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    O que aprendi com a síndrome do pânico
    Ante Hamersmit
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    Eram 4 horas da manhã quando liguei para minha mãe. Eu havia acordado me sentindo sufocada, agonia – da, numa crise da qual não me esqueço. Mil pensamentos passando pela cabeça e a urgência em sair de casa em busca de um lugar seguro. Ela recebeu minha ligação assustada, e pensou que eu estava tendo um ataque cardíaco. Mas eu sabia que aquele era o auge da minha crise de ansiedade, o episódio inicial de uma fase aguda de síndrome do pânico que duraria dois meses e da qual hoje, após um processo de autoconhecimento, já me sinto melhor.

    Na noite de terça-feira, eu havia recebido uma mensagem pelo próprio celular com uma notícia que me deixou muito mal: um colega havia tirado a própria vida. Ele tinha depressão, e fiquei me perguntando o que se passava na cabeça dele. Eu já estava lidando, havia alguns anos, com momentos de estresse profundo na empresa, e constantemente enfrentando episódios de ansiedade. Me senti angustiada e com uma sensação ruim … Mas sempre fui vista como uma pessoa equilibrada e organizada. E, naquela crise, experimentei uma sensação diferente do que era ser eu. Perdi o controle da mesma. Tive taquicardia, sensação de asfixia, e a mente martelava ideias bagunçadas, desconexas. Me assustei, eu não era assim.

    O quadro de síndrome do pânico

    Minha mãe estava na casa da minha irmã, que tinha tido bebê recentemente. E foi para lá que se – gui, no meio da madrugada. Peguei o carro e fui para aquele que seria o único refúgio seguro no qual eu poderia estar. O quarto da minha pequena sobrinha se tornou meu abrigo por um mês, no auge da crise de pânico. Com apenas 8 meses, ela já dormia segura no seu bercinho. E eu, aos 38, voltava a ser criança, e só pegar no sono segurando a mão da minha mãe. Quando um bebê acordava no meio da noite para mamar, eu já estava desesperta. É que as crises não me permitem uma noite inteira de sono, cada duas horas abria os olhos, muitas vezes com os mesmos sintomas que pareciam não querer me deixar tão cedo.

    No quadro de síndrome do pânico, os pensamentos ficam emaranhados; os sentimentos, embaçados. Enquanto a agonia só cresce dentro de você. Essa morada provisória traz muitos desconfortos. É como se um inquilino passasse a habitar sua própria casa sem o seu consentimento. Você fica sem saber como agir, pois qualquer reação é desconhecida e imprevisível. Naquele período, tudo me lembrar do meu colega e aquele episódio que eu lutava dia e noite para esquecer. No meio dessa confusão, fui tomada pelo desespero. Minha cabeça passaram pensamentos tão absurdos que eu cheguei a temer a perda da lucidez. Rezava diariamente, para que Deus guiasse meus caminhos.

    Uma viagem para dentro

    Durante essa jornada, peregrinei dentro de mim. Buscava a cura para a desordem e o barulho interno. É como se eu precisasse convencer minha mente de que aquele inferno passaria. Achei numa canção da banda Coldplay os versos para expressar um transtorno de pânico. “Ninguém disse que era fácil. Ninguém jamais disse que seria tão difícil assim. Oh, me leve de volta ao começo ”, diz a letra de The Scientist . Esse começo é o ponto de chegada de quem, assim como eu, já sofreu ou convive com a síndrome. Voltar ao zero e retomar uma posse da própria vida. Ressignificar o tempo, como experiências e memórias. Busquei tratamento logo. Eu queria me reconhecer novamente.

    Nesse sentido, as sessões de hipnose me ajudaram mais do que eu poderia imaginar. O Dr. Diego Wildberger me fez voltar ao passado e remexer nas memórias mais profundas. Nelas, eu mergulhava em tudo o que me trazia desconforto. Em hipóteses das quais eu lembra mais, ou outras das quais jamais esqueci, como o falecimento do meu pai, há 14 anos. Ou mesmo os tempos da escola em que sofri bullying: eu não tinha noção das consequências daquele período. Era muito tímida e guardava tudo – como ainda fazer depois de adulta em diversos momentos da minha vida.

