Que os laços sejam seguros

Os vínculos da infância influenciam nossa forma de nos relacionar, mas não são vereditos. Podemos nos reorientar para criar elos emocionais consistentes

Amanda sonhava com o "felizes para sempre" mas, na convivência, seu conto de fadas se desmanchou. Ela não conseguia criar vínculos seguros. As inseguranças, discussões por bobagens e cobranças descabidas tornaram a relação insustentável.

A raiz estava lá atrás, na infância. "Minha mãe morreu, meu pai se casou de novo e minha madrasta não me tratava com carinho. Eu me sentia de escanteio e parecia não haver lugar para mim naquela casa."

Nossos primeiros vínculos são como um manual de instruções. Se tivemos cuidadores presentes e consistentes, desenvolvemos apego seguro. Conseguimos confiar, lidar com conflitos e estabelecer relações saudáveis.

Mas o que é apego?  O psicólogo e psiquiatra britânico John Bowlby desenvolveu a teoria do apego observando crianças órfãs pós-Segunda Guerra. Ele notou que a separação dos vínculos familiares impactava diretamente no desenvolvimento emocional.

Somos seres com necessidade de vínculos emocionais. Recém-nascidos formam ligações afetivas com quem atende suas necessidades básicas. "Eu preciso de você e sei que você me atenderá. Posso confiar nesse pacto."

A psicóloga Mary Ainsworth, a partir dos estudos de Bowlby, identificou 3 tipos de apego:  • Apego ansioso: pais imprevisíveis geram adultos em alerta constante por sinais de rejeição  • Apego evitante: pais indisponíveis ensinam que intimidade é perigosa  • Apego desorganizado: trauma ou abuso geram oscilação entre querer e temer proximidade

Os vínculos da infância são primordiais, mas não definem o futuro.  É um conjunto de fatores: nossa relação com cuidadores, como interpretamos essas interações, nossos traços de personalidade e temperamentos.

O tipo de apego pode variar. Embora tenhamos um estilo predominante, diferentes relações podem ativar padrões distintos, dependendo da dinâmica e da história com cada pessoa.

Mas como desenvolver vínculos mais saudáveis? Comece com auto-observação. Identifique padrões: "Sempre que meu parceiro demora a responder, fico desesperada." Questione crenças internalizadas.

Desafie pensamentos limitantes. "Ninguém vai ficar comigo." ou "preciso ser perfeito para ser amado." Pratique comunicação assertiva para expressar necessidades sem culpa ou ataques.

Cuidar de uma criança ou adolescente também pode curar feridas antigas. É um lembrete da nossa humanidade, uma força reparadora. "Tenho a possibilidade de me perceber capaz de dar o que não tive."

O futuro é incerto e cada relacionamento é único. Viver não é conto de fadas; é história real que precisa ser escrita e reescrita a cada momento, tecendo laços e afetos com os quais possamos contar.