Com a constante transformação tecnológica, as carreiras estão mudando em uma velocidade impressionante. Entender e se preparar para as profissões do futuro (até para aquelas que ainda nem existem!), se torna uma tarefa essencial tanto para adultos quanto para os adolescentes que estão prestes a fazer escolhas importantes em suas vidas.
Ricardo Cavallini, educador e especialista em tecnologias inovadoras, recentemente lançou um livro que vem ajudar nessa jornada. Com o título Para os seus próximos mil anos: um manual para as profissões que ainda não existem* o livro serve como um guia para familiares e jovens que desejam desvendar as complexas mudanças que o mercado de trabalho terá nas próximas décadas.
Autor escreveu obra para conversar com a filha
Um fato curioso, que torna esse livro diferente de outros guias, é o fato de ele ter sido escrito com um propósito muito pessoal. Ricardo Cavallini é pai de uma adolescente de 17 anos e sentiu a necessidade de iniciar uma conversa estruturada sobre o futuro e a escolha de carreira com sua filha. Ele percebeu que, embora essas conversas sejam cruciais, nem sempre são fáceis de serem conduzidas, especialmente com adolescentes tão ocupados com suas agendas e vidas online. O resultado desse esforço é um livro que não apenas serviu como base para discussões profundas entre pai e filha, mas que agora se torna uma ferramenta acessível para todas as famílias que desejam explorar o tema.
Nesta conversa exclusiva para o portal da Vida Simples, Ricardo Cavallini compartilha suas reflexões sobre o desafio de falar sobre o futuro e oferece insights valiosos sobre como os pais podem orientar seus filhos desde cedo em um mundo onde as escolhas de carreira estão passando por profundas mudanças. Ele também discute a importância das mudanças culturais e de comportamento na formação das profissões futuras e destaca algumas das tecnologias emergentes que darão forma a esse novo cenário.
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Como surgiu a ideia de escrever “Para os seus próximos mil anos: um manual para as profissões que ainda não existem”?
Minha filha está com 17 e falamos muito sobre o futuro e a escolha de carreira, mas nem sempre é fácil conversar com adolescentes. A agenda deles parece pior que a nossa, a escola suga bastante energia e, nesta idade, paciência parece ser uma virtude que foi assassinada pelos hormônios. Senti muita necessidade de ter uma conversa mais estruturada e mais profunda. Achei que ter um livro como base seria uma boa ideia. Ela leu no tempo dela e, no final de cada capítulo, a gente discutiu sobre os temas.
Você pode comentar um pouco sobre o desafio de escrever sobre o futuro?
Tenho muito orgulho de ter um histórico bem sucedido em fazer previsões corretas. Estou há quase 20 anos falando sobre IA, coisas conectadas (hoje chamado de Internet das Coisas), computação quântica, o impacto do mobile, a mudança do conceito de privacidade etc. Explicar sobre esse futuro que está chegando todos os dias e ajudar empresas e executivos a lidar com ele é o meu trabalho. Na última década também tive oportunidade de trabalhar com crianças e adolescentes, das mais abastadas em family offices a uma iniciativa social com escolas públicas. Não menos importante, quando virei pai, foi natural olhar também com esse viés. Então, escrever foi botar no papel o que estou pensando e trabalhando há muito tempo. Isso dito, está cada vez mais difícil prever o futuro. As coisas estão mudando muito e mudando rápido. O que estamos vendo hoje parece ficção científica. De impressoras 3D fazendo casas a robôs dançando e fazendo piruetas. O futuro será incrível.
Você conta no livro que ele foi escrito pensando na sua filha, que está na fase de decidir por uma carreira. Eu tenho um filho de apenas 5 meses e confesso que fiquei um pouco angustiada em perceber todas as transformações que podem ocorrer quando ele tiver que escolher uma profissão. Como os pais podem lidar com esse cenário um tanto quanto caótico para orientar os filhos desde cedo?
