dia a dia para reduzir o impacto ambiental antes mesmo de uma reforma maior na sua casa ou da construção de uma casa sustentável, seguindo os princípios de bioconstrução e sustentabilidade:
1. Compre de pequenos produtores
Busque comprar frutas, legumes e verduras de pequenos agricultores ou frequente feiras agroecológicas, feiras de bairro ou faça parte de cestas agroecológicas, como as do MST, que faz entregas em residências, dependendo da sua região.
2. Evite o uso de produtos químicos
Tente reduzir o uso de produtos como desinfetantes, água sanitária e sabões. Além de terem um potencial de danos a nossa saúde por tempo de exposição, o uso de químicos também afeta o meio ambiente e contamina a água que sai da nossa casa.
3. Busque por mais iluminação natural
Tente incluir paredes com cores claras, janelas em pontos que facilitem a entrada de luz, plantas que possuem potencial de reflexão ou um mosaico de espelhos.
4. Reduza o consumo de água
Reduzir o consumo de água é uma ação eficaz que contribui para a redução do impacto ambiental e pode ser feita também na forma de reaproveitamento. Por exemplo, você pode utilizar a água da máquina de lavar para lavar a calçada ou criar um sistema natural de tratamento.
5. Inclua plantas no ambiente
As plantas não só podem ser eficientes na reflexão da luz como também para a melhoria da umidade e temperatura do ambiente.
6. Separe o lixo
Uma atividade simples e prática é separarmos nosso lixo, o que é reciclável do orgânico, lavar os materiais que irão para a reciclagem e contatar uma cooperativa ou serviço da prefeitura.
7. Capte água da chuva
Você pode desenvolver um sistema de captação de águas de chuva, como uma cisterna, por exemplo, e utilizar a água para as atividades do dia a dia, isso é uma forma de reduzir o consumo e aproveitar um recurso natural.
8. Faça compostagem
A compostagem pode ser feita com ou sem o uso de minhocas e funciona como um mecanismo de degradação de materiais orgânicos que são transformados em adubo para as plantas. Os resíduos não viram lixo e ainda se tornam um aditivo para o solo.
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