Nas pinturas de Antônio Obá, as crianças são personagens e também agentes do seu tempo, conscientes e capazes de transformar o mundo. Seguindo essa temática de liberdade e autonomia infantil, o artista brasiliense revisita momentos trágicos da história transformando-os em episódios poéticos, sem se esquecer do martírio de quem viveu aquilo. Em Banhistas nº 3 – Espreita, Antônio faz referência a um acontecimento de 1964, quando Martin Luther King foi impedido de almoçar no hotel Monson Motor Lodge, na Flórida.
Ao insistir, o líder foi preso por invasão de propriedade. Dias depois, um grupo de manifestantes brancos e negros mergulhou na piscina do lugar em sinal de protesto e, em reação, o mesmo gerente que reprimiu Luther King despejou um galão de ácido muriático nas águas. A fotografia mais famosa desse dia é de Horace Cort, a partir da qual Obá pinta. Nesta versão, o vilão dá lugar a um crocodilo, fazendo alusão às histórias em que crianças escravizadas eram usadas como isca.
Aqui, elas ficam à espreita, são predadoras – e protagonistas da mostra Revoada, em cartaz na recém-inaugurada Pina Contemporânea, em São Paulo.
Esse conteúdo foi publicado originalmente Edição 258 da Vida Simples
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