Minha sugestão é comprar o livro. Brincadeiras à parte, acredito que são muitas coisas. Passa pelo processo de estimularmos a criatividade, de pressionarmos e ajudarmos as escolas para que elas consigam evoluir, não ignorarmos os perigos do uso das redes sociais etc. Para os mais novos, evitar e postergar ao máximo o acesso à telas e redes sociais. Com os mais velhos, nossa experiência também conta muito. Por exemplo, muitos de nós passamos pela grande mudança que a internet trouxe em nossas áreas. O que aprendemos com isso? Alguém perdeu o emprego, mudou de profissão, quebrou? Como se recuperou? Quais as dificuldades, o que teria feito de diferente? Falar sobre isso pode ser chato para um adolescente no sentido histórico, mas ele entendendo que viverá mudanças similares, a coisa muda de figura
O livro incentiva a leitura em família. Quais são os benefícios de pais e filhos discutirem juntos sobre o futuro do trabalho e as possibilidades de carreira?
Meu desejo é que o livro sirva de base para fomentar essa discussão, que já é muito presente nas famílias com adolescentes. Esta é uma fase delicada, os filhos precisam dos pais e acredito que o desejo verdadeiro de pais e mães é ajudar. Com um futuro em constante mudança, planejar a carreira passou a ser um exercício muito mais complexo. A verdade é que somente nas últimas décadas passou a fazer sentido planejar 40 ou 50 anos de profissão. Não fomos treinados para isso e agora precisamos ajudar nossos filhos nesse planejamento. Discutir sobre desejos, medos, objetivos também pode aproximar as famílias.
No livro, você também aborda comportamentos e ações práticas que a nova geração pode adotar para se preparar melhor para as profissões do futuro. Você pode citar exemplos de como os jovens podem começar a implementá-los em suas vidas?
Vou citar um exemplo, na verdade, uma lógica bem simples e de maneira bem resumida. Não existe (e não existirá) nenhuma profissão que não demande um aprendizado contínuo. O desafio será incluir o aprendizado no nosso dia a dia, assim como vocês já fazem, por exemplo, com alimentação saudável e exercícios físicos. Para facilitar esse aprendizado, uma das ações necessárias é evitar obstáculos que interfiram nesse aprendizado. Um dos maiores obstáculos hoje está no exagero das redes sociais, que estão, entre outras coisas, acabando com nossa capacidade de foco. Para crianças menores, cabe aos pais impor limites. Para adolescentes, acredito que o melhor caminho seja fazê-los entender o quanto isso pode prejudicar sua saúde mental, sua visão de mundo e dificultar seu aprendizado, não apenas no presente, mas no futuro.
Você menciona que as mudanças no mercado de trabalho são não apenas tecnológicas, mas também culturais e de comportamento. Como essas mudanças de comportamento afetarão as futuras profissões?
A tecnologia teve profundo impacto na maneira como fazemos amigos, trabalhamos, fazemos compras etc. Inteligência artificial vai transformar tudo de novo. Surgirão novos empregos, empresas e indústrias e alguns serão substituídos ou perderão relevância.
Como você explica no livro, o conceito de progresso exponencial acelera ainda mais as mudanças. Pode compartilhar conosco algumas das tecnologias emergentes que você acredita que terão um impacto significativo nas profissões do futuro?
São muitas e elas estão cada vez mais misturadas. IA está potencializando a impressão 3D, a computação quântica e internet das coisas vão potencializar a IA e assim por diante. A próxima grande onda (que já começou) será a era da IA. O que estamos presenciando com ChatGPT é apenas o começo.
Qual é a mensagem central que você espera transmitir para as pessoas que desejam compreender melhor o futuro das profissões?
A influência de pais e mães na carreira dos filhos e filhas sempre esteve presente, mas agora ela ganhou uma nova complexidade. Refletir sobre isso é o primeiro passo. O livro é minha pequena contribuição para algo tão importante. Espero que as pessoas gostem.
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