A tarefa de cultivar o próprio alimento é muito facilitada se nos alinharmos com os ciclos da natureza, respeitando a época de plantio de cada espécie. Faça uma horta.
Fazer as “compras” do hortifruti no próprio quintal de casa. Um desejo que parecia difícil — ou distante para quem vive nas cidades — nasceu ou cresceu muito na pandemia. Mesmo antes desse período tão difícil da nossa história como humanidade, vários de nós já pensávamos na vitória de ter uma fruta ou tempero fresco à mão. Mais do que alegrar a casa, quintal ou varanda, cultivar o próprio alimento tem o poder de nos aproximar dos ciclos da natureza. Com o isolamento prolongado, cuidar de uma planta virou também terapia. Dessa forma, ao cultivar alimentos unimos mais um elemento a essa equação benéfica.
Hoje quero te incentivar a plantar mais e depender menos do supermercado para turbinar sua salada, fazer um chá ou uma receita no seu dia a dia. Ao ler isso, você pode pensar que não tem um quintal suficientemente grande. Da mesma forma, para quem mora em apartamento é uma missão quase impossível. Se precisava de motivação extra, encontrou! É possível criar uma horta que caiba no seu espaço.
Cultive seu alimento
Se você mora em uma casa com quintal, já conseguiria separar uma área para uma pequena horta. Existem estudos mostrando que em apenas um metro quadrado, plantam-se legumes e verduras suficientes para a necessidade diária de um adulto por um mês. Por ser cultivada em espaço pequeno, não exige grande esforço para cuidar e colher. Pode até fazê-la alguns centímetros acima do chão, 70 a 80cm (mais ou menos na cintura de um adulto), para não precisar se abaixar ao cuidar. Terá mais conforto e pode ser um convite para as crianças aprenderem a cuidar, como parte da rotina.
Nessa “horta de um metro quadrado”, você irá separar quadrados e retângulos com divisórias (podem ser estacas com barbantes), para cada planta. Uma sugestão, 16 quadrantes com 25 cm2 cada. Para as que crescem verticalmente, uma linha de quatro quadrantes no fundo da horta com uma armação a uma altura de cerca de 1,5m da terra, para amarrar as plantas conforme crescem.
Sugestões de plantas:
Temperos: alecrim, manjericão, hortelã, salsinha.
Legumes: Alface, cenoura, beterraba, rabanete e repolho, couve-flor, brócoli, berinjela. E tomate, pepino, vagem, ervilha (crescimento vertical)
Cultivo em comunidade
Do mesmo modo, vale a pena falar sobre benefícios da horta “em consórcio”. Quando há mais do que um envolvido no manejo e cuidado, em poucos minutos consegue-se uma boa horta. A diversidade de espécies na horta também é importante. Várias plantas diferentes crescendo juntas, imita-se uma floresta e a realidade da natureza. Nessa dinâmica, uma ajuda a outra a crescer, seja embaixo da terra, onde suas raízes se encontram e se fortalecem, seja na superfície, onde se conectam e se alimentam: uma faz sombra para outra, as folhas que caem adubam a terra, estão sempre em “boa companhia”.
Para quem mora em apartamento ou em uma casa que não possui jardim, há outras opções como o plantio em vasos ou caixas de madeira. Porém, esses alimentos isolados em vasos ou caixas não irão se conectar com outros elementos da natureza, vão depender exclusivamente dos seus cuidados. Dá mais trabalho regar e cuidar de vasos do que de uma horta, porém também dá certo. Uma sugestão, se tem mais habitantes em casa, se revezarem nos cuidados, decorar o cantinho do jeito de vocês e estarem sempre por perto para que as plantas se sintam parte de uma comunidade.
Hugels
Aqui no nosso espaço em Atibaia, começamos com as hortas no modelo tradicional, no chão. Davam um trabalho grande para a manutenção, exigiam que alguém carpisse o terreno a cada plantio. E também dava acesso aos bichos da região. Após um contato maior com a permacultura, fizemos um complexo de hortas suspensas inspiradas no modelo Hugelkultur (antiga tradição de plantio alemã).
Os nossos “Hugels”, como carinhosamente chamamos, são canteiros elevados como se fossem caixas altas, envoltos em tábuas de madeira e estacas de bambu de cerca de 12m de comprimento por 80cm de largura. Deixamos o chão de terra como base, colocamos primeiro uma grossa camada de matéria orgânica, coletada no entorno — restos de troncos de árvores, galhos (basicamente tudo que fica pelo chão da floresta e irá se decompor).
Finalmente, esse composto funciona como um poderoso adubo para que a horta esteja sempre bem nutrida. Em cima dessa camada é colocada a terra “boa”, enriquecida com matéria orgânica da nossa composteira (após maturação por alguns meses). Assim, quando plantamos as mudas por cima, não precisamos colocar nenhum tipo de composto artificial.
Sintonia com a natureza
Estamos aprendendo muito com essa experiência e já melhoramos a forma de fazer, sempre pensando nos conceitos da permacultura, de utilizar o que temos perto da gente. Também estamos aprendendo quais os melhores vegetais para se plantar em cada época, de acordo com o clima da região e a estação em que nascem. Uma sabedoria que usamos pouco na vida urbana. Afinal, acabamos pagando mais caro por alguns alimentos que não são típicos da estação, pelo simples hábito de comermos determinada fruta. Por isso devemos sempre começar com o autoconhecimento, nos olhando e perguntando porque temos determinado hábito (que muitas vezes pode ter vindo de outras culturas, de um programa de televisão, simplesmente). Quando estamos mais em contato com os ciclos do planeta, todos ganham. E com certeza a natureza agradece o nosso cuidado!
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