A pesquisa internacional “Meninos: sonhando os homens do futuro“, busca mapear os medos, dores, impactos do machismo na sociabilidade, desafios e potências dos meninos. Com início em agosto, o projeto é idealizado pelo PapodeHomem, Instituto PDH em parceria com a Natura. A iniciativa promove uma escuta dos meninos de 13 a 17 anos, que é feita por meio de pesquisa qualitativa e quantitativa, para traçar com profundidade o perfil dos meninos e suas perspectivas. O estudo também recebe apoio do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU).
A pesquisa nasceu de forma propositiva para divulgar os dados de forma pública e fomentar o debate sobre as masculinidades. “Com base nela vamos filmar um documentário e desenvolver uma ferramenta pedagógica voltada para a transformação dos meninos, focada em escolas e espaços esportivos”, destaca Guilherme Valadares, diretor de pesquisa, desenvolvimento e treinamentos do Instituto PDH.
Para ele, os esforços de todos os parceiros visa contribuir para um futuro com homens equitativos, emocionalmente saudáveis, compassivos e responsáveis. A coleta de dados quantitativos pretende alcançar também as meninas adolescentes, assim como pais, mães e responsáveis por meninos – no Brasil, México e Argentina. A pesquisa ainda está em período de coleta.
Por que construir uma sociedade livre do machismo?
A comunidade, embora agregue conquistas importantes na busca por uma masculinidade saudável, ainda convive com o machismo no cotidiano. Há inclinação para a performatividade de uma certa masculinidade, que frequentemente é danosa a outras pessoas, especialmente às mulheres. É o que molda comportamentos e as próprias crenças dos meninos. “Eles crescem acreditando que devem performar a masculinidade do ser forte, de não ser vulnerável, e isso tem um preço muito alto”, explica Thiago Queiroz, palestrante, educador e fundador do Paizinho, Vírgula!
Além disso, estereótipos e pressões comportamentais afetam a própria saúde mental dos homens, segundo a psicanalista e terapeuta comportamental Patricia Strebinger. “Essas expectativas podem limitar sua expressão emocional, dificultando o desenvolvimento de empatia e habilidades de comunicação interpessoal”, afirma.
No entanto, há uma disputa entre esses discursos e àqueles ancoradas em um desejo de construir masculinidades mais frutíferas e dialogadas com o bem-estar de toda a sociedade. Por outro lado, há barreiras difíceis de serem quebradas, como estereótipos e valores misóginos. “Os meninos seguem recebendo pressões contraditórias, para que performem uma masculinidade baseada unicamente em prover, reproduzir, proteger e dar conta de tudo sempre sozinhos, sem jamais fraquejar ou expressar sensibilidade”, enfatiza Guilherme.
Segundo as pesquisas “O silêncio dos homens” e “Precisamos falar com os homens? Uma jornada pela igualdade de gênero”, os desafios e impactos da masculinidade baseada em medo e controle é danosa e problemática.
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Quais fenômenos impactam a criação dos meninos atualmente?
Há inúmeros fatores que contribuem e afetam o machismo em meninos e homens. Para Guilherme Valadares, quatro pilares contribuem para a sustentação de antigos estereótipos, mas também de movimentos crescentes na sociedade que se contrapõem a antigos valores. Por exemplo, a proeminência de organizações LGBTQIAP+ e os debates sobre feminismos e masculinidades dividem a arena com a pressão pela performance masculina em períodos de crise econômica, além da presença das redes sociais nos comportamentos dos meninos e adolescentes, como mostramos abaixo.
Para Thiago Queiroz, uma das iniciativas para construir outros modelos de masculinidade é inserir a visão de que é possível ser homem de uma forma diferente. “A gente traz outros questionamentos, como a forma em que nós iremos nos relacionar com os outros. Mas é importante também falar sobre afeto e consentimento”, destaca.
É preciso, segundo ele, frisar a mensagem de que é necessário educar os meninos a partir de outras ferramentas. “Quando vou para algum lugar, eu preciso que isso fique firme e fixado na cabeça das pessoas. A gente só consegue mudar o futuro se mudarmos a forma como criamos os nossos meninos”, enfatiza.
As expectativas sociais do que é “ser homem”
Guilherme Valadares lembra ainda da permanência dos valores mapeados pela “Caixa dos Homens”, um estudo dos anos 1980 que investigou as expectativas sobre o público masculino. O trabalho é resultado do educador Paul Kivel, Allan Creighton e outros no Oakland Men’s Project. Juntos, eles desenvolveram um trabalho com homens adolescentes em escolas públicas, com resultados transformadores, dando origem ao conceito. Entre os comportamentos mapeados, estão:
- Ser vencedor;
- Ser dominante e agressivo;
- Nunca dar sinais de fraqueza;
- Evitar demonstrar emoções demais;
- Nunca fazer “coisas de mulher”;
- Ser provedor da família quando adulto;
- Demonstrar heterossexualidade;
- Sempre buscar seduzir mulheres;
- Sempre dar conta de tudo sozinho.
“A consequência disso são meninos que podem apresentar diferentes comportamentos: solidão, agressividade, não expressam suas emoções, poucos amigos e uma grande confusão sobre o que é esperado deles como homens”, acrescenta Guilherme.
Como promover masculinidades sem machismo
Para a psicanalista Patricia Strebinger, alguns caminhos são importantes e imprescindíveis para combater as masculinidades que são prejudiciais à saúde mental dos homens. Mas não só isso, ela propõe ações que contribuam para construir uma sociedade construída no respeito e na empatia.
- Educação de gênero: Introduzir uma educação de gênero que promova a igualdade e a diversidade desde cedo. Por isso, é importante desafiar estereótipos prejudiciais.
- Modelagem de comportamento: Famílias e figuras de autoridade devem modelar comportamentos saudáveis. No entanto, é preciso incluir a expressão emocional e o respeito pelas diferenças.
- Apoio emocional: Criar um ambiente onde os meninos se sintam à vontade para expressar suas emoções e buscar ajuda quando necessário. Assim, fortalece a inteligência emocional.
- Empoderamento: Incentivar os meninos a desenvolverem habilidades e interesses variados, independentemente de estereótipos de gênero. Além disso, eles podem se sentir confiantes em sua identidade única.
- Consciência crítica: Ensinar a capacidade de questionar e desafiar normas e expectativas prejudiciais, mas promovendo uma cultura de respeito e igualdade.
- Acesso a apoio psicológico: Disponibilizar recursos de saúde mental para ajudar os meninos a lidar com pressões e desafios emocionais.
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