Muitos pais ficam na dúvida sobre como abordar a questão da sexualidade ou falar sobre sexo com os filhos. O primeiro ponto é deixar o constrangimento de lado e lidar de forma natural com o assunto. Especialistas afirmam que a educação sexual é a melhor forma de prevenir e enfrentar o abuso sexual de crianças e adolescentes.
Falar sobre corpo e limites é fundamental
Em março deste ano, o periódico Parents realizou uma pesquisa exclusiva, com 1.500 pais americanos e revelou que 70% deles são a favor da implantação de aulas de educação sexual nas escolas, sendo que 3 em cada 4 pais concordam que “a educação sexual abrangente é fundamental para o bem-estar e segurança das crianças”.
Um dos temas mais mencionados na pesquisa foi a preocupação com a violência sexual: 1 em cada 3 dos pais que já haviam conversado com seus filhos sobre sexo incluiu o assédio sexual, abuso ou agressão sexual (36%) na primeira conversa.
No Brasil, o Governo Federal anunciou recentemente a retomada da educação sexual no currículo escolar. Isso significa que alunos do ensino básico voltarão a ter aulas sobre saúde sexual e reprodutiva, incluindo temas como infecções sexualmente transmissíveis. Segundo o Ministério da Saúde, 99% dos municípios já aderiram.
Danielle H. Admoni, psiquiatra geral da Infância e Adolescência, preceptora na residência da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM) e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), orienta que “não devemos falar só sobre educação sexual, mas sobre o corpo, como funciona, onde pode tocar e onde não pode, quem pode mexer e em qual situação. Depende muito da idade da criança e o quanto ela entende”.
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Quando começar a falar sobre sexualidade?
Você deve estar se perguntando: “Quem tem que dar o primeiro passo para que a conversa sobre a sexualidade aconteça?”. O mais recomendado é que os adultos esperem a criança fazer suas perguntas sobre o tema. Cedo ou tarde, isso vai acontecer. Esteja preparado para esse momento.
“É uma pena quando alguns pais ficam envergonhados, vermelhos ou mudam de assunto, como se fosse algo que não pode ser conversado. O papel dos pais é esclarecer as dúvidas que as crianças têm, pois, se elas não esclarecerem em casa, farão isso em outros lugares, muitas vezes piores, como a internet e outras pessoas por aí. Vale entender o que eles têm de dúvida. Às vezes, é muito mais simples e vamos conversando”, pondera Danielle.
Explique apenas o que a criança está pronta para assimilar
Para Dani Fontinele, terapeuta sexual e sexóloga clínica, membro da ABRASEX (Associação Brasileira dos Profissionais de Saúde, Educação e Terapia Sexual), é importante falar com a criança conforme a maturidade e o entendimento que ela tem.
“Responda aquilo que a criança perguntou, sem muitos detalhes. Ao mesmo tempo, é muito importante que os pais ou os adultos responsáveis falem a verdade. Se não vier mais nenhuma pergunta, você sabe que aquilo satisfez a dúvida da criança, se vier, responda”, orienta a especialista em Prevenção de Abuso Sexual Infantil pela Metodologia Claves América Latina e apresentadora do Podcast Clitcast.
Sabemos que é muito comum os pequenos perguntarem: “Como eu fui parar na sua barriga?”. Você não precisa falar que foi a cegonha que colocou uma semente ali, mas pode dizer o seguinte: “‘O papai e a mamãe namoraram. A mamãe tem uma sementinha e o papai colocou a sementinha dele e você foi gerado na barriga da mamãe.’ Não importa como foi colocada essa semente, acabou aí. A resposta vai ser limitada ao que a criança já tem de bagagem“, ressalta Dani.
De acordo com a especialista, o papo sobre o ato sexual só deve ocorrer após os 9 anos, quando a criança já fala e reflete a partir das mudanças e transformações vindas com a adolescência. “Os pais aproveitam a conversa sobre a primeira menstruação ou sobre a mudança de voz para introduzir outros assuntos importantes.”
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Conversas francas e abertas geram sensação de segurança
Não existe uma frase proibida, mas sim uma forma adequada de conversar com a criança, sempre de maneira clara e aberta. “Sabemos que 90% dos casos de assédio ou até de violência sexual contra menores são praticados por pessoas conhecidas. Manter esse diálogo franco mostra para as crianças e os adolescentes que eles têm em quem confiar, que poderão contar e saberão que serão acolhidos e amados”, destaca Dani.
Outro ponto que as especialistas orientam é sempre ensinar o nome correto dos genitais, mesmo que em casa se use apelido. “Importante que a criança saiba o que é vulva ou pênis, porque, em uma situação de assédio, ela saberá descrever onde foi tocada, por exemplo. Assim, na escola ou em outro ambiente, ela será compreendida e um adulto poderá identificar o abuso e ajudar.”
Conversas sobre sexualidade não têm a ver só com sexo
Ainda assim, a sexualidade vai muito além de falar somente sobre sexo. Ela está relacionada a uma conversa ampla sobre o corpo, ao entendimento de que uma pessoa estranha não pode te tocar sem permissão. Passa também por respeito e autoestima, bem como pela compreensão das transformações que vão acontecendo ao longo dos anos, principalmente na puberdade.
A firmeza em relação ao que se pensa e diz sobre a importância de uma vida sexual consciente e segura, somada ao carinho e à sinceridade, é uma grande conselheira dos adultos que estão diante da missão de educar e proteger os filhos para que eles vivenciem os afetos e a sexualidade de maneira saudável e enriquecedora.
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