    Uma reprogramação

    Diego também me ensinou a reprogramar a forma ansiosa como eu pensava como hipóteses futuras e também a respirar de um jeito que me regula os hormônios de bem-estar, ajudando no controle das crises. O que acontece durante esses episódios é que o organismo ativo no sistema de luta-fuga, e as reações são desencadeadas pela mente com reflexos no corpo. Surgem os sintomas físicos e, em algumas pessoas, até a paralisia. Aos poucos, as crises foram perdendo força após as técnicas de hipnose, os exercícios de relaxamento e as conversas francas sobre minhas memórias e medos.

    Ao mesmo tempo eu também busquei acompanhamento psiquiátrico. O Dr. Lauro Tonhá me confirmou que a síndrome do pânico não surgia de repente. Em quadros de estresse ou depressão, episódios de pânico podem se manifestar como consequência de outras síndromes. Segundo ele, “o pânico é uma ansiedade maior, em que você chega a ter a sensação de desrealização, de perda de controle total e morte iminente”. Além da medicação, também recebi uma prescrição fundamental para me ajudar: a prática de atividade física. E fiz um curso de meditação e também busquei apoio nas missas de libertação. Nelas, eu escrevia em uma folha tudo o que queria que fosse embora. Pode parecer pequeno, mas colocar isso no papel era um jeito de tirar um pouco de mim.

    Um novo começo

    Após um mês, consegui voltar ao meu apartamento. Era um lugar que eu adorava, mas que cogitei vender porque não me sentia segura só. Minha mãe então ficou comigo por dois meses e aos poucos as coisas foram aprimoradas. Achei que a doença tomaria conta de mim e que poderia durar uma infinidade de tempo. Sem um senso de razão ativado, tudo era incerto. Ainda bem que não foi assim pra sempre. Com alguns meses de tratamento, já me senti melhor. Mas vez ou outra surgiam as hipóteses que funcionavam como um gatilho para me colocar no meio de uma crise. Com doses de remédio, atividade física, hipnoterapia e meditação, aprendi a controlar minhas reações em situações difíceis.

    Também tomei uma decisão que transformou minha rotina. Propus uma redução na minha jornada de trabalho, mesmo significando ganhar menos. Em vez de oito horas, hoje trabalho seis. Percebi que nem sempre as situações vão mudar, nem há como acabar com momentos estressantes. Mas podemos agir de forma diferente diante delas. Deixei de engolir tudo e passei a expor o que sinto. Tudo mudou.

    Viva de forma plena

    Percebi que existe muito preconceito em torno das doenças psicológicas. Quando alguém próximo tem, não damos atenção, porque não é algo tão perceptível como uma doença física. Afinal, enquanto a pessoa com depressão ou ansiedade ainda é capaz de seguir sua rotina, ninguém desconfia do que ela passa – ou tudo não parece mais do que frescura. Já quem enfrenta isso se vê perdendo a própria personalidade, com medo dos rótulos que levam ao silêncio e à vergonha.

    Por isso acho que precisamos falar mais sobre o assunto. A síndrome do pânico foi o pior momento da minha vida, mais até que a morte do meu pai, que eu amava tanto, que era meu herói. Mas ela também foi um divisor de águas, que me colocou dentro de mim, das minhas emoções, e me fez rever o que não me sinto bem e não carregar mais nada que não é meu, não receber lixo de ninguém. Até meus melhoraramaram. Hoje comemoro cada momento como se fosse único. Viver de forma plena, verdadeira e sincera é o que mais importa.

     


    Laila Azevedo é jornalista, publicitária e poetisa. Desbravadora dos caminhos de fé e das boas energias.